Arrastão na Avenida Pastor Martin Luther King Jr, Zona Norte do Rio, nesta sexta-feira (1º)Reprodução/Redes sociais
Publicado 03/11/2024 12:41
Rio - Com 25 km de extensão, a Avenida Pastor Luther King Júnior, que liga Del Castilho à Pavuna, na Zona Norte, tem sido palco de uma série de arrastões que causam pânico a motoristas e pedestres que passam pela região. Ao DIA, especialistas explicam fatores que levam à reincidência dos crimes no mesmo local e possíveis soluções para o aumento da segurança pública.

Cercada por mais de 10 comunidades e uma das principais vias para bairros como Colégio, Irajá, Coelho Neto, Vicente de Carvalho, Thomaz Coelho, Engenho da Rainha e Inhaúma, a região também dá acesso a diversas estações da linha 2 do metrô.

No trajeto, ficam as sedes da 44ª DP (Inhaúma) e do 41º BPM (Irajá), além de locais como o Shopping Nova América e o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla. A via, sempre muito movimentada, também é cortada pela Avenida Brasil.

Por conta do alto fluxo de veículos, a região costuma registrar trânsito intenso, momento em que bandidos armados aproveitam para roubar carros ou assaltar passageiros.

De acordo com o professor de sociologia da Universidade Federal Fluminense, Rodrigo Monteiro, a ação da criminalidade ocorre em meio à uma percepção de oportunidades e à experiência desses atores nos seus territórios. Ou seja, se os bandidos notarem oportunidades, vão agir.

Para Monteiro, os arrastões recorrentes e sem respostas efetivas por parte das polícias trazem um efeito muito perverso nos moradores e frequentadores do local.

"Essas ações constrangem a socialização na vizinhança, inibe o comércio local e produz uma sensação de abandono e descaso, como se fossem cidadãos de segunda categoria, condenados a viver na lógica do medo e da insegurança", disse.

O professor reforçou ainda que o histórico de insegurança na região não é novo, mas a atual situação revela uma ausência de ação policial em duas frentes: Inteligência e repressão. "Cabe perguntar: O que pretendem as forças de segurança ao não promoverem condições de segurança em certas áreas da cidade?", questionou.

Já o especialista em segurança pública e presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina (Inscrim), José Ricardo Bandeira, citou outros vários fatores que podem influenciar a escolha repetida dos mesmos locais para a prática dos crimes, como:

- Vulnerabilidade: Esses pontos podem oferecer aos bandidos maior facilidade para abordagem das vítimas, seja por conta de congestionamentos, falta de iluminação ou pouca presença policial.
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- Rotas de fuga: As vias adjacentes podem oferecer aos criminosos rotas de fuga rápidas e eficientes, dificultando a perseguição.
- Conhecimento da área: Os bandidos provavelmente conhecem bem a região, sabendo dos horários de pico, dos locais com maior fluxo de veículos e das possíveis reações das vítimas.
- Sucesso anterior: Se os arrastões em determinado ponto foram bem-sucedidos, é provável que os criminosos voltem a agir no mesmo local, buscando repetir o feito.

Dentre as medidas para melhorar a segurança, o especialista esclarece que o aumento da segurança na região exige um conjunto de medidas integradas:

- Presença policial: Aumento do policiamento ostensivo e preventivo, com rondas constantes e abordagens a suspeitos.
- Iluminação: Melhoria da iluminação pública, especialmente nos pontos mais críticos e nas vias de acesso.
- Monitoramento: Instalação de câmeras de segurança e sistemas de monitoramento em tempo real.
- Inteligência policial: Investigação aprofundada para identificar e prender os responsáveis pelos crimes, além de desmantelar as quadrilhas.
- Participação da comunidade: Criação de conselhos comunitários e programas de segurança pública que envolvam a população local.
- Transporte público: Melhoria do transporte público, com mais linhas e horários, para reduzir a quantidade de pessoas nas ruas durante os horários de pico.
- Prevenção social: Investimento em programas sociais que ofereçam oportunidades de emprego e educação para jovens, reduzindo assim a vulnerabilidade social e a criminalidade.

Bandeira acredita ainda na necessidade de combate ao crime organizado. "Os altos índices de violência e criminalidade na cidade do Rio de Janeiro se devem principalmente à falta de um planejamento e implementação de uma política de segurança pública que seja capaz de combater as organizações criminosas que dominam territórios, praticando e financiando toda espécie de crimes", disse.

Procurada para comentar o caso, a Polícia Civil informou que as diligências estão em andamento para identificar e localizar os envolvidos e que trabalha de forma integrada com as demais forças de segurança do estado para combater a prática deste tipo de delito.
Já a Polícia Militar informou que os comandos dos 41º BPM (Irajá) e 3º BPM (Méier) reforçaram o policiamento em toda região.
Casos recorrentes

Dentre os casos na via, um deles foi registrado na tarde da última sexta-feira (1º). Na ocasião, uma câmera de segurança de um dos carros que foi assaltado flagrou a ação dos bandidos. Nas imagens é possível ver pelo menos cinco criminosos correndo em direção aos veículos, com armas em punho. Um deles tenta esconder o rosto usando uma camisa. O bando agiu com violência e chegou a arrastar motoristas e passageiros para fora dos carros. Em outro momento do vídeo, um dos assaltantes apontou a arma para o carro que estava filmando e disse: "vou matar, vou matar!".

Segundo a Polícia Militar, após serem acionados, o comando do 41º BPM (Irajá) direcionou reforço ao local, porém nada foi constatado até o momento. Já à noite, policiais do 3º BPM (Méier) foram acionados para verificar outro roubo na Avenida Automóvel Clube, altura de Inhaúma, próximo a Martin Luther King. No local, os militares encontraram uma vítima e a encaminharam à delegacia da região para registro do fato. O policiamento foi intensificado na região a fim de localizar os criminosos.
No último dia 21 de outubro, motoristas foram vítimas de um outro arrastão, também no início da tarde, mas em Inhaúma, sentido Irajá. Na ocasião, era o segundo caso em menos de 24h e o terceiro registrado no mês.
No dia 20, assaltos foram realizados na altura da estação de metrô do Engenho da Rainha, no sentido do Shopping Nova América, segundo relatos nas redes sociais. Vídeos do momento mostram motoristas assustados, andando de ré com seus veículos ao perceberem os roubos no local.
Já no dia 18, a avenida foi alvo de outro arrastão, que causou pânico entre os condutores que estavam no local. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram alguns condutores abandonando seus carros e fugindo a pé, provocando uma intensa correria.
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