Estudantes da Uerj se mobilizaram para protestar e defender alunaDivulgação
A mãe, Tamires Silvério, de 30 anos, explicou à reportagem de O DIA que levar seu filho para a faculdade já é algo corriqueiro e combinado com os professores que, inclusive, diz ela, são muito flexíveis em relação ao assunto. Porém, foi impedida de continuar em sala.
"Eu engravidei no ano retrasado, fui para a faculdade grávida e quando acabou minha licença eu retornei no semestre passado. Desde então ele tem ido comigo em todas as aulas. Ele é uma criança super tranquila e inclusive é elogiado por professores. Porém, na quarta (2), eu entrei em sala e era a primeira vez que eu assistia a aula desta professora. Ela começou a ministrar a aula e meu filho começou a andar, mas sem fazer barulho. Até que em um dado momento a professora reclamou que ele estava muito agitado. Logo depois eu percebi que gerou um incômodo eu saí com ele da sala por alguns minutos, voltei e dei um carrinho pra ele brincar. Alguns minutos depois o brinquedo foi até à frente da sala, ele buscou e retornou para perto de mim. Foi aí que a professora pediu para eu me retirar", disse Tamires.
"Na hora eu fiquei em estado de choque, só peguei meu filho e saí da sala. Eu não acreditei que eu estava ouvindo aquilo, ele não estava fazendo nada. Eu me retirei, fiquei sentada no hall, tentando processar o que estava acontecendo. Logo depois uma colega de sala veio até mim e disse para eu retornar para a aula. Quando eu voltei eu senti que a professora me olhou de forma diferente, então novamente juntei minhas coisas e saí", completou.
Após o caso ocorrer, alguns alunos do curso de serviço social se manifestaram ainda em sala de aula contra a professora. No ato eles se aglomeraram em frente à porta da sala pedindo explicações para a profissional, que alegou que Tamires e o filho poderiam voltar quando quisessem.
"As pessoas da minha sala, quando viram que eu fui embora, se reuniram com outros alunos e começaram um protesto pacífico na porta da sala. A professora então começou a filmar os alunos e disse que tinha pedido para eu sair para acalmar meu filho, mas que eu poderia voltar. Logo depois a professora pediu para sair da sala e aí os alunos abriram um corredor para ela. A Uerj até agora não se manifestou, não fez nada", explicou a mãe constrangida.
Mesmo alguns dias após o ocorrido, a mãe se sente constrangida ao falar sobre o assunto. Tamires relata que ainda está abalada com a situação, pois para uma mãe levar o filho até a faculdade já são muitos obstáculos criados.
"Eu fiquei tão desnorteada com a situação, o sentimento que eu tive com aquilo ali que aconteceu foi totalmente de desamparo e de que aquele lugar não era meu. Eu tenho a vontade de me tornar mestre dentro do serviço social um dia, e no momento que eu sofri aquilo ali, eu entendi que não é meu, que como se isso não fosse para mim. Porque se eu levo uma criança comigo é porque existe uma necessidade, eu não levo meu filho para um ambiente desses por lazer”, concluiu Tamires.
A aluna registrou o caso no Departamento de Fundamentos Teóricos Práticos do Serviço Social (DTPS), que pediu para que os demais alunos presentes durante o ocorrido procurassem a ouvidoria para prestar seus relatos.
Protesto marcado na Uerj
O Coletivo Mães da Uerj, que presta auxílio a quem precisa levar seus filhos para a universidade, publicou uma nota nas redes sociais e marcou um protesto para a próxima quarta-feira (9) no campus.
"Isso não é um caso isolado, é um reflexo do descaso com as mães estudantes. Uma professora do curso de Serviço Social expulsou uma aluna da sala por estar com seu bebê. Um curso que deveria formar profissionais para defender direitos está, na prática, violando-os.
Mesmo sendo lei que a universidade deve oferecer um espaço infantil, essa estrutura simplesmente não existe. E quem paga por essa omissão? As mães, que diariamente enfrentam olhares de reprovação, constrangimentos e expulsões disfarçadas.
Mas não vamos mais aceitar. Não vamos mais nos calar. Vamos expor, vamos ocupar, vamos gritar até que entendam: nunca mais farão isso impunemente", informa a nota.
O episódio não reflete os valores e os encaminhamentos que construímos na Uerj. A atual gestão tem trabalhado numa ação conjunta de diferentes departamentos para garantir a inclusão e o apoio às mães estudantes, como, por exemplo, com a criação de espaços adequados para amamentação e cuidado de crianças.
A partir da criação da Superintendência de Equidade Étnico-racial e de Gênero (Supeerg), a Reitoria se comprometeu em consolidar políticas institucionais que reconheçam questões étnico-raciais, de gênero, de diversidade sexual, e das maternidades e infâncias, como centrais para o desenvolvimento de uma Universidade cada vez mais inclusiva, democrática e segura para todas as pessoas."
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