Brasília - O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, reuniu-se com o superintendente regional da Polícia Federal em São Paulo, Disney Rosseti, dois dias antes de ter dado a polêmica declaração de que haveria uma nova fase da Operação Lava Jato nesta semana. "Teve a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim", disse Moraes, em um evento do candidato a prefeito Duarte Nogueira (PSDB) em Ribeirão Preto, conforme revelou com exclusividade o Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. No dia seguinte à declaração, o ex-ministro Antonio Palocci foi preso em decorrência justamente de mais uma fase da operação.
O encontro de Moraes com o superintendente da PF ocorreu na sede do Departamento de Polícia Federal da capital paulista e, conforme divulgado pela agenda oficial do ministro, durou uma hora. Rosseti foi nomeado no início do mês novo superintendente regional da PF em São Paulo. Após exercer a função de adido policial federal na Embaixada do Brasil em Roma, ele substituiu o delegado Roberto Troncon, agora adido em Londres.
Rosseti exibe um currículo com passagens por setores estratégicos da PF. Antes da Itália, ele foi superintendente da PF em Brasília e diretor da Academia Nacional de Polícia, a famosa escola da PF.
Na segunda-feira, após a operação que prendeu Palocci, o presidente Michel Temer chamou o ministro para uma conversa no Palácio do Planalto para cobrar dele mais explicações. Moraes, porém, estava em São Paulo e os dois conversaram pelo telefone.
Temer teria aceitado as explicações de que se tratou de uma "infeliz coincidência". Há expectativa de que a reunião ocorra nesta terça, mas ainda não está confirmada. O ministro da Justiça, porém, participará da reunião e do jantar que o presidente vai oferecer a ministros e líderes da base à noite no Palácio da Alvorada.
No domingo, após o episódio, ambos já haviam conversado por telefone. Na ocasião, o ministro negou que tivesse antecipado a operação. Mas, na segunda, Temer assistiu ao vídeo com a declaração de Moraes e decidiu cobrar novas explicações.
A intenção de Temer é fazer uma reunião "de alinhamento" com os demais ministros, a fim de amenizar as seguidas crises causadas por declarações "desnecessárias" e consideradas prejudiciais ao governo. "Falou besteira, no lugar errado e na hora errada", afirmou uma fonte do governo.
A avaliação é que o adiamento da conversa com Moraes teria inclusive beneficiado o governo, já que o noticiário ficaria focado na prisão do ex-ministro do PT e não na "crise" causada pelas declarações do titular da Justiça. Segundo fontes do Planalto, o desgaste em torno de Moraes não o coloca na berlinda e uma demissão do ministro não está sendo cogitada por Temer. O presidente quer, sim, "enquadrá-lo" para tentar evitar o prolongamento da crise, mas a intenção é "colocar água na fervura" e diminuir a temperatura da crise.