Orquestra faz uma série de apresentações na China durante turnêDivulgação
Publicado 25/08/2024 13:17
Rio - A Orquestra Maré do Amanhã (OMA) está em uma turnê inédita, desde a segunda-feira passada (19), na China, em celebração aos 50 anos de amizade e relações comerciais entre o país e o Brasil.

No início deste ano, o grupo embarcou rumo à Europa, com direito a apresentação para o Papa Francisco.

O projeto social, criado no Complexo da Maré há 14 anos, oferece aos alunos o ensino de música clássica e já foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio em 2023.
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Entre os mais de 4 mil jovens e crianças atendidas, 17 músicos foram selecionados para representar o Brasil em diversas apresentações que percorrem o país asiático ao longo de 10 dias.

Além de concertos para algumas das autoridades locais, o grupo se apresenta em palcos importantes e também nas ruas de algumas das cidades visitadas, para que todos possam ter acesso a um pouquinho da música brasileira.
Para a violista Andressa Lelis, que é integrante do projeto desde 2019, estar em turnê na China é uma oportunidade de conhecer novas histórias.

"Está sendo bem interessante conhecer esse lugar tão bonito e cheio de histórias. Eu gosto de ver os costumes locais, de perguntar sobre o modo de vida deles, e também, acho muito legal tentar aprender algumas palavras em chinês", assumiu.

Ela também afirmou estar honrada pela oportunidade de poder mostrar sua cultura para pessoas de outros países e com vivências diferentes.

"É uma honra ter essa oportunidade. Recebo perguntas sobre como nós vivemos na comunidade e sempre tento explicar da melhor maneira, dando a entender que, apesar da criminalidade, existem muitas coisas e pessoas boas na Maré. É muito bom saber que, ao fazer essas viagens e ter contato com pessoas do exterior, eu posso representar, nem que seja um pouco, o lugar de onde vim, o meu país", disse.

Na sexta-feira (23), a OMA compartilhou nas redes sociais a apresentação realizada na Grande Muralha da China, que fez parte da série de concertos da turnê.

O grupo ainda foi convidado para tocar na Biblioteca Nacional Chinesa na próxima terça (27), com a presença do embaixador e todos os membros da embaixada brasileira na China.

Um segundo grupo, composto por 19 músicos e 11 coralistas vão fazer uma apresentação em solo brasileiro, junto de profissionais da empresa State Grid Brazil Holding, uma das maiores empresas chinesas em atividade no Brasil.

Para o fundador e diretor da OMA, Carlos Eduardo Prazeres, esse é um sonho se tornando realidade.

“Nossos alunos não só apresentarão a cultura brasileira para o exterior, como também aprenderão muito durante essa experiência em um dos países mais importantes do mundo atualmente. Ter jovens da favela representando o Brasil nesse intercâmbio cultural é muito simbólico”.
Moradora da Maré, a flautista Maria Eduarda Silva da Paz Santos, de 20 anos, está há 5 no projeto e dita a viagem como "uma experiência única.

"É muito importante para uma visibilidade positiva da nossa cultura. Principalmente quando estamos falando de um país que é tão distante e diferente do nosso, onde as pessoas não fazem ideia do quão incrível é o Brasil, seus costumes e como a nossa energia contagia", contou.

A musicista ainda se surpreendeu ao perceber que chineses não só conhecem um pouco da cultura brasileira como também sonham em visitar o Brasil.

"Eu acredito que muitos ainda não conhecem muito a nossa cultura, porém, ao trocar ideia com alguns chineses, percebi que os que conhecem, admiram muito a nossa cultura. Muitos deles sonham em visitar o Brasil, e os que já visitaram, elogiam muito e torcem para voltar".

A OMA

Criada em 2010 por Carlos Eduardo Prazeres, a Orquestra Maré do Amanhã nasceu da vontade de transformar a comunidade após uma tragédia pessoal. Em 1999, seu pai, o Maestro Armando Prazeres, foi sequestrado e assassinado por criminosos oriundos da Maré.

Motivado a transformar sua dor em esperança, deu vida à OMA, fazendo do chão onde o artista teve os sonhos interrompidos um palco para o surgimento de outros tantos.

De lá para cá, o projeto que começou de forma reduzida, porém confiante, com apenas 26 alunos, já alcançou mais de 4 mil estudantes pelo Complexo, atendendo a todas as crianças matriculadas na região. Além disso, inaugurou um segundo núcleo no Pará.
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