Aparecida Caetano com os filhos Thainá e Gabriel (que era bebê na tragédia e hoje tem 13 anos)Divulgação

Areal - Quando a água começou a inundar sua casa, Aparecida Caetano só teve tempo de salvar os quatro filhos, entre eles um bebê de três meses. Ela foi vítima da maior tragédia da Região Serrana e, de lá para cá, passou anos de angústia com aluguel social e mudanças. Mas o tempo de espera pela casa própria vai chegar ao fim. Cida, como é carinhosamente chamada, faz parte das 153 famílias de Areal que vão receber do Governo do Estado, nesta segunda-feira (28), as chaves das unidades habitacionais do Conjunto Carmen Portinho.
"Nesse tempo, quando chovia muito forte, eu falava em ir embora. Mas meus filhos perguntavam para onde. Agora nem estou acreditando que vou ter a minha casa e vou poder dormir em paz. É muito bom saber que é minha e não vou mais precisar pagar aluguel", emociona-se Cida, que vai morar na unidade 56.

Quem também fica com a voz embargada com as memórias de luta é a diretora escolar Marilene Morelli, uma das lideranças da Comissão de Vítimas da Tragédia da Região Serrana. Ela lembra que a casa da mãe e do irmão foram as primeiras a caírem e a dela precisou ser demolida. Depois, Marilene e a mãe passaram a morar juntas por não poderem arcar com dois aluguéis. A partir desta segunda-feira, cada membro da família vai voltar a ter sua casa e viver perto outra vez.
"Agora chegou o dia! Quando soubemos oficialmente a data, ninguém dormiu mais. Estou com uma coisa tão boa dentro de mim. Eu trabalho tanto e o mínimo que eu mereço é ter uma casa digna. Apesar de pagar caro, a gente vive apertado e não tem lugar direito. Agora, eu vou ter uma casa, minhas filhas vão ter um quarto e vou dividir essa satisfação com 152 famílias", comemora Marilene.
Assim como ela, os demais beneficiários estão ansiosos com a entrega das chaves nesta segunda-feira. As etapas de vistorias e registros para ocupação foram realizadas nas últimas semanas. A tão aguardada cerimônia de entrega das unidades será realizada a partir das 11h pela Secretaria de Habitação de Interesse Social. A pasta foi a responsável pelo acompanhamento social dos beneficiários e por realizar a etapa final de intervenções para viabilizar a ocupação do condomínio.
Nesta segunda fase, o Governo do Estado investiu mais de R$ 5,4 milhões no projeto de urbanização das casas que ficaram prontas em gestões anteriores, mas que não puderam ser ocupadas pela falta de infraestrutura. Contenção de encostas, drenagem e pavimentação do acesso, assim como a construção de dois reservatórios de água e uma estação de tratamento de esgoto fizeram parte das obras necessárias.
"Quando a secretaria foi criada, em janeiro deste ano, o governador Cláudio Castro determinou prioridade para as vítimas das chuvas da Região Serrana. Resolver as pendências do Conjunto Carmem Portinho e entregar as casas para essas famílias que sofreram perdas indescritíveis era urgente", enfatiza o secretário de Habitação, Bruno Dauaire, que completa. "Para nós também será muito emocionante porque sabemos o quanto essas chaves abrirão portas para novas realizações pessoais".
Cada casa conta com 39,41 metros quadrados, abrangendo dois quartos, sala, cozinha, banheiro e área de serviço com tanque na parte externa. No condomínio há ainda um parque infantil e espaço de convivência para os moradores. E essa maior possibilidade de relacionamento é celebrada por Cida. Ela sorri de orelha a orelha quando sinaliza os números das casas onde antigos vizinhos e parentes vão morar. Em breve, estarão todos mais perto outra vez.