Brasília - A votação da denúncia de corrupção passiva contra o presidente Michel Temer (PMDB) foi marcada por confusão na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), nesta quinta-feira. Durante o debate entre os deputados, houve gritos de "fora Temer" e até uma invasão de manifestantes dentro da Câmara dos Deputados. Além da saída do presidente, eles pediram também as votações diretas.
Na última segunda-feira, o deputado Sergio Zveiter (PMDB) já havia apresentado um parecer favorável à admissibilidade da denúncia contra Temer. "Qual legado queremos deixar para as próximas gerações, quando o presidente, que deveria dar exemplo, quer subtrair da população o direito de ver esclarecidos os fatos? Não estamos aqui dizendo se é culpado ou inocente, mas temos que dizer que distribuir milhões de reais de dinheiro público carateriza obstrução à Justiça", explicou antes da votação desta quinta.
O relator ressaltou que não há "absolutamente nenhum perigo para o estado democrático de direito" com a investigação contra o presidente. Zveiter lembrou ainda que entrou no PMDB "inspirado nas lições de Ulysses Guimarães". "Pelo que estou vendo a Executiva do partido e muitos integrantes estão esquecendo", completou.
Após a fala de Zveiter, foi a vez do advogado de defesa de Temer, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. Ele afirmou que, por trás da denúncia, tem uma "ânsia" pelo poder. "O Judiciário está sendo substituído pelo Ministério Público", destacou o advogado, acrescentando que se preocupa com a "cultura punitiva que tem sido adotada no Brasil".
"A cultura punitiva do MP tem exagerado e atingido inocentes. Temos que pensar na progressão de uma cultura punitiva que vai atingir a todo e qualquer cidadão brasileiro", completou Antônio Carlos.
Veja a votação
Zveiter repudia acusação de Perondi e diz que colega faz apologia a nazismo
O relator repudiou a declaração do vice-líder do governo, Darcísio Perondi (PMDB-RS), que o acusou de ter feito apologia ao nazismo em seu parecer pela admissibilidade da denúncia contra o presidente. Zveiter, que é judeu, classificou a declaração como um "ato vil, intencional e criminoso".
"Se alguém fez apologia ao nazismo, foi o próprio Perondi, ou pior, de maneira sórdida e velada transmitiu subliminarmente a sua índole de preconceito. Tamanho absurdo não pode ser aceito no Estado democrático de direito", disse o relator.
Para Zveiter, Perondi agiu de forma premeditada e com dolo direto. Em sua fala, afirmou ainda que, desde a divulgação do seu parecer, relevou insultos de outros parlamentares como "burro", "traidor", "imbecil" e "vagabundo, mas afirmou que "jamais se curvará" quando o insulto for uma "atrocidade racista" sobre a sua religião.
"Sou o único judeu no exercício do mandato, o que torna ainda mais afrontosa a difamação", declarou. Ele disse ainda que Perondi agiu de forma "covarde", pois "escondeu-se por trás da imunidade parlamentar". "Racismo nunca mais", frisou.
Com informações do Estadão Conteúdo