Uma mensagem que chega contendo um link suspeito, dados que vazam na internet de um dia para o outro, ofertas com descontos imperdíveis. Basta apenas um clique para que criminosos tenham acesso aos dados privados de usuários da internet. Cada vez mais frequentes, mais de 1,9 milhão de estelionatos foram registrados em 2023, o que equivale a um golpe a cada 16 segundos, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O número passou por um aumento de 8,2% em relação ao ano anterior.
Além das armadilhas usuais, novas ameaças continuam surgindo em sistemas de dispositivos que antes pareciam impenetráveis. No início de fevereiro, pesquisadores da empresa russa Kaspersky, referência na produção de softwares, encontraram pela primeira vez no sistema iOS, usado no iPhone, um vírus capaz de ler imagens do celular. O SparkCat, como foi chamado, consegue roubar os dados e senhas de aplicativos, a partir da leitura de capturas de tela armazenadas nas galerias dos smartphones.
Essas ameaças invisíveis se espalham por sites e mensagens que parecem inofensivas, tornando qualquer pessoa uma possível vítima, inclusive figuras públicas. A atriz Mel Maia, de 20 anos, revelou recentemente que foi vigiada por hackers através das câmeras de sua casa, no Rio de Janeiro. O acesso foi possível após sua mãe, Débora Maia, ter a conta invadida, permitindo que a pessoa comprometesse o sistema e espionasse a residência da artista.
O caso levanta a questão para a falta de segurança na internet, uma vez que o país é o segundo mais atacado por hackers no mundo, como mostrou um relatório de Inteligência de Ameaças da NetScout, especialista em soluções de cibersegurança. E esse ambiente propício para invasões também tem facilitado a explosão de golpes digitais.
‘O crime também se digitalizou’ Dados do Fórum de Segurança Pública de 2024 mostram que houve um aumento em 360% dos golpes virtuais desde 2018. Para o especialista em Tecnologia e Inovação Arthur Igreja, esse cenário é explicado pela digitalização dos hábitos.
“Hoje, tudo acontece on-line. Segundo, passamos a ter muita transação de dinheiro, pix. Os golpistas desenvolvem novas técnicas, acessam mais pessoas. Tem muito a ver com isso, com a digitalização, com o fluxo financeiro ser on-line, o crescimento das redes sociais, de aplicativo de mensagem como o WhatsApp. O crime também se digitalizou”, explica.
Sem alvo definido, os golpes digitais, às vezes, deixam apenas os rastros de prejuízo às vítimas. Morador do Rio, o engenheiro civil Sidnei Pilatti, de 29 anos, relatou que seu nome foi usado para emitir um cartão de crédito que chegou a ter um gasto de mais de 2 mil reais.
“Fui locar um equipamento para iniciar uma obra e ao consultarem meu CPF para ver possíveis débitos, encontraram meu nome no Serasa, constando uma dívida junto ao banco”, contou. “Eu sabia que eles não tinham permissão para sujar o meu nome, então após tentar resolver o problema junto ao banco e não conseguir, busquei um advogado”, disse.
Todo cuidado é pouco Para se manter protegido no ambiente digital, é necessário estar atento: “Tem que ter sistema atualizado, senhas robustas, biometria, todos os cuidados básicos”, orienta Igreja. “É preciso partir do pressuposto que isso pode acontecer a qualquer momento”.
No entanto, caso aconteça um golpe, a vítima deve procurar uma delegacia de polícia próxima. “É primordial registrar boletim de ocorrência. Tem que verificar o tamanho do prejuízo, checar nas agências bancárias que tem conta, se foi feita uma dívida, um empréstimo, financiamento. O usuário tem que buscar respaldo para realizar o bloqueio”, alerta.
Embora os golpes aconteçam a qualquer momento, a falta de conhecimento pode ser um fator que aumente a vulnerabilidade dos usuários, de acordo com Arthur Igreja. “Normalmente, cair em um golpe é um deslize. Se receber uma oferta, busque o site, o perfil oficial. A pessoa recebe um link que tem um encurtador e é uma loja falsa.”
Rastreabilidade Ainda segundo Arthur Igreja, as brechas na legislação tornam os golpes viáveis. “Há muitos anos atrás, era possível comprar um chip de celular sem fazer cadastro. Isso abriu uma porta para os celulares em prisão, para uma série de práticas de golpe”, afirma.
Nesse sentido, o especialista destaca que a falta de leis mais atualizadas cria um ambiente propício para que ocorram os crimes digitais. “A partir da hora que é preciso apresentar CPF ou CNPJ, passa a existir uma certa rastreabilidade do que está sendo feito. A legislação deveria estar mais atenta a esse aspecto”, aponta.
O meio de defesa mais recente para a segurança dos dados no Brasil é a Lei de Proteção de Dados (LGPD), lei 13.709/18, que foi colocada em vigor em 2020. A norma surgiu para proteger a privacidade e os dados pessoais dos indivíduos no país, estabelecendo regras para coleta, tratamento, armazenamento e compartilhamento de dados pessoais, como CPF, RG, e-mail, entre outros.
* Matéria da estagiária Luana Neves, sob a supervisão de Ana Carla Gomes
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