Rio - Uma megaoperação cumpriu cinco mandados de prisão contra uma quadrilha especializada em furtos de cabos subterrâneos de concessionárias de serviços públicos, nesta quinta-feira (24). A ação foi realizada pela Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), com apoio da Polícia Civil do Paraná. Os agentes também cumpriram 46 mandados de busca e apreensão nas casas de alvos, em sete ferros-velhos e metalúrgicas do Rio e São Paulo. Outras duas pessoas foram presas em flagrante.
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Os cinco mandados de prisão preventiva foram cumpridos contra integrantes da organização criminosa, inclusive da cúpula, e houve bloqueio de até R$ 200 milhões em contas bancárias e ativos financeiros, além do sequestro e indisponibilidade de bens e imóveis, como uma mansão em Angra dos Reis, na Costa Verde, barcos, lanchas, jet-skis e cavalos de raça. A Polícia Civil não informou os locais de busca e apreensão, mas moradores relataram intenso confronto no Morro do Andaraí e no Fallet Fogueteiro, ambos na Zona Norte, onde equipes atuam.
Por conta da tensão na região, a Secretaria Municipal de Educação informou que na comunidade do Fallet, duas unidades escolares foram impactadas, e no Morro do Fogueteiro, duas escolas foram afetadas. Além disso, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, duas unidades, entre clínicas da família e centros municipais de saúde, suspenderam as atividades externas, como as visitas domiciliares.
Em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, as equipes encontram mais de 200 toneladas de cobre, que equivalem cerca de R$ 10 milhões, no depósito de uma recicladora, segundo o secretário de Estado de Polícia Civil, Felipe Curi. Confira abaixo. O material será periciado junto com as concessanárias, para identificar a qual empresa pertence e dar continuidade das investigações. Os agentes também apreenderam, pelo menos, três carros, uma motocicleta.
Polícia encontra cabos furtados em depósito de metalúrgica em Campo Grande durante operação
A ação deu início à segunda fase da Operação Caminhos do Cobre, que começou em 2022, para combater furtos de cabos e outros materiais metálicos, receptação qualificada e lavagem de dinheiro. O trabalho revelou uma cadeia estruturada de escoamento dos bens furtados, que levou ao rastreamento da receptação em ferros-velhos. As investigações resultaram na denúncia de 22 integrantes do grupo.
Os agentes descobriram que o esquema é baseado no furto de cabos de telecomunicações e energia elétrica, com recolhimento do material por empresas de reciclagem ligadas aos próprios líderes da organização e lavagem dos lucros ilícitos por meio de transações bancárias fracionadas, compra de veículos de luxo, emissão de notas fiscais falsas e simulação de contratos com empresas reais.
Segundo a DRF, a quadrilha atuava realizando fraude documental, disfarce operacional e contava com vigilância armada. Os furtos ocorriam durante a madrugada, com batedores ligados ao tráfico de drogas armados em motocicletas, garantindo a fuga e proteção dos envolvidos. Os criminosos amarravam os cabos a caminhões, puxando-os com força, causando danos estruturais severos às estações subterrâneas.
Os cabos eram então transportados para galpões e ferros-velhos em Queimados, na Baixada Fluminense, no Morro do Fallet, no Rio Comprido, Zona Norte, e no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana. Todos os estabelecimentos eram dos líderes da organização, em territórios dominados por facções criminosas. O grupo dividia o percentual do faturamento com os traficantes locais, garantindo a proteção do território.
Ainda de acordo com a especializada, nos depósitos os cabos eram decapados, fracionados e queimados para eliminar vestígios de origem e revendidos a ferros-velhos e metalúrgicas no Rio de Janeiro e, principalmente, em São Paulo, com apoio de intermediadores. Parte dos pagamentos era feita com veículos de luxo e outra era lavada por empresas ligadas ao núcleo de comando, nos ramos de alimentos e comunicação, com emissão de notas fiscais falsas, anúncios e propaganda de clientes fictícios.
"Esses furtos eram acima de uma tonelada de fios de cobre e o produto disso tudo era maquiado através da pulverezição de valores em empresas vinculadas aos alvos principais, muita delas de fachada, aproveitando da especificidade desse líder que tem formação em jornalismo e abriu duas empresas de publicidade e jornalismo que produziam anúncios e propagandas que não existiam, como forma de fundamentar recursos que entravam nessas contas", explicou o delegado titular da DRF, Jeferson Ferreira, em coletiva na Cidade da Polícia.
'Organização criminosa extremamente estruturada', diz delegado
As investigações apontaram ainda que o líder do grupo era o elo com o tráfico do Fallet e atuava como contador da facção, controlando repasses, fluxo financeiro e lavagem de dinheiro por empresas reais. Ele foi preso pela Polícia Civil do Paraná, por também ser a ligação entre fornecedores de drogas paranaenses e traficantes do Rio. A mulher dele assumiu a liderança após a prisão, comandando pagamentos, lavagem, contratos simulados e gerenciamento de empresas.
"O alvo principal de hoje surge em uma investigação de 2024, que mirou uma organização criminosa atuante no Oeste do estado do Paraná, responsável pelo envio de grandes quantidades de drogas para vários estados, um deles o Rio de Janeiro, que recebia grandes remessas de drogas, em especial na comunidade do Fallet e o Comando Vermelho utilizava desse agente financeiro para fazer pagamentos para traficantes, utilizando pessoas físicas e jurídicas", explicou o delegado Victor Loureiro, da Divisão de Narcóticos da Polícia Civil do Paraná.
Ainde segundo Loureiro, a partir dessas investigações, os agentes descobriram que ele era líder do esquema envolvendo fios de cobre, que levaram à operação da DRF do Rio. "A gente pôde delinear uma organização criminosa extremamente estruturada, que tinha um núcleo de comando que era exercido pelo Ricardo e pela Cinara, que são marido e mulher, e proprietários de duas empresas de reciclagem, que serviam para dar aparência de legalidade nas ações deles", explicou o delegado Jefferson Ferreira, titular da DRF.
"Eles se utilizavam de ordens de serviços, de uniformes que aparentavam ser de concessionárias de serviços públicos e empresas terceirizadas, para realizar a subtração de fios subterrâneos sem nenhum tipo de problema de fiscalização. Ainda aproveitavam dessa aparecência de legalidade para fazer investidas em órgãos públicos para angariar contratos de venda e extração desse material", continuou.
Um outro núcleo era composto por laranjas que eram funcionários da empresa, entre eles a mãe de Ricardo, alvo de busca e apreensão e denunciada, além de um gerente operacional e administrativo, que está entro os presos na ação, responsável por captar pessoas com anotações criminais por furto e receptação, que tinham conhecimento em retiradas ou conhecimento como eletricista para cometer os crimes.
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