’Minha vida acabou, estou definhando, eu não tenho mais como viver’, lamentou a mãe de Edson DaviCleber Mendes/Agência O Dia

Rio - Uma manifestação na Praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, marcou um mês do desaparecimento de Edson Davi Silva de Almeida, de 6 anos. Familiares e amigos da criança se concentraram na altura do Posto 4, onde ele foi visto pela última vez, em 4 de janeiro, e pediram mais rigor nas investigações do caso. A principal linha de investigação é de que o menino tenha se afogado, mas os parentes acreditam que ele foi sequestrado.
No calçadão, os manifestantes exibiram cartazes com fotos do menino, pedindo respostas para o desaparecimento e incentivaram motoristas a buzinarem em apoio ao ato. Já no mar, equipes do Corpo de Bombeiros continuam com as buscas pela criança, com apoio de motos-aquáticas e helicóptero. A mãe de Edson Davi, Marize Araújo, fez um desabafo sobre os momentos de angústia que passou no último mês.
"Como vou esperar meu filho desaparecer no local que ele foi criado, que ele sempre se sentiu seguro? Como eu ia imaginar que meu filho ia desaparecer sem ninguém ter visto? Não julguem, me ajudem, porque eu daria tudo para não estar passando por essa situação. Nenhum pai queria estar passando pelo que eu estou passando, então, a luta não é só minha, é nossa. Ele desapareceu sem ninguém ter visto, meu filho foi levado. Pode acontecer com qualquer um". 
Durante o ato, Marize voltou a afirmar que não acredita no afogamento, já que o filho, segundo ela, teria medo do mar e costumava apenas molhar os pés na água. A mãe relatou também que o menino não teria se perdido, já que está acostumado a frequentar a Praia da Barra, por conta da barraca que os pais têm no local, e conhecia clientes e barraqueiros da região.
"Meu filho foi criado aqui nessa praia, trabalhando junto comigo, estava acostumado, conhecia todos, o Davi nunca se perdeu aqui, nunca passou episódio de se afogar, nenhuma vez. Davi tem trauma de água, só molhava os pezinhos e corria, quando queria molhar o corpinho, ele se deitava no alto da areia e esperava a água bater e corria (...) Como ele desapareceu sem ninguém ver e tentam encerrar esse inquérito como afogamento? Não dá para dormir com essa resposta. Eu não vou parar enquanto não souber o que aconteceu com meu filho, não dá para parar", lamentou Marize. 
Leniel Borel, que já havia comparecido à outras manifestações pelo desaparecimento, também esteve presente no protesto deste domingo. Ele é pai de Henry Borel, de 4 anos, que morreu em março de 2021, no apartamento em que morava com a mãe, Monique Medeiros, e o padrasto, o ex-vereador e ex-médico Jairo Souza Santos Júnior, o Jairinho. Eles estão presos e são réus por homicídio duplamente qualificado. Ao lado de Marize, ele pediu que a Polícia Civil analise mais imagens de prédios e hotéis da região, antes que as investigações sejam concluídas. 
"Cadê as imagens do (hotel) Wyndham? Cadê as imagens desses prédios aqui? A Polícia Civil, ao invés de falar que o menino foi para o mar e consertando informação de uma forma muito parcial, tem que fazer o seu papel. Vai falar para essa mãe que não viu o corpo do filho dela, apenas que o filho foi para o mar? Se esse menino desapareceu, cada minuto importa. Nós não estamos dizendo que essa é a única versão, mas essa versão tem que ser investigada. Cadê as imagens? Mostra essas imagens para essa mãe que pede todo dia, ela já foi na delegacia pedir as imagens e ninguém mostra". 
A mãe da criança ainda pediu que mais testemunhas sejam ouvidas no inquérito, entre elas uma família que teria visto Edson Davi conversar com uma mulher pouco antes de sumir. "Ouçam essa mãe, ela só está pedindo o mínimo, que investigue. Não se limitem, coração de mãe não erra, o coração dessa mãe fala que esse menino não foi para o mar, então, não tentem fechar o inquérito policial ou limitar a investigação", declarou Leniel. Muito abalada, Marize disse que não vai desistir de lutar, enquanto não tiver respostas sobre o paradeiro do menino. 
"Minha vida acabou, estou definhando, eu não tenho mais como viver, eu preciso de uma resposta. É uma criança inocente de 6 anos, que precisa voltar para sua família. Se coloquem no meu lugar, se eu não lutar pela vida do meu filho, pelo que aconteceu com ele, quem é que vai lutar? Estou aqui para pedir ajuda, me ajudem a encontrar o meu filho, eu quero o meu filho de volta. É uma criança de 6 anos, obediente, estudioso, amoroso, todos os clientes gostavam do meu filho. Ninguém viu afogamento, não tem corpo. Meu filho está em algum lugar, com alguém. Eu preciso encontrar meu filho, tenham misericórdia de mim, da minha dor". 
O que se sabe até agora do paradeiro
Nos últimos 30 dias, a Polícia Civil vem analisando diversas pistas e buscando imagens para identificar o passo a passo feito por Edson Davi até o seu desaparecimento. De acordo com a delegada Elen Souto, responsável pelas investigações e titular da Delegacia de Descobertas de Paradeiros (DDPA), foram analisadas 13 câmeras em um perímetro de dois quilômetros. Após análise, foi constatado que o menino não saiu da praia.
A família do menino, por sua vez, acredita que há uma câmera na orla que poderia ter registrado a movimentação, mas que estava fora de serviço no dia do fato. No último dia 30, um novo vídeo deu esperanças para a família do menino. As imagens mostram Edson Davi na barraca dos pais com o cabelo seco, minutos antes do seu desaparecimento ser notado.
A gravação foi realizada por um funcionário da barraca e seria de um momento posterior ao dos vídeos que mostram a criança próximo ao mar. Para Edson dos Santos Almeida, pai do menino, as imagens são uma pista de que havia muitas pessoas na praia naquele momento e que se o menino fosse visto entrando no mar, a família teria sido avisada. Segundo a família, a filmagem é de 16h46. Às 17h, ele não foi mais visto.
"Por volta das 17h, eu senti a falta dele. Aí minha mulher ligou. Pedi para um funcionário meu ir até a margem ver se achava ele e fiquei desesperado. Foi perto de um hotel onde tinha muito movimento de criança e não o vi. Subi do lado do quiosque, depois fui a um estacionamento onde todos o conheciam, procurei no calçado de um em um", disse Edson.
Bombeiros não viram Edson Davi entrar na água
Os militares do Corpo de Bombeiros que trabalhavam no dia do desaparecimento de Edson Davi e estavam afastados por questões psiquiátricas, disseram em depoimento, no último dia 29, que não viram o menino entrar na água.
Segundo a delegada Elen Souto, os bombeiros afirmaram que o mar estava agitado e que havia uma vala bem em frente à barraca da família. Os salva-vidas também destacaram que três bandeiras vermelhas estavam afixadas e que não viram a criança entrar na água. "Os bombeiros não viram nada, mas narraram que o mar estava agitado", contou.
Menino chegou a ser confundido com outra criança durante buscas
Dois dias depois do desaparecimento, os parentes de Edson Davi receberam a informação de que a criança estaria em uma loja da rede McDonald's, na Avenida Ayrton Serra, também na Barra da Tijuca, com um casal e outro menino. Por meio de uma foto enviada a eles, o pai da criança afirmou ao DIA que se tratava do filho e, junto com a mãe, chegou a comemorar na areia da praia. No início da tarde, por volta de 12h40, os familiares se dirigiram para um posto de gasolina na via e, posteriormente, à lanchonete. No entanto, ao chegarem no estabelecimento, Edson Davi não estava no local.
A criança que aparece na foto ao lado do casal e da outra criança no McDonald's, não é o desaparecido. Após a repercussão das imagens, a família compareceu ontem à 43ª DP (Guaratiba) para esclarecer que o menino foi confundido com Edson Davi. Em um vídeo publicado nas redes sociais, a mulher diz que se trata do seu enteado, filho do seu marido, que tem características físicas semelhantes. "Recebemos uma denúncia de um menino no McDonald's que poderia ser o Edson Davi, infelizmente não era ele. Pedimos desculpas à família que foi exposta, não tivemos a intenção de prejudicá-los", disse Giovana.
O Programa Desaparecidos divulgou um cartaz que pede ajuda para localizar a criança. O Disque Denúncia recebe informações pela Central de Atendimento, nos telefones (21) 2253-1177 ou 0300-253-1177; pelo WhatsApp Anonimizado, no (21) 2253-1177; pelo WhatsApp dos Desaparecidos, no (21) 98849-6254; e por meio do aplicativo Disque Denúncia RJ. O anonimato é garantido.