General da reserva Hamilton Mourão - divulgação
General da reserva Hamilton Mourãodivulgação
Por O Dia

São Paulo - Um dia após ligar índio à 'indolência' e negro à 'malandragem', o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), vice do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), reafirmou que a declaração foi feita quando ele se manifestava sobre a herança cultural do país, sem distinção de cor ou raça.

Na segunda-feira, Mourão disse que o Brasil herdou a cultura de privilégios dos ibéricos, a indolência dos indígenas e a malandragem dos africanos. A declaração foi feita em um evento em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, quando ele falava sobre as condições de subdesenvolvimento do país e da América Latina.

"E o nosso Brasil? Já citei nosso porte estratégico. Mas tem uma dificuldade para transformar isso em poder. Ainda existe o famoso ‘complexo de vira-lata’ aqui no nosso país, infelizmente", disse Mourão. "Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem. Nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano. Então, esse é o nosso cadinho cultural.", disse na ocasião.

Em nota distribuída à imprensa nesta terça, Mourão tentou se justificar. "O contexto que coloco é da herança cultural, tendo como base estudiosos gabaritados da nossa nacionalidade. Esse contexto trouxe heranças positivas e negativas, sem distinção de cor e raça, para todos os brasileiros", disse. 

Mourão participou de almoço da Câmara de Indústria e Comércio da cidade na primeira agenda de campanha dele como vice na chapa de Bolsonaro. A declaração foi antecipada pelo site da revista Veja e confirmada pelo jornal "O Estado de S. Paulo".

No evento, o general também afirmou ser favorável à democracia e voltou a dizer que "intervenção militar não é varinha mágica", apesar de tê-la defendido no passado. Em setembro passado, Mourão chegou a falar na possibilidade de intervenção militar caso as instituições do país não resolvam a crise política, "retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos". 

O general da reserva negou que seu comentário tenha sido racista "Quiseram colocar que o Bolsonaro é racista, agora querem colocar em mim. Não sou racista, muito pelo contrário. Tenho orgulho da nossa raça brasileira", afirmou. "O que eu fiz foi nada mais nada menos que mostrar que nós, brasileiros, somos uma amálgama de três raças, a junção do branco europeu com o indígena que habitava as Américas e os negros africanos que foram trazidos para cá", disse.

Ele disse ter criticado também os portugueses: "Eu falei que a herança de privilégios é ibérica, do português que gosta de ter privilégios".

Repercussão

A fala do general foi criticada por presidenciáveis. O candidato do PSOL, Guilherme Boulos, afirmou que Bolsonaro e Mourão "se merecem". "Quando o preconceito se junta com a estupidez o resultado é esse", criticou nas redes sociais. A candidata da Rede, Marina Silva, também avaliou o comentário como preconceituoso. "Extremismo e racismo são uma combinação perigosa. Não podemos tolerar racismo numa corrida presidencial "

Já Bolsonaro se desvencilhou da declaração do vice. "Ele que explique para vocês, se é que ele falou. Eu não tenho nada a ver com isso", disse.

Sobre a crítica de Marina, Mourão disse que respeita a concorrente. "Gostaria de sentar e conversar com a Marina, porque aí talvez ela entendesse quem eu sou e não tecesse comentários sem conhecer a pessoa. Eu tenho muito respeito por ela, que teve uma origem difícil e por seu mérito ocupa uma posição de destaque no cenário nacional."

*Com informações do Estadão Conteúdo

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