Família de Renato Oliveira, baleado em um ônibus, estiveram no Hospital Federal de BonsucessoRenan Areias / Agência O Dia
Publicado 24/10/2024 16:29
Rio - Um passageiro de um ônibus, um motorista de aplicativo e um motorista de caminhão estão entre as vítimas fatais dos intenso tiroteio entre policiais militares e criminosos, ocorridos nesta quinta-feira (24), durante uma operação no Complexo de Israel, na Zona Norte. Ao todo, três pessoas morreram e outras três ficaram feridas. A intensa troca de tiros chegou a interditar a Avenida Brasil.
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Vítimas fatais
- Renato Oliveira, de 48 anos: o homem estava dentro de um ônibus da Transportadora Tinguá, que fazia a linha 493 (Ponto Chic x Central), quando acabou atingido por um tiro na cabeça. De acordo com um amigo da vítima, eles vinham de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para trabalhar no Rio, quando o coletivo em que estavam foi atingido por disparos e Renato baleado.
"Não deu tempo de chegar no emprego (...) Nunca passei por isso. A bala veio dentro do ônibus, vieram metralhando. Foi muito tiro, mesmo, só Jesus", lamentou Adonias dos Santos, 39.
Imagens obtidas pelo O DIA mostram o homem desacordado em um dos bancos do coletivo.
Confira o vídeo:
Renato foi socorrido em estado grave e encaminhado ao Hospital Federal de Bonsucesso, onde passou por cirurgia. Ele estava sendo assistido pela equipe clínica e cirúrgica, inclusive de neurocirurgia, mas não resistiu.
Familiares estiveram na unidade, mas não falaram com a imprensa. Não há informações sobre o enterro.
- Paulo Roberto de Souza, de 60 anos: o motorista de aplicativo chegou sem vida no Hospital Municipal Doutor Moacyr Rodrigues do Carmo, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, com uma perfuração no crânio. De acordo com Júlio Santos da Costa, amigo da vítima, o homem estava com um passageiro em seu carro quando foi atingido. Paulo deixou filhos, netos e a mulher.
"A bala entrou por trás do carro e pegou infelizmente na cabeça dele. O passageiro socorreu, ajudou e veio até aqui junto com o policial. Infelizmente, ele veio a óbito. Sai cedo para trabalhar e acontece isso. Era uma pessoa honesta e trabalhadora. Tinha uma amizade com ele há muitos anos. O Rio está isso aí, esse tiroteio constante em uma guerra. Agora é procurar de onde veio essa bala e prender os marginais", disse Júlio.
O corpo chegou no Instituto Médico Legal (IML) de Duque de Caxias, na tarde desta quinta-feira (24). Familiares estiveram no local, mas não quiseram falar com a imprensa. Ainda não há informações sobre seu sepultamento.
- Geneilson Eustaque Ribeiro, de 49 anos: o motorista de caminhão também deu entrada no Hospital Municipal Doutor Moacyr do Carmo, em Duque de Caxias, depois de ser baleado na cabeça durante o confronto. A vítima foi entubada e transferida para o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, na mesma cidade, mas não resistiu. 
De acordo com a prefeitura, ele foi encaminhado diretamente ao centro cirúrgico para procedimento de craniectomia descompressiva, mas devido a gravidade do ferimento, Geneilson morreu.
Pessoas baleadas:
- Alayde dos Santos Mendes, de 24 anos: a jovem foi atingida na coxa direita, socorrida e encaminhada ao Hospital Municipal Doutor Moacyr Rodrigues do Carmo. Segundo a prefeitura, sua lesão era superficial e ela já recebeu alta.
- Um homem, que não teve a identidade revelada, está internado no Hospital Federal de Bonsucesso com quadro estável após ser baleado na região glútea.
- Um outro homem, que também sem identificação, foi atingido no antebraço e já recebeu alta.
Operação fecha Avenida Brasil e afeta transportes, escolas e saúde
A troca de tiros teve início nas primeiras horas da manhã, durante uma operação do 16º BPM (Olaria) para coibir roubos de veículos e cargas no Complexo de Israel. Não houve registro de prisões ou apreensões na região. Por volta das 7h, a Avenida Brasil precisou ser interditada, na altura da Cidade Alta, e seguiu com interdições intermitentes, até ser liberada, por volta das 9h40. Segundo o Centro de Operações Rio (COR), o Rio chegou a entrar em Estágio 2 às 8h35, quando há risco de ocorrência de alto impacto.
O tiroteio provocou impactos na operação de trens do ramal Saracuruna e cinco estações chegaram a ficar fechadas. Também foram afetadas 35 linhas de ônibus municipais e três serviços do corredor Transbrasil do BRT. A circulação começou a ser normalizada por volta das 10h. Além disso, 16 escolas da rede municipal e uma da rede estadual foram fechadas na Cidade Alta, Vigário Geral, Parada de Lucas, Cinco Bocas e Pica-Pau. Dois Centros Municipais de Saúde e uma Clínica da Família da região suspenderam as atividades.
Em entrevista coletiva, a porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Claudia Moraes, disse que a corporação não tinha dados de inteligência para enfrentar a reação violenta dos criminosos no Complexo de Israel, na manhã desta quinta-feira (24). De acordo com a porta-voz, os policiais encontraram um cenário que não havia sido visto anteriormente pelas forças de segurança do estado.
"Essa operação foi previamente organizada e o que os policiais encontraram naquela localidade, naquele momento, foi algo que estava acima do que normalmente nós encontrávamos nessa região. É uma área onde você não tem essa resistência tão forte, então a gente não tinha dados de inteligência para sinalizar para essa questão", disse a tenente-coronel.
A corporação diz que traficantes do Complexo de Israel, ao perceberem o avanço das tropas da PM, fizeram disparos em direção à Avenida Brasil na tentativa de mudar o foco da operação.
"Nessa entrada da Polícia Militar, houve um forte confronto por parte desses marginais e, em um momento de reação, eles resolveram atirar na direção das vias, vindo a vitimar pessoas inocentes que não tinham qualquer relação com aquilo que estava acontecendo, levando caos e pânico. Mais uma tentativa que eles fazem para desviar o foco".
A porta-voz da PM disse que a polícia também analisa se a reação violenta do grupo pode sinalizar que as tropas armadas chegaram próximo de algum chefe da localidade, ou de um ponto estratégico do bando.
Durante a incursão dos PMs na localidade, uma viatura do BPVE foi alvejada por cerca de 20 tiros. Após o fim da ação, a porta-voz disse que não se poderia falar em erro da corporação.
"A gente não pode falar que foi um erro, foi uma operação da Polícia Militar necessária por conta de todas essas realidades que a gente enfrenta no Rio de Janeiro [...] Estávamos em um cenário onde tivemos uma viatura do BVPE alvejada com mais de 20 tiros. Tivemos a reação desses criminosos atirando contra vias de grande circulação e vindo atingir pessoas no momento do transporte. Quando analisamos o contexto, a primeira decisão operacional, e ela é esperada, é que faça o recuo estratégico para a maior prioridade que é restabelecer a segurança das pessoas", pontuou a tenente.
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