Publicado 18/06/2024 14:35
Rio - Passados seis meses do caso de transfobia na saída do Casarão Firmino, na Lapa, Região Central do Rio, o crime segue sem desfecho. No dia 19 de janeiro deste ano, três mulheres, duas delas trans e uma cisgênero, foram espancadas por seguranças do espaço de samba. O inquérito da 5ª DP foi concluído, mas o Ministério Público ainda não ofereceu denúncia e não informou sobre a atualização do caso.
PublicidadeOs autores foram identificados e indiciados inclusive pelo crime de transfobia, informou o delegado Bruno Ciniello, titular da delegacia da Lapa, sem, no entanto, informar quantas pessoas foram indiciadas pelo crime. Em janeiro, onze seguranças foram intimados a depor.
Uma das vítimas, que terá a identidade preservada, afirma que se sente grata por ter sobrevivido. "A vida seguiu. Isso é o mais importante de tudo. Não viramos estatística", ressalta. "Nos primeiros meses foi bem difícil. A gente nunca acreditou que aconteceria com a gente. Foi um processo de muita insegurança de ter medo na rua e nos lugares. Ficamos pelo menos dois meses trancadas em casa", conta.
A vítima acrescenta que, após o episódio, ela e a irmã deixaram de reagir em casos de transfobia velada por medo de reações violentas. "A gente tem evitado qualquer tipo de reação, por exemplo quando usam o pronome no masculino, porque dá um receio de como podem ser as reações aqui no Rio", afirma. Ela ressalta, ainda, conforto por terem sido atendidas pela polícia e pelos advogados que as defenderam no caso.
"O apoio das pessoas que nos defenderam no momento da violência e posteriormente da polícia, dos delegados e dos advogados foi nos reconfortando. Saber que as coisas estavam andando, as pessoas estavam sendo intimadas, que tinha pessoas cuidando da gente. A gente não estava sozinha. Agora, espero que as pessoas sejam presas ou que paguem pela tentativa de homicídio de uma pessoa só por ela ser quem ela é. É isso que esperamos", aponta.
Na madrugada daquela sexta-feira, três mulheres que aproveitaram a noite de samba foram vítimas de chutes e empurrões. Segundo testemunhas, a violência contra as três teve início após a percepção de que seriam pessoas trans, apesar de uma das mulheres ser cisgênero.
Inicialmente, as vítimas relataram terem sido tratadas como suspeitas, mas o inquérito virou e o caso passou a ser investigado como crime de transfobia. Uma testemunha filmou o momento em que seguranças da casa espancaram as mulheres caídas no chão. A partir da divulgação do vídeo, o Casarão Firmino reconheceu o ocorrido, antes tratado pelo espaço como um boato. O dono do espaço, José Carlos Firmino, que estava no interior do estabelecimento durante o crime, afirmou que os seguranças mentiram para ele sobre o espancamento. O Casarão anunciou o afastamento de toda a equipe e mais rigor nas contratações.
O caso teve ampla repercussão em entidades que defendem direitos LGBTs no Rio de Janeiro. Ativistas organizaram um ato que começou na Cinelândia e foi até o local do espancamento para reivindicar o fim da violência contra a população LGBTQIA+ na Lapa.
Na madrugada daquela sexta-feira, três mulheres que aproveitaram a noite de samba foram vítimas de chutes e empurrões. Segundo testemunhas, a violência contra as três teve início após a percepção de que seriam pessoas trans, apesar de uma das mulheres ser cisgênero.
Inicialmente, as vítimas relataram terem sido tratadas como suspeitas, mas o inquérito virou e o caso passou a ser investigado como crime de transfobia. Uma testemunha filmou o momento em que seguranças da casa espancaram as mulheres caídas no chão. A partir da divulgação do vídeo, o Casarão Firmino reconheceu o ocorrido, antes tratado pelo espaço como um boato. O dono do espaço, José Carlos Firmino, que estava no interior do estabelecimento durante o crime, afirmou que os seguranças mentiram para ele sobre o espancamento. O Casarão anunciou o afastamento de toda a equipe e mais rigor nas contratações.
O caso teve ampla repercussão em entidades que defendem direitos LGBTs no Rio de Janeiro. Ativistas organizaram um ato que começou na Cinelândia e foi até o local do espancamento para reivindicar o fim da violência contra a população LGBTQIA+ na Lapa.
Cartilha do samba
Rodas de samba que se apresentam no Centro também se mobilizaram contra a transfobia no samba e produziram uma cartilha de compromisso com os movimentos sociais. Foram estruturadas sete recomendações para que a população LGBTQIAPN+ e outros grupos fiquem seguros e acolhidos nas rodas de samba. "O samba sempre foi um espaço de aquilombamento e resistência mas que também reproduz machismo, racismo, lgbtifobia e outras opressões. Sambar é direito de todas, todos e todes", diz um trecho da cartilha.
Rodas de samba que se apresentam no Centro também se mobilizaram contra a transfobia no samba e produziram uma cartilha de compromisso com os movimentos sociais. Foram estruturadas sete recomendações para que a população LGBTQIAPN+ e outros grupos fiquem seguros e acolhidos nas rodas de samba. "O samba sempre foi um espaço de aquilombamento e resistência mas que também reproduz machismo, racismo, lgbtifobia e outras opressões. Sambar é direito de todas, todos e todes", diz um trecho da cartilha.
As orientações incluem entrada gratuita para pessoas trans, contratação de pessoas LGBTs e formação da equipe para combater situações de preconceito e entender questões de identidade de gênero e orientação sexual.
Dono do Casarão ficou preso
Em maio deste ano, o dono do Casarão do Firmino, José Carlos Firmino Júnior, chegou a ser preso por sete dias em uma operação da Polícia Civil, mas por outro motivo. Ele possuía um mandado de prisão preventiva expedido pela 10ª Vara Criminal da Capital do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco (TJPE) por conta de um crime de receptação de um caminhão roubado e pela venda de peças do veículo. O roubo do veículo aconteceu em 2009 no Recife, capital de Pernambuco. Firmino já havia sido sentenciado pelo crime em um processo de outra comarca e a nova prisão foi considerada irregular.
Em maio deste ano, o dono do Casarão do Firmino, José Carlos Firmino Júnior, chegou a ser preso por sete dias em uma operação da Polícia Civil, mas por outro motivo. Ele possuía um mandado de prisão preventiva expedido pela 10ª Vara Criminal da Capital do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco (TJPE) por conta de um crime de receptação de um caminhão roubado e pela venda de peças do veículo. O roubo do veículo aconteceu em 2009 no Recife, capital de Pernambuco. Firmino já havia sido sentenciado pelo crime em um processo de outra comarca e a nova prisão foi considerada irregular.
O DIA pediu atualização do MP após a conclusão do inquérito pela Polícia Civil do Rio, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
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