Publicado 24/09/2024 21:58
Rio - Alunos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) realizaram, na noite desta terça-feira (24), um ato contra as ações violentas que ocorreram durante a desocupação de prédios da universidade, após a Justiça do Rio autorizar o uso de força policial. O ponto de encontro dos estudantes aconteceu no Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), em Vila Isabel, na Zona Norte. De lá, os presentes seguiram para o campus Maracanã, na mesma região.
PublicidadeSegundo o movimento estudantil que ocupou a universidade por cerca de dois meses, a manifestação é um repúdio à política de repressão e criminalização da luta estudantil. Na última sexta-feira (20), houve uma confusão entre agentes do Batalhão de Polícia de Choque (BPCHq) e alunos. Três estudantes e o deputado federal Glauber Braga (Psol) foram detidos.
"A Uerj foi palco de um ataque brutal e criminoso. A mando da reitoria, a Tropa de Choque invadiu nosso campus, promovendo um espetáculo de violência: agressões, tiros de borracha, bombas, cassetetes e spray de pimenta. Estudantes foram caçados pelas ruas de Vila Isabel. Este ato é um repúdio à política de repressão e criminalização da luta estudantil, orquestrada pela reitoria e pelos poderes que tentam sufocar a democracia e a liberdade dentro da universidade. Fora Gulnar! Fora Deusdara! Não aceitamos mais essa aliança entre a reitoria e a violência estatal!", disse o movimento.
Durante a manifestação, os universitários usaram cartazes com as frases “A Uerj é do povo" e "Um tiro no estudante de baixa renda", referindo-se aos cortes nos benefícios e auxílios. De acordo com o Centro de Operações Rio (COR), a Boulevard 28 de Setembro foi interditado parcialmente devido à passagem dos estudantes. O trecho foi liberado por volta das 20h30.
O Comando de Greve realizará uma assembleia geral dos estudantes, na noite desta quarta-feira (25), na Concha Acústica Marielle Franco, para debater os últimos acontecimentos e os próximos passos das ações.
Retorno das aulas
A reabertura da universidade, ocorrida na manhã desta terça-feira (24), teve reforço nos trabalhos de limpeza no campus do Maracanã, na Zona Norte. As aulas de todos os cursos e demais atividades administrativas foram retomadas após dois meses de ocupação.
Durante a manhã, foram encontrados no espaço alguns móveis revirados, além de pichações nas paredes, portas e vidros. Funcionários trabalharam para remover a sujeira. Segundo a instituição, o pavilhão João Lyra Filho ficou com diversas marcas de depredação.
"Houve ainda violação a diferentes computadores com a retirada de Discos Rígidos (HDs) – que continham informações pessoais importantes e dados de pesquisa. A Uerj comunicou que abriu sindicância para apurar os responsáveis pelos prejuízos e pelo sumiço dos HDs”, explicou a reitoria.
De acordo com o movimento estudantil, o cenário de destruição não é culpa dos estudantes, mas sim da violência policial.
"O Centro Acadêmico de Filosofia (Cafil) foi invadido e destruído pela polícia, repetindo a mesma prática violenta que a PM usa nas favelas, onde reviram casas e deixam rastros de destruição. Esse cenário de desordem e caos não se limita ao Cafil, mas se espalhou por toda a universidade. Diversos espaços acadêmicos foram revirados e deixados em ruínas pela ação truculenta da PM e do Choque. A violência policial foi sentida em cada canto da Uerj, trazendo à tona uma realidade de repressão e autoritarismo que não podemos ignorar. Todos os computadores foram inventariados e trancados na sala do vice-reitor, sem qualquer dano causado pelos estudantes. O cenário de destruição que a reitoria tenta impor não é a nossa realidade, mas sim o resultado direto da violência policial", destacou o movimento nas redes sociais.
Ação de desocupação
Na última sexta-feira (20), policiais militares atuaram no campus Maracanã para desocupar a universidade e retirar os alunos do espaço. A ação aconteceu sob ordem judicial. Durante o ato, houve uma confusão entre os agentes e alunos. Um PM ficou ferido durante ao manejar uma artefato explosivo. Três estudantes e o deputado federal Glauber Braga (Psol) foram detidos.
Segundo relatos de manifestantes, os policiais utilizaram bombas de efeito moral para tentar entrar na instituição. Em meio ao clima de tensão, alguns comércios na Boulevard 28 de Setembro decidiram fechar as portas por precaução.
Vídeos que circularam nas redes sociais mostraram cenas de muita correria, fumaça e viaturas da Polícia Militar no local. Em protesto à ação, estudantes chegaram a incendiar pneus na Avenida Rei Pelé, impendido a circulação na via.
O deputado e os alunos foram levados para a Cidade da Polícia, sendo liberados por volta das 22h do mesmo dia. De acordo com a Polícia Civil, os quatro foram ouvidos na condição de testemunhas. A 18ª DP (Praça da Bandeira) investiga o descumprimento da decisão judicial.
A determinação judicial para a desocupação total do campus saiu na última terça-feira (17) depois que uma audiência de conciliação entre os alunos e representantes da Uerj terminou sem acordo. As partes buscavam uma resolução para a questão da mudança nos critérios das bolsas de estudo, mas, segundo a instituição de ensino superior pública, estudantes "mais radicalizados" teriam interrompido as conversas com o uso de instrumentos de percussão.
Desde julho, os alunos manifestam contra as mudanças para a obtenção de bolsas e auxílios da assistência estudantil, prevista no Ato Executivo de Decisão Administrativa (Aeda 038/2024). A normativa traz a revisão da renda mínima necessária para que os alunos possam receber a Bolsa Apoio à Vulnerabilidade Social (Bavs), que destina R$ 706 por mês, tendo duração de dois anos. Antes, para obter o benefício, era necessária a declaração de um salário mínimo e meio, agora, somente meio salário.
Entre as outras mudanças estão a substituição do auxílio alimentação por refeição gratuita no bandejão para os cotistas. Além disso, foi reduzido pela metade o auxílio ao material didático, que era pago duas vezes ao ano, a cada semestre, no valor de R$ 1,2 mil.
De acordo com relatos de estudantes, cerca de 5 mil alunos vão perder os benefícios após a mudança. Eles denunciam, também, atrasos nos pagamentos. Segundo os manifestantes, as propostas da atual reitoria, antes de ser eleita, era de manter os benefícios. A Uerj afirma que 2,8 mil estudantes estão enquadrados para receber o benefício.
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