Brasília - O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse que seu partido "não tinha alternativa" em 2014 a não ser propor a ação de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer por conta de abuso de poder econômico na campanha eleitoral daquele ano.
"Na época o PSDB não tinha muita alternativa, porque parecia que havia e, como está se vendo, houve abuso do poder econômico", disse, nesta terça-feira, numa conferência na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio. "Agora, a interpretação se pega os dois (Dilma e Temer) ou não, se é suficiente ou não, isso não cabe aos observadores nem aos políticos julgar".
Na segunda-feira, FHC havia dito que uma eventual cassação do presidente Michel Temer (PMDB) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e uma eleição indireta geraria "confusão", piorando o já tumultuado cenário político no País. "Já temos tantas dificuldades hoje, o Congresso ainda vai eleger uma pessoa pra ser presidente por um ano? É mais confusão", disse o ex-presidente, numa entrevista à rádio CBN.
Ele enxerga riscos principalmente para a economia: "A percepção das pessoas, especialmente dos investidores é: vamos ter outro problema no Brasil? Eles se retraem. O Brasil está há muito tempo de pernas para o ar, está começando a assentar um pouco. Levar muito tempo em um julgamento que põe em risco a situação vigente tem consequências negativas".
Na ABL, ele não comentou o adiamento do julgamento pelo TSE. "Não sou jurista, não entendo dessas peculiaridades do processo. Se adiaram, têm alguma base para isso." O tribunal ouvirá mais testemunhas no processo e, com isso, não há mais prazo definido para que o julgamento seja retomado.
FHC falou durante o ciclo de conferências "Segurança pública em debate", na Academia Brasileira de Letras, da qual é membro desde 2013. O tema foi "As políticas sobre drogas e a crise carcerária no Brasil". Ele preside a Comissão Global de Política sobre Drogas, instituída pelas Nações Unidas e integrada também pelos ex-presidentes do México Ernesto Zedillo e da Colômbia César Gaviria, além do ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, entre outras autoridades.