São Paulo - Dois recibos de aluguel do imóvel vizinho ao do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo, entregues ao juiz federal Sérgio Moro pela defesa do petista, apresentam datas que não existem no calendário cristão. O advogado do ex-presidente, entretanto, nega a existência dos documentos com tais datas e que possíveis erros materiais "não tem qualquer relevância para o valor probatório dos documentos".
O Ministério Público Federal afirma que não houve pagamento de aluguel entre fevereiro de 2011 e pelo menos novembro de 2015. Os advogados apresentaram contrato da ex-primeira dama Marisa Letícia com Glaucos da Costamarques, dono do imóvel no cartório e anexaram documentos que contestam a versão dos procuradores.
Em depoimento, Lula rebateu alegando que o recibo de pagamento do aluguel do apartamento 121, do residencial Hill House, em São Bernardo do Campo, "pode ser pego e enviado" ao juiz federal Sérgio Moro. O petista prestou depoimento por mais de duas horas em ação sobre supostas propinas da Odebrecht.
Em recibo do suposto pagamento do aluguel, no valor de R$ 4,1 mil reais, consta que o vencimento seria no dia 31 de junho de 2014. O mês, entretanto, tem 30 dias. Em outro recibo, consta a data de 31 de novembro, outro mês que se encerra no dia 30.
Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, afirmou que "na relação de documentos apresentados pela defesa do ex-presidente Lula na data de ontem (25/08) não há qualquer recibo emitido em '31 de junho de 2014' ou '31 de novembro de 2015'.
Segundo a defesa, todos os recibos aos quais teve acesso foram apresentados no processo e "se 2 dos 26 recibos apresentados contêm erro material em relação às datas dos vencimentos dos aluguéis que estão sendo pagos isso não tem qualquer relevância para o valor probatório dos documentos.
Por fim, a nota diz que " tentativa de transformar os recibos no foco principal da ação é uma clara demonstração de que nem o Ministério Público nem o juízo encontraram qualquer materialidade para sustentar as descabidas acusações formuladas contra Lula em relação aos contratos da Petrobras", finaliza.
Duplex de R$ 500 mil seria propina da Odebrecht
O duplex é um dos pivôs de ação penal pela qual Lula responde na Operação Lava Jato. O imóvel, no valor de R$ 504 mil, é tratado pelo Ministério Público Federal como suposta propina ao petista. Para a Procuradoria-Geral da República, a Odebrecht custeou a compra do apartamento, em nome de Glaucos da Costamarques, primo do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente. Na mesma ação, ele responde por também ter supostamente recebido da empreiteira terreno onde seria sediado o Instituto Lula, no valor de R$ 12,5 milhões.
A denúncia da Procuradoria da República sobre o apartamento 121 ainda aponta que propinas pagas pela Odebrecht, no esquema que seria liderado pelo ex-presidente, chegaram a R$ 75 milhões em oito contratos com a Petrobras.