Valter Nery, uma das vítimas do acidente de ônibus na Bahia, foi sepultado no Cemitério de Campo GrandeGabriel Salotti / Agência O Dia
Publicado 13/04/2024 17:24
Rio - Os corpos das vítimas do grave acidente com um ônibus turístico ocorrido em Teixeira de Freitas, na Bahia, que deixou nove mortos e 23 feridos, foram sepultados neste sábado (13) em cemitérios da cidade do Rio. Na Zona Oeste, familiares e amigos do casal Clea da Conceição Faria, de 74 anos, e Valter Nery, de 84, fizeram as últimas homenagens e pediram que o motorista seja responsabilizado durante cerimônia no Cemitério de Campo Grande. Em Sulacap, houve três enterros e em Paciência mais dois.
Clea e Valter foram velados um de frente para o outro. O casal namorava há dois meses e a viagem, com destino a Porto Seguro, era a segunda deles juntos. Durante a cerimônia, os presentes cantaram louvores em homenagem a ambos. 
Para Gerson dos Santos Nery, filho de Valter e genro de Clea, o pai sempre foi um guerreiro e ficou mais próximo dos filhos quando a mãe deles morreu, em abril do ano passado. De acordo com o estudante de Direito, a perda do pai vem sendo dolorosa justamente por conciliar no mesmo mês em que perdeu sua mãe.
"Meu pai sempre foi um guerreiro. Sempre cuidou da gente e deixou um legado para nós como filhos. No final da carreira, ele ficou mais próximo de mim. O que eu tenho de guardar do meu pai são só coisas boas. É doloroso demais porque nesse período de abril do ano passado eu perdi a minha mãe. Neste 13 de abril, eu estava com ela no hospital porque ela passou mal. Hoje, estou aqui enterrando meu pai", lamentou.
Em meio a despedida, familiares demonstraram indignação sobre o que levou ao acidente. Jane dos Santos Nery Vargas, outra filha de Valter, comentou que o pai não queria ir nessa viagem, mas que ele estava feliz por estar junto com Clea. A mulher destacou que o bombeiro militar reformado cuidava sempre da família e se preocupava com o bem estar dos filhos. Conversando com os irmãos, Jane revelou que eles estudam representar criminalmente contra o motorista do ônibus onde o pai estava.
"Meu pai era um homem maravilhoso. Há menos de um ano, eu perdi a minha mãe. Depois disso, meu pai era o único que me ajudava muito. Ele não queria que eu ficasse sozinha. Para mim, está sendo péssimo. Eu ainda não sei nem como vou continuar vivendo. Ele estava ali comigo porque eu tenho um problema de saúde e eu era a filha que ele mais se preocupava. A Dona Cléa era uma pessoa maravilhosa. Uma mulher feliz. Nós estávamos felizes porque eram os dois que estavam juntos. Nós aprovamos e ficamos felizes deles estarem juntos. Eu acredito que foi imprudência mesmo do motorista. Eu acho que ele estava em alta velocidade. Ele falou que vinha um carro na contramão e depois nós vimos que não existiu. Tinha um carro que filmou e ele estava com a velocidade muito alta. Estamos conversando com meus irmãos e estamos vendo de ir na Justiça sim. Sabemos que a vida do meu pai não vai votar mais e a dona Cléa também, mas tudo tem que ter um porquê, tudo tem que ser organizado", comentou.
O bombeiro militar Sérgio Murilo dos Santos, filho de criação de Valter, pediu que as autoridades esclareçam o caso e que o motorista seja punido. O homem, que foi criado pela vítima desde quando era bebê, revelou que estava com um pressentimento ruim com a viagem do pai. 
"Eu cheguei a pressentir. Uma semana antes até falei com meu filho que eu estava com um sentimento estranho. Ele falou que não queria ir e minha irmã até comentou para ele pegar o dinheiro de volta. No dia em que aconteceu o acidente, eu não consegui dormir. O que eu peço das autoridades é que colaborem e punem. É uma fatalidade, a gente aceita, mas ele mentiu e faltou com a verdade. Ele tem que ser punido de alguma forma. Ele e a empresa. Não tem como um motorista profissional fazer o que ele fez. Ele vai mentir e falar que cortaram ele. Ele caiu na valeta, tanto que tombou pela metade. Como motorista profissional ele sabe que é uma estrada escura e tem que andar a 60 km/h até por causa de animais que atravessam a pista. Se é um cavalo ou uma vaca, ele mataria todo mundo. Aquilo ali é inaceitável e inadmissível. A revolta é porque ele mentiu e está faltando com a verdade. Façam uma perícia e venham a punir o motorista e a empresa", disse.
Idosa trazia alegria para todos
Para amigas da idosa Clea Faria, a mulher adorava viajar e influenciava outros membros do grupo da igreja e da ginástica a fazer o mesmo. Segundo os presentes no sepultamento, Clea era uma pessoa que trazia alegria para todos.
"Ela era muito animada e adorava viajar. Ficava cogitando para todo mundo ir. Nós da igreja sempre falávamos que ela era muito feliz e ela falava que só faltava arranjar um namorado, um parceiro. Ela arranjou o namorado e estava em uma fase e momento mais feliz da vida dela", comentou a amiga Andrea Ribeiro.
Também amiga da vítima, Raquel Narciso, de 67 anos, contou que Clea entrou para o grupo de ginástica do Parque Leopoldina, em Bangu, onde morava, em 2017. Do ano até este, a idosa sempre animava as outras pessoas e gostava de confraternizar com o grupo.  

"Nós temos um grupo lá do Parque Leopoldina que é de mulheres de bem com a vida. Ela chegou em 2017 quando ficou viúva. Ela estava com depressão e chorando muito. Daquele dia para cá, ela começou a ser a rainha do nosso grupo porque era uma pessoa muito alegre e feliz. Ela fazia umas empadinhas e levava para a gente. Nós tínhamos oito festas por ano e ela sempre estava com a gente. Há pouco tempo, ela estava mais feliz porque conheceu uma pessoa. Ela morreu na melhor parte da vida dela. É uma pena. Eu estou para conhecer uma pessoa alegre que leve tanta alegria como a Cléa. Estamos dilaceradas. Deus fez o melhor para a vida dela. Será uma perda irreparável. Ela era só alegria", lamentou.
Além de Clea e Valter, outras cinco pessoas foram enterradas neste sábado (13). Doralice da Conceição de Azeredo, Irapuã de Azevedo e Maria José Nicomedes Sinfrônio foram sepultados no Cemitério Jardim da Saudade de Sulacap, também na Zona Oeste. Já o enterro de Glória Regina do Nascimento Cunha e Ronaldo do Espírito Santo de Oliveira aconteceu no Cemitério Jardim da Saudade de Paciência, ainda na Zona Oeste.
Ainda não há informações sobre os sepultamentos de Regina Maura Feitosa e Conceição Maria dos Santos Rangel.
Relembre o acidente
O ônibus, da empresa RM Viagens e Turismo, que estava com 32 passageiros, fazia uma excursão com trajeto do Rio de Janeiro até Porto Seguro quando, por volta das 4h30 da terça-feira (10), bateu em um barranco no km 885 da BR-101, altura da cidade de Teixeira de Freitas, e tombou.
Dezenove dos 23 feridos - que foram levados ao Hospital Municipal de Teixeira de Freitas - receberam alta médica entre a noite de quinta (11) e manhã desta sexta-feira (12). Quatro vítimas seguiam em observação, mas nenhuma delas corre risco de vida.
De acordo com relato do motorista Carlos Alberto Silva, um veículo com farol alto tentou ultrapassar um caminhão e que ele, para evitar uma colisão, tentou desviar. O ônibus foi para o acostamento, derrapou com o eixo dianteiro e tombou. A mesma versão foi apresentada por alguns passageiros, que prestaram depoimento no hospital da cidade.
No entanto, o delegado responsável pelo caso contesta esta versão apresentada com base em um vídeo que teve acesso.

"O vídeo é bem claro. Um pessoa que vinha logo atrás do ônibus, a poucos metros, e apesar da velocidade que desenvolvia ela não conseguia alcançar o ônibus (Nota da Redação: o vídeo registra uma velocidade entre 97km/h e 115km/h do carro que grava a cena). Mais à frente ele passa por uma van, em sentido contrário. E fica bem claro também que no momento que acontece o acidente, o ônibus não vinha passando ou se encontrou com nenhum outro veículo realizando ultrapassagem, como é a versão do motorista. Isso (as imagens) vai para o inquérito policial e vai ser muito importante para esclarecer as circunstâncias do fato", disse Moisés Damasceno em entrevista ao programa BATV, da Rede Bahia.
Em nota, a RM Viagens e Turismo informou que "a causa do acidente ainda não foi esclarecida" e que "se coloca à disposição para fornecer qualquer informação para auxiliar no que for preciso para amenizar os impactos deste acontecimento".
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