Tainá de PaulaDivulgação

25 de abril de 2024 marca os 40 anos de uma das maiores frustrações democráticas do Brasil, que abalou a campanha pelas Diretas Já!

Eu era pequena e acabei crescendo para virar arquiteta, urbanista e política no Rio de Janeiro. Mas era um bebê durante os acontecimentos e não lembro exatamente deles. Ainda assim, tenho memória dessa história da luta popular, pelo direito de votar para Presidente da República, que tinha sido interrompido pela Ditadura Militar no Golpe de 1964.

Algumas das minhas memórias da campanha pelas Diretas Já! estão ligadas aos cartazes, que permaneceram nas ruas e muros da cidade. Um deles deve fazer parte do arcabouço mental de imagens de todos os brasileiros e brasileiras que viveram os anos 1980.

Diretas Já! entrou para a história do Brasil como um grande esforço de organização política e popular, exigindo maior participação democrática. A campanha apoiava uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) visando restabelecer as eleições diretas para Presidência da República, e foi frustrada num pleito conservador da Câmara dos Deputados justamente no dia 25 de abril de 1984.

O texto da PEC foi apresentado em 2 de março de 1983 pelo então deputado estadual Dante de Oliveira (PMDB-MG). Treze meses depois, e apesar da adesão popular e dos 80% de aprovação das brasileiras e brasileiros adquiridos no entretempo, a PEC não foi aprovada pelos deputados, sequer passando pelo Senado. Foram 298 votos a favor e 65 contra, e 113 ausências e 3 abstenções que ficaram no caminho da aprovação.

No pouco mais de um ano entre a apresentação da PEC e esse balde de água fria, o movimento se fortaleceu. A campanha que uniu o povo a líderes políticos, intelectuais e ativistas por eleições diretas, se alastrou pelo Brasil, canalizando a força do desejo pela participação popular.

Para isso, foram feitos grandes comícios. O primeiro aconteceu em São Paulo, em novembro de 1983, em ato promovido pelo PT, junto com PMDB, PDT e entidades da sociedade civil. 23 desses aconteceram pelo País. Outra memória forte de quem viveu esse tempo é da paraense Fafá de Belém cantando o hino nacional, depois soltando uma pomba branca do palco, num gesto que se tornou símbolo do movimento. Por insistência de Lula, Fafá participou de todos os comícios da campanha, e ela foi sem cobrar cachê.

No Rio de Janeiro, o slogan “Eu quero votar para presidente” estampava cartazes, bottons, camisetas, faixas, bonés… Aqui houve muita articulação, e um comício que levou 1,1 milhão de pessoas para os arredores da Igreja da Candelária, no Centro, de onde escutaram as falas de gente como Leonel Brizola, o Cacique Juruna, e o nosso Lula, sempre ele.

Na noite da votação na Câmara – há exatos quarenta anos – a participação popular nessa conversa era tanta que a população se manifestou fazendo um “barulhaço” em defesa de eleições diretas. Mas, infelizmente, por apenas 22 votos, amargamos uma derrota democrática.

Ainda assim, a campanha Diretas Já!, não se desarticulou por completo. Em detrimento de Ulysses Guimarães e Paulo Maluf, Tancredo Neves acabou sendo escolhido pelo colégio eleitoral, em eleição indireta, para ser o primeiro presidente não militar em 21 anos. Mas Neves foi a óbito, não chegando a governar, e quem assumiu foi seu então vice, José Sarney.

Foi apenas em 1989 que o Brasil voltou a votar para Presidente da República. E Lula estava lá, sem medo de ser feliz. Mas essa é outra história, que eu lembro melhor ainda, e conto outra hora. Orgulho ser do PT, que ontem, hoje e sempre luta pela democracia no Brasil.

*Tainá de Paula é arquiteta, urbanista e ativista das lutas urbanas. É especialista em Patrimônio Cultural pela Fundação Oswaldo Cruz e mestre em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, é vereadora da cidade do Rio de Janeiro.