Publicado 09/04/2024 10:09
Rio - Os confrontos provocados pela guerra entre organizações criminosas em Seropédica, na Baixada Fluminense, acendeu um alerta sobre o medo e a insegurança de alunos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O mais recente, na tarde desta segunda-feira (8), deixou um estudante morto e duas crianças feridas. A instituição decretou luto de três dias e suspendeu as aulas desta terça (9). No entanto, segundo os alunos, a rotina de terror na região não é novidade e nenhuma medida foi tomada para garantir a segurança dos estudantes, funcionários e professores.
Após o anúncio da suspensão de todas as atividades acadêmicas e administrativas presenciais dos turnos diurno e noturno desta terça, alunos da instituição não concordaram com a decisão e alguns sugeriram uma semana de aulas online.
"Há tanta dificuldade assim em manter, a princípio, apenas uma semana de aulas online? Não é sobre cancelar as aulas e atrasar o calendário acadêmico... Um estudante da universidade faleceu, outros tantos estavam no meio do tiroteio... É sobre podermos assistir às aulas na segurança de nossas casas, nesse momento de tamanha violência, e vocês, infelizmente, não nos garantem nenhum suporte de segurança", escreveu uma aluna de Medicina Veterinária.
Uma aluna de História também afirma ter medo de voltar à rotina de aulas. "Vocês serão culpados se qualquer aluno for ferido. Não tomaram medidas, simplesmente nem respeitaram o luto. Acha que a comunidade está bem? Acham que os alunos não estão com medo e pensando “poderia ter sido eu” com sentimento de tristeza por ter perdido um de nós", disse.
Além dos alunos, os pais de estudantes também temem mandar os filhos para a universidade em meio à rotina de violência na região. "O orgulho de ver meu filho fazendo parte desta instituição está se tornando desespero diante de tamanho descaso com a segurança dos seus alunos. Cancelem as aulas presenciais até que as autoridades garantam a segurança de todos! Não precisamos de mais vidas ceifadas. Nossos filhos não são objetos e sim vidas. São milhares de famílias aflitas e impotentes diante desde caos que assola Seropédica. Nós não criamos e confiamos os nossos filhos a uma instituição para que eles virem estatísticas", desabafou a mãe de um aluno.
"Tinha que cancelar as aulas nesta semana toda! Pra nossos filhos voltarem pra casa até que tudo esteja mais "calmo". Estamos apreensivos em saber que nossos filhos estão aí sozinhos e a mercê desta guerra", disse outra mãe.
Bernardo Paraíso, de 24 anos, era estudante de Ciências Biológicas e estava na rua indo à um mercado próximo à universidade quando teve início a troca de tiros entre milicianos. O rapaz foi atingido por um dos disparos e morreu no local. Um bebê de 1 ano, uma menina de 6 anos e mãe das crianças também foram feridos por disparos. O pequeno e a mulher já receberam alta. A criança estava com uma bala alojada na altura da coluna e outro projétil que entrou pelo ombro esquerdo e parou na região do tórax, mas apenas em subcutâneo. Ela segue sendo avaliada pela neurocirurgia e o quadro é de saúde é considerado regular.
Em nota, a UFRRJ informou que vai continuar monitorando a situação e se colocou à disposição para somar-se aos esforços coletivos das entidades representativas da comunidade universitária e da sociedade civil do município de Seropédica, para cobrar das autoridades governamentais a adoção de medidas urgentes para reverter essa situação de extrema vulnerabilidade. A instituição disse, ainda, que vai se reunir com os diretores de Institutos para apresentar à apreciação propostas de medidas em relação ao funcionamento das atividades acadêmicas e demais providências junto às autoridades governamentais. A Rural não disse se as aulas serão retomadas na quarta-feira (10).
Questionada pelo DIA sobre a falta de policiamento no município, a Polícia Militar informou que, desde o início do ano, o 24ºBPM (Queimados) efetuou mais de 200 prisões em sua área de policiamento. A corporação disse que aplica o policiamento nos municípios que compreendem sua região de atuação com setores e subsetores de rádio patrulha, Grupamento de Ações Táticas, bem como motopatrulhas com viaturas baseadas em pontos estratégicos.
Ressaltou, ainda, que o município conta com roteiros de rondas visando prevenir e coibir delitos na região, além do batalhão também empregar policiais militares pelo Regime Adicional de Serviço (RAS). Por fim, a PM disse que a área de policiamento do 24ºBPM (Queimados) apresentou redução de 12,5 % no indicador estratégico letalidade violenta quando comparados os meses de janeiro a fevereiro de 2024 em relação ao mesmo período de 2023.
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