Brasília - Um relatório divulgado nesta quarta-feira feito pelo Banco Mundial com dados do Programa de Avaliação de Alunos (Pisa) sobre a crise da aprendizagem, mostra que os estudantes brasileiros podem demorar mais de 260 anos para atingir a qualidade de leitura dos alunos em países desenvolvidos. Já em matemática, a previsão é de que os brasileiros vão levar 75 anos para atingir a pontuação média desses países.
O cálculo foi feito com base no desempenho dos estudantes brasileiros em todas as edições do Pisa, a avaliação internacional aplicada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE).
Esta é a primeira vez que o "World Development Report", relatório anual que discute questões para o desenvolvimento mundial, é dedicado totalmente à educação. A conclusão mais importante do documento é que há uma "crise de aprendizagem" no mundo todo. "Nos últimos 30 anos houve grandes progressos em colocar as crianças nas escolas na maioria dos países, mas infelizmente muitas não entendem o que leem ou não sabem fazer contas", disse o diretor global da área de educação do Banco Mundial, Jaime Saavedra.
Segundo o relatório, 125 milhões de crianças no mundo estão nessa situação. Na América Latina e Caribe, apenas cerca de 40% das crianças nos anos finais do ensino fundamental chegam ao nível considerado mínimo de proficiência em Matemática, enquanto na Europa e Ásia são 80%. Na África Subsaariana, só 10% dos alunos têm níveis aceitáveis de Leitura.
O relatório ainda cita algumas medidas para que a aprendizagem cumpra a promessa de eliminar a pobreza e criar oportunidades para todos, como por exemplo, ter um dispositivo para medir a aprendizagem no final do ensino fundamental e das primeiras séries do médio. Segundo o estudo, só metade dos países em desenvolvimento tem esses dispositivo.
Segundo o relatório, há casos de países que investiram em estratégias de aprendizagem e obtiveram sucesso, como a Coreia do Sul, que foi assolado por uma guerra e tinha taxa muito baixas em 1950, mas conseguiu universalizar o acesso de matrículas em 1995 e atingir altos índices em avaliações internacionais de aprendizagem.
O Brasil é um dos países que fazem parte dessa crise de aprendizagem, apesar de avanços recentes em avaliações. No último Pisa, porém, o País não aumentou sua nota em Leitura e caiu em Matemática. Procurado pela reportagem, o Ministério da Educação não quis comentar o conteúdo do relatório.
Segundo André Loureiro, economista brasileiro do Banco Mundial, a demora para se atingir níveis de países desenvolvidos só vai acontecer "se o país mantiver o passo em que está". "Mas há reformas que estão sendo feitas, como a do ensino médio, que têm potencial muito grande de afetar essa trajetória", acredita. Para ele, a flexibilização do currículo e a diminuição do número de disciplinas devem deixar a escola mais atrativa para os jovens.
Sem plano
"O Brasil precisa urgentemente de um plano estratégico de educação", diz a presidente do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz. Segundo ela, os avanços do País são lentos porque não se sabe quais são os fatores de fracasso e sucesso das políticas. "A gente abandona as políticas e recomeça do zero sem ter aprendido nada com o passado." Para Priscila, os dois pontos principais desse plano deveriam ser a valorização do professor e da primeira infância.
"O Brasil teve de expandir o sistema rapidamente para trazer muitas crianças para a escola, precisou de muitos professores e acabou tendo problema com a formação deles", diz o coordenador de pesquisas do Centro de Políticas Públicas do Insper, Naercio Menezes Filho. Mas, segundo ele, agora o País tem uma oportunidade de corrigir essa questão por causa da queda demográfica. A natalidade diminuiu muito nos últimos anos e o número de alunos no ensino fundamental caiu quase pela metade em 20 anos. "Se mantiver o tamanho das salas, vamos precisar de metade do professores. Podemos selecionar melhor os candidatos."
O relatório intitulado "Aprendizagem para Realizar a Promessa da Educação" será apresentado hoje em São Paulo em um evento na Fundação Getulio Vargas (FGV). O texto enfatiza a importância da educação para impulsionar o "crescimento econômico de longo prazo, incentivar a inovação, reforçar as instituições e promover a coesão social". Há também dados que demonstram que cidadãos mais bem educados valorizam mais a democracia.
Com informações do Estadão Conteúdo