Fernando e Mônica Guimarães, pais de Herus, no programa EncontroReprodução/TV Globo
Em entrevista ao Encontro, da TV Globo, o casal apareceu visivelmente abalado enquanto relatava os momentos de terror vividos durante o tiroteio.
"Eu não consegui dormir, eu não consigo comer, eu vi tudo, eu pedi tanto pra salvarem meu filho… Era só eles deixarem a gente levar, mas eles arrastaram o corpo do meu filho escada abaixo, ele estava todo machucado. Eu vi meu filho com um tiro de fuzil que atravessou o corpo dele, meu filho não teve chance, ele (policial) botou a grade e não deixou ninguém passar", disse a mãe, aos prantos.
Já o pai frisou que o filho era trabalhador e não tinha nenhum envolvimento com o tráfico. "Meu filho não era vigia, como foi taxado. Nós estávamos próximo à casa da minha sogra, que mora na localidade onde acontecia a festa junina, minha esposa viu os policiais saindo de um acesso que tem lateral a uma vila e nesse momento, ela só me puxou e nós entramos para dentro da casa da minha sogra, uma casa de quarto e sala, onde foram abrigadas mais de 40 pessoas”, contou.
O casal acrescentou ainda que a festa junina era visível. "No alto da comunidade, onde eles passavam, eles tinham a visibilidade de que estava acontecendo uma festa junina", afirmou o pai.
"Por onde eles entraram, de onde começaram a partir os tiros, eles deram de frente com a quadrilha em formação para entrar, com roupas extremamente brilhosas, não tinha como não ver, não tinha como não ver a quantidade de crianças que tinha", acrescentou a mãe.
"Existem duas dores que nenhuma mãe tem que passar na vida, uma é a dor de receber de um médico que seu filho não sobreviveu, a segunda é quando a gente tá no cemitério, com o filho coberto por flores e no final, ele sendo guardado para descansar. Essa é a segunda pior dor que existe na vida. Então, hoje, eu preciso pedir uma salva de palmas para essa mulher, porque vocês não tem ideia do que ela passa para sobreviver, a minha esposa tem pressão alta, o coração dela só funciona com 50%, ela sobrevive diariamente. Ela é uma mulher incrível, a mulher mais corajosa que existe na face da terra nesse momento", desabafou.
Herus saía de uma padaria quando foi alvejado.
Segundo a mãe, ele estava animado para assistir a apresentação da quadrilha durante o evento e foi baleado logo após comprar um lanche.
No momento em que foi atingido, Herus estava de roupa preta. "Meu filho estava de casaco preto porque estava frio, garoando de chuva, mas a gente ia ver a quadrilha. Ele estava com casaco dele e o policial viu ele passando e saiu atirando", lamentou.
Mônica contou que entrou em desespero quando ouviu os tiros e não conseguiu falar com o filho. "O telefone dele só tocava, as mensagens chegavam e ele não me respondia. O Herus nunca deixou de me responder, e eu já sabia que tinha acontecido alguma coisa. Eu comecei a percorrer a comunidade atrás do meu filho, porque ele não estava mais em visão, eles tinham arrastado o corpo do meu filho para outro lugar, se ele estivesse onde foi alvejado, eu teria visto ele. A casa da minha mãe é dentro da quadra onde ocorreu a festa", disse.
De acordo com Fernando, Herus já chegou sem vida ao Hospital Glória D'or após ter sido socorrido por amigos.
"Como taxaram ele de vigia, colocaram uma grade para ninguém chegar perto, um amigo dele e outro rapaz que conseguiram furar esse bloqueio e carregar o corpo do meu filho. Eu, Fernando, vi meu filho sendo carregado por um amigo e um integrante da quadrilha, que colocaram ele no carro e levaram para o hospital mais perto que tinha. Graças a Deus e a empresa que eu trabalho, o plano de saúde dele cobria todo processo, mas infelizmente, ele já chegou ao hospital sem vida, a bala atingiu uma veia femoral, o médico disse que conseguiram ressuscitar meu filho mas não conseguiram mais mantê-lo vivo”, acrescentou.
Pai e filho trabalhavam na mesma empresa. "Ele estava muito feliz de ter entrado nesta empresa, meu filho era muito amado, bem cuidado, estava em um emprego bom, que tinha tantos direitos pra ele, e é difícil no estado que vivemos conseguir um emprego bom, que reconheça um funcionário. Tanto que eles ajudaram muito a gente nesse momento, ele estava feliz porque ia conseguir tudo pro filho dele e tiraram isso do meu filho", relatou a mãe.
Por fim, Mônica reforçou que não quer vingança, mas Justiça. Herus deixa um filho de apenas dois anos, que tem sido a fonte de força da família para seguir em frente. "Herus significa amor, meu filho era só amor, então a Justiça do meu filho vai ser através do amor e ajuda”, disse.
Sobre o neto, o casal afirmou que ainda não sabe como contar sobre a morte do pai. "Esse menino é o que tá fazendo hoje a gente colar cada pedacinho do nosso coração, porque ele é a semente do nosso filho. Quando o pai saía para comprar pão, ele sempre procurava o pai. Como vai ser agora? Quando meu neto chegar em casa e ele não encontrar mais o pai?", lamentou Fernando.
"A gente vai criar junto com a mãe dele, ele vai para minha casa todo final de semana, como que vou falar para ele onde tá o Herus? Eu não quero uma nota do governador, a sua nota não me ajuda, não faz minha dor passar, não vai trazer meu filho para casa. Eu só quero Justiça, porque quando eu quis ajudar, o policial só debochava", finalizou.

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