João Carlos uniu sua experiência em sala de aula com o entusiasmo dos alunos para colocar o projeto em práticaRafael Barreto / PMBR
O Professor Transformador 2023 premia os profissionais da educação que têm o empreendedorismo como ferramenta de transformação de seus alunos e da sociedade. Em todo o Brasil foram inscritos 2.897 projetos em sete categorias. Na final do prêmio serão escolhidos sete projetos vencedores, sendo um para cada uma das cinco regiões do Brasil. O professor João Carlos concorre na categoria “Ensino Fundamental – Anos Finais”. Cada finalista receberá uma bolsa integral no curso de MBA em Educação Empreendedora, troféu e certificado.
O secretário municipal de Educação, Denis Macedo, destacou que o projeto “Recoin: o dinheiro que vem do lixo” aborda em conjunto a questão ambiental com a educação financeira e o empreendedorismo. “A ideia é ótima, pois desde cedo a criança começa a ter noções de finanças, conhecer cédulas e moedas. Isso é fundamental para a educação financeira e os alunos crescerem com essa consciência, além de manter o meio ambiente melhor”, frisou Denis Macedo, ao lado da secretária especial de Assuntos Pedagógicos Rosangela Garcia e da responsável pelos anos finais do ensino fundamental, Waleska Rangel, e da diretora da escola municipal José Pìnto Teixeira, Cláudia Sueli Silva de Souza.
Entusiasmada com o projeto, Vitória Santos Mariano, 13 anos, aluna do 7º ano, está juntando recicláveis para conseguir trocar pelo patinete, que custa 1.000 Recoins. “É a minha meta, vou conseguir”, resumiu timidamente, posando com o item juntamente com o professor João e a diretora Claudia. “Sonho em comprar um fone de ouvido e vou me esforçar para isso. Acho o projeto muito bom, pois ajuda o meio ambiente e nós aprendemos a lidar com finanças”, completou Lays Victória Teles do Carmo, 11, que cursa o sexto ano e já comprou batom no mercadinho do Recoin.
Materiais iam para os rios
Oriundo de Brejo do Cruz, interior da Paraíba (terra do cantor Zé Ramalho, que imortalizou a cidade citando a Pedra de Turmalina – patrimônio histórico de Brejo do Cruz e do Estado – na canção Avôhai), o professor João explicou que o projeto para a criação do Recoin (o Re é de resíduos; recicláveis, enquanto o coin remete à moeda virtual Bitcoin) começou em 2021. O fato de dar aula em uma região cortada pelo rio Botas o incentivou a criar o projeto. “Ao longo dos anos vimos muitas pessoas perderem tudo com as enchentes. Então, comecei a formatar o projeto e criei o Recoin não só para a educação financeira, mas para que os alunos nos ajudassem a recolher os materiais recicláveis que iam parar nos rios. A adesão foi ótima”, explicou o professor, lembrando que os valores em Recoin conseguidos pelos alunos são trocados no mercadinho que funciona dentro da escola com diversos itens, como lápis, borracha, lápis de cor, batom e apontador, entre outros.
O coordenador regional do Sebrae, Willians Baptista, frisou que o projeto “Recoin: o dinheiro que vem do lixo” é uma iniciativa que proporciona que os alunos aprendam a lidar com a educação financeira, além de retirarem materiais recicláveis do meio ambiente, evitando enchentes. “O trabalho do professor João precisa ser replicado. Para Belford Roxo é uma honra ser o único representante do Rio de Janeiro no Prêmio Professor Transformador 2023”, resumiu Willians, ao lado do analista do Sebrae, Edmilson Gonçalves.
‘Transferidor’ de mudanças e ‘divisor’ de águas
O ano era 2021. Cansado de ver a enchente do rio Botas alagar o bairro e localidades adjacentes, o professor João Carlos “esquadrinhou” em sua mente um projeto que fosse “transferidor” de mudanças. Vendo a questão por outro ângulo, o professor ficou em "compasso" de espera, pois a próxima etapa seria “fazer as contas” para colocar a ideia em prática para alterar a situação. Era a “prova dos noves”! As ideias foram se multiplicando e o Recoin virou um “divisor” de águas na vida do professor de matemática e de toda a comunidade escolar.
“A meta foi juntar educação financeira com consciência ambiental. Os alunos, a diretora e os funcionários da escola abraçaram a ideia. Aí criei uma tabela de valores do Recoin, as cédulas com valores e fomos buscar o parceiro para nos ajudar a montar a lojinha para que os alunos pudessem comprar as mercadorias com os Recoins dentro da própria escola. Creio que estamos formando bons cidadãos que irão se preocupar com a vida financeira e com o meio ambiente. O trabalho gerou frutos e estou muito feliz em participar do Prêmio Professor Empreendedor 2023. A expectativa é muito grande”, finalizou João Carlos, que mora no Rio há 14 anos, enfatizando que o material reciclável recolhido é repassado a um parceiro do projeto e o total arrecadado é utilizado para a compra de materiais da lojinha.
Pela tabela de conversão criada pelo professor, um litro de óleo de cozinha já utilizado várias vezes vale 5 Recoins; três recipientes de alumínio (lata de refrigerante o cerveja), por exemplo, 3 Recoins; cinco garrafas pet, 1 Recoin; cinco produtos eletrônicos inutilizados, 10 Recoins; e celular sem condições de uso, 1 Recoin. “Temos também o título de capitalização, que atualmente vale 34 Recoins. A pessoa que não quiser comprar mercadorias no mercadinho da escola, pode investir agora no título e no final do ano resgatar 50 Recoins. Terá um lucro de 16 Recoins”, explicou o professor, que criou o Banco Central da Natureza, para vender os títulos fictícios.
Entre os produtos que podem ser comprados no mercadinho estão: caneta colorida (10 Recoins); kit escolar (120 Recoins); boneca sereia (120 Recoins); apontador (2 Recoins) e batom (15 Recoins). “Uma aluna da EJA (Educação de Jovens e Adultos) queria comprar uma prancha de cabelo no mercadinho. Ela juntou os Recoins e conseguiu. É gratificante ver a participação de todos nesta iniciativa, que forma cidadãos dando noções de educação financeira e respeito ao meio ambiente”, encerrou a diretora da escola municipal José Pinto Teixeira, Cláudia Sueli Silva de Souza, destacando que a unidade tem cerca de 900 alunos.
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