Rafaela Martins de Araújo era engenheira civilArquivo pessoal
Publicado 17/10/2024 20:04 | Atualizado 17/10/2024 20:41
Macaé – Exatos 10 dias após o acidente que tirou a vida da engenheira civil Rafaela Martins de Araújo, de 27 anos, em uma obra da Petrobras em Macaé, no Norte Fluminense, a família se vê entre diferentes sentimentos, como tristeza e frustração. O primeiro, claro, pela perda, e o segundo, pela postura da estatal e da terceirizada MJ2 Engenharia, que segundo Ismael de Araújo, pai da jovem, não têm dado o suporte esperado.
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Em entrevista ao DIA, Ismael relatou que desde 7 de outubro, data da tragédia – quando Rafaela teria sido atropelada por um rolo compressor, segundo hipótese levantada pelo Sindicato de Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) –, somente nesta quarta (16), Petrobras e MJ2 fizeram um primeiro contato com ele e Andreia Martins, mãe da vítima.
Ele conta que os departamentos de assistência social de ambas as empresas procuraram a família somente por meio de ligações e mensagens e lamenta: “Estão distantes, principalmente a Petrobras, que é uma gigante. A MJ foi mais próxima, mas poderia ter dado mais assistência”.
Sobre o Sindipetro-NF, Ismael afirma que o procuraram para garantir que estão acompanhando as investigações e retornarão assim que houver o resultado da perícia.
A propósito, outro sentimento que toma a família é a angústia, muito por conta da falta de explicações sobre a tragédia: “Nos sentimos à deriva porque não tivemos nenhuma resposta sobre o que ocasionou o acidente. Nós perdemos uma filha, né?”, reforça Ismael, sem descartar recorrer a uma medida judicial: “Queremos justiça para que isso não aconteça novamente, e outra família sofra o que estamos sofrendo. Vamos atrás de justiça até o fim”.
Respostas
A reportagem também procurou as empresas citadas pelo pai de Rafaela. Por nota, a Petrobras assegura que mantém contato permanente com a família da engenheira por meio do esposo dela, Milton, que trabalha como coordenador da MJ2. A estatal menciona também que, no dia do acidente, seus profissionais de saúde (médico, assistente social, psicólogo e enfermeiro) ofereceram suporte, presencialmente, a Milton, que estava no local da ocorrência.
A empresa acrescenta ainda que acompanhou o processo de translado e sepultamento do corpo – que ficaram a cargo da MJ2 – e tem disponibilizado suporte social e psicológico aos profissionais que atuam na unidade onde se deu a tragédia.
Já a MJ2 garante que sempre teve contato com família. A terceirizada diz não compreender o porquê das acusações de distanciamento, mas entende o momento de dor dos familiares, que podem estar se expressando “de uma forma que parece algo diferente do fato”.
A Polícia Civil divulgou que agentes da 123ª DP (Macaé) ouvirão testemunhas e realizam outras diligências para esclarecer os fatos.
Rafaela, ao lado do pai Ismael, no casamento do qual foi madrinha às vésperas do acidente - Arquivo pessoal
Rafaela, ao lado do pai Ismael, no casamento do qual foi madrinha às vésperas do acidenteArquivo pessoal
Mensagens pouco antes da tragédia
Natural de Suzano (SP), onde ocorreu o velório, Rafaela era formada em engenharia civil havia cinco anos, mesmo período praticamente em que trabalhava como coordenadora na MJ2 Engenharia, emprego que a fez se mudar para Macaé.
Como a família ficou no interior paulista, o vai e vem da engenheira entre os dois municípios era praticamente mensal. Inclusive, dois dias antes do acidente, ela esteve na cidade natal: “No sábado (5), ela veio porque era madrinha em um casamento. Estava linda, uma alegria só, como sempre. No domingo (6), retornou a Macaé e, como de costume, me mandou mensagem perto das 23h para dizer que havia chegado bem”, recorda Ismael.
Ele relembra ainda um papo com a jovem momentos antes do acidente: “Mandei mensagem dizendo ‘bom dia. Deus abençoe sua semana’. Ela respondeu pedindo as fotos do casamento que eu tinha tirado no meu celular. Isso foi às 7h40. Às 10h, recebi a notícia. Estamos sem chão, vivendo um pesadelo, arrasados pela maneira como foi. Os dias não são mais os mesmos”.
Mas apesar da tristeza, o pai busca forças para encerrar a entrevista com as boas lembranças da filha: “A Rafa era maravilhosa, uma filha ímpar. Tinha um coração gigante, era generosa e humilde. Aonde chegava, era só alegria. E amava o Rio e viajar, principalmente para os Estados Unidos, para onde tinha ido algumas vezes”.
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