Mãe de Edson Davi durante protesto após seis meses do desaparecimentoReginaldo Pimenta
Publicado 04/07/2024 11:27
Rio - Familiares de Edson Davi, de 7 anos, realizaram um novo protesto na praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste, na manhã desta quinta-feira (4). Em busca de respostas, o ato marca seis meses do desaparecimento do menino. Segundo a mãe da criança, Marize Araújo, uma investigação particular concluiu que o filho não entrou no mar. Ela acredita na hipótese de sequestro, enquanto a Polícia Civil mantém a linha de afogamento.
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"Eu não quero mais expressar como sobrevivi até aqui, estou vivendo o luto de um filho vivo, porque é nisso que eu acredito, que meu filho está vivo. Eu quero Justiça! A investigação particular foi concluída esses dias, não teve uma pessoa que viu ele entrar no mar, meu filho foi raptado. Quero ajuda para rever outras possibilidades, que a Civil possa considerar minha investigação particular", disse.
Para descobrir o paradeiro do menino, a mãe chegou a pedir ajuda da Polícia Federal e do Ministério Público para investigar o caso. Segundo a Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), os agentes analisaram imagens de 13 câmeras de segurança localizadas ao redor da orla, em um perímetro de dois quilômetros, e constataram que não há registro de imagens que mostram ele saindo da praia. 

A família, no entanto, reforça que o menino possa ter sido levado por um trecho da praia que não tem câmeras. "Foi desumano o que fizeram comigo, uma mãe que grita desde o primeiro dia, eu sempre afirmando que meu filho foi raptado e nunca me deram ouvidos. A resposta que tive foi o afogamento, sem corpo, sem encontrar uma peça de roupa depois de uma intensa e incansável busca no mar", contou.
Hipótese de sequestro

Durante o protesto, a mãe de Edson reforçou a hipótese de sequestro. Ela afirmou que ao longo das investigações, um turista dos Estados Unidos disse à polícia que teria visto o menino entrar no mar, mas que ao ser questionado por ela, negou.

"Eu conversei com ele, fiquei mais de uma hora na ligação e ele disse que não viu meu filho entrar no mar, mas que não se atentou na hora de assinar o depoimento e que tem pânico de delegacia. Ele disse que viu meu filho ir e voltar na beira, duas ou três vezes correndo, que era o que ele fazia mesmo, molhar os pés e voltar. Mas disse que agora não tem o que fazer, pois ele está nos EUA e que se for fazer ao contrário vai se complicar com a polícia. Agora se ele vai se acovardar de se complicar, eu não posso, porque é meu filho, e ele não pode negar o que falou para mim", explicou.

Marize contou também que espera uma investigação justa, já que ainda há muitas perguntas em aberto. "Meu filho brincou com os argentinos, mas ele não levou bola. Eles brincaram ao lado da minha barraca, 10 minutos depois meu filho foi atraído para o lado cego, ponto morto da praia, que tava sem imagens. Depois os argentinos chegaram no hotel sem a bola, meu filho não levou bola, de quem era a bola? Onde foi parar? São tantas perguntas", relatou.

O casal de argentinos prestou depoimento e foi liberado. Eles não são investigados como suspeitos. No entanto, Marize apontou outra suspeita, uma mulher que estaria disfarçada na praia.

"Ela estava de bermudão preto, uma blusa toda coberta, um chapéu cobrindo o rosto, de óculos preto, onde só aparecia praticamente a boca, era mais um disfarce. Ela conversou com meu filho às 15h e pouca, chamou ele para beira d'água, ele balançou a cabeça e disse que não ia. Uma testemunha que tirou uma foto dessa mulher mandou para a delegacia, mas essa foto nunca foi mostrada para a sociedade, foi ocultada, eu pedi para investigar essa mulher, mas eles não a localizaram", disse.

Emocionada, a mãe do menino voltou a reforçar que assim como não viram o Edson sair da praia, também não viram ele entrar na água.

"Eles alegam que meu filho se afogou porque não viram meu filho sair da praia, mas e a bola? Se afogou com meu filho? As imagens estão presas na delegacia, mas eu consegui ver com o Ministério Público que cerca de 400 metros da praia estão sem imagens, a câmera do hotel dos argentinos estava virada para carga e descarga. Só na praia são 7 escadas de ponto morto para onde meu filho foi atraído. Além disso, a testemunha que viu a mulher de preto não pode ser ouvida. Ele estava à beira d’água, mas não entrou", complementou.

Por fim, Marize comentou que os dias sem o filho têm sido angustiantes. "Quero saber o que aconteceu com ele, a gente sabe que existe tráfico de criança, porque só afogamento? Eu sofro muito, eu fico esperando o dia de Deus me levar ou encontrar ele, estou só ocupando lugar na terra, minha vida se acabou, aquela criança é o filho mais amável que eu tenho. Ele dizia todo dia que me amava, um dia antes ele disse eu era a melhor mãe do mundo", lamentou.
Investigação particular

A investigação particular descartou qualquer hipótese de afogamento. Edson Davi desapareceu próximo à barraca onde seus pais trabalham no dia 4 de janeiro, na altura do posto 4 na Praia da Barra da Tijuca.
Com o relatório em mãos, Marize procurou o advogado João Tancredo, que entrou com uma petição para juntar o documento no inquérito policial em trâmite na delegacia, a fim de que as novas testemunhas sejam ouvidas.

"O que nós esperamos da autoridade policial é que ela não encerre um inquérito sem antes exaurir todas as provas, ouvir as testemunhas, realizar perícia, porque isso de fato pode ser prematuro. Se você escolhe uma linha de investigação abandonando as outras, a chance de cometer erros é muito grande. Não é possível realizar uma investigação sem que se analise todas as hipóteses. E a hipótese do Davi ter desaparecido, ter sido levado por alguém é uma hipótese bem forte. As testemunhas ouvidas dizem isso", disse Tancredo.

Ainda segundo o advogado, a família busca descobrir o que aconteceu. "O que esperamos é que a polícia esgote as provas existentes e especialmente as realizadas pela investigação privada que se levou a efeito. Para que então chegue a uma conclusão para chegar à verdade real sobre esse fato", explicou.

O investigador Raul Ábacus, que produziu o relatório, informou que todas as pessoas que estava presentes no dia do desaparecimento não viram o menino entrar no mar. Ao todo, foram 32 dias de buscas dos bombeiros, usando mergulhadores, drone, helicóptero, motos aquáticas, apoio de embarcações e busca marítima superficial 24 horas pelos guarda vidas do Posto 04, não tendo sido encontrado nenhum corpo.

"Em nosso trabalho foram ouvidas 17 pessoas, analisados vídeos e fotos apresentados pela família e boletim dos bombeiros. Todas as pessoas com quem conversamos e que conhecem o menino afirmam categoricamente que Davi tinha medo do mar e que por este motivo não gostava de entrar na água e que mesmo quando acompanhado de adulto não se permitia mergulhar. Se alguém afirmar que Davi se afogou, deverá apresentar novos fatos e evidências, pois não há nada que aponte neste sentido", explicou.
Por fim, Raul Ábacus reforçou que as investigações da Polícia Civil devem continuar.
O que diz a Polícia Civil?
Procurada, a Polícia Civil explicou que as imagens em posse da especializada, em que a investigação particular não teve acesso, mostram o menino na barraca do pai logo após a partida de futebol. Não há registro que mostrem ele saindo da praia.
Além disso, o órgão informou que diversas linhas de investigação foram consideradas e sete denúncias foram apuradas, inclusive, em outros estados do país – São Paulo, Mato Grosso do Sul e Ceará. "Essas diligências fora do Rio de Janeiro contaram com o apoio da Polícia Federal, que foi informada desde o início da investigação. Em todos os casos, ficou comprovado não se tratar do menino", disse em nota.
Ao todo, 21 pessoas prestaram depoimento. Entre os fatos narrados, testemunhas afirmam que o menino foi visto entrando no mar por três vezes, que ele teria pedido uma prancha emprestada para entrar na água e que um homem que trabalha com o pai dele afirmou que teria pedido para o menino sair da água, tendo em vista as condições do mar.
"Importante reforçar que nem todos os corpos de afogados são localizados. Entre 2020 e 2024, foram registrados em delegacias 44 desaparecimentos de pessoas nas águas do estado do Rio de Janeiro, e os corpos de 15 delas não foram localizados, ou seja, 34% do total, segundo levantamento da DDPA. Nos autos, consta um laudo pericial que aponta que a decomposição de corpos de crianças no mar ocorre mais rápido do que de adultos, dadas as características do corpo, como maior presença de cartilagens. Todos os fatos apurados apontam para a hipótese de afogamento, não havendo qualquer indício de crime", finalizou em comunicado.
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