Eleitores de Bolsonaro e de Lula confraternizam no feriado: busca da paz - Severino Silva
Eleitores de Bolsonaro e de Lula confraternizam no feriado: busca da pazSeverino Silva
Por GUSTAVO RIBEIRO

Diante da ameaça de uma repetição de casos de violência ligados à política no país - após o atentado contra Jair Bolsonaro, que se seguiu aos tiros disparados contra o acampamento de apoiadores de Lula em junho e contra a caravana petista, no Sul, em março - a sociedade brasileira se manifestou em defesa da democracia e de um processo eleitoral mais pacífico. Especialistas e representantes de diversos setores concordam que discursos extremos proferidos por apoiadores de candidatos de todas as vertentes políticas vêm criando um ambiente de animosidade que pode favorecer a eclosão de atos de violência.

"Vivemos a cada dia em um país mais polarizado. Os extremos são mais evidentes e mais agressivos. É importante para a construção da paz que a sociedade faça o seu papel, respeitando as diversidades, sejam elas políticas ou sociais. Precisamos construir uma sociedade madura, que não tenha a hipocrisia de criticar a corrupção na política enquanto paga propina em uma blitz para ser liberado, que respeite a liberdade de opinião e lute por seus ideais através do exercício da cidadania", defendeu José Ricardo Bandeira, presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina.

"As balas que assassinaram Marielle, as que poderiam ter matado os participantes da caravana do Lula e a faca que atingiu Bolsonaro têm por trás pessoas desesperadas, querendo impor a todos o que elas acham que seja a melhor opção para a sociedade. A violência nunca foi, não é e nunca será a solução", reforçou Frei David Santos, presidente da ONG Educafro.

Nas redes sociais e rodas de conversa, não faltou quem atribuísse ao discurso político do candidato responsabilidade pelo crime que sofreu. Vozes mais moderadas, no entanto, condenam a ideia de culpar a vítima. "Bolsonaro propaga ódio e preconceito contra vários segmentos", lembra Cláudio Nascimento, diretor de Políticas Públicas da Aliança Nacional LGBTI, ressaltando, no entanto, que repudia a violência, inclusive nesse caso. "Ainda que se possa discutir se ele promove ou não violência, responsabilizá-lo por um ato criminoso seria se igualar a todos os discursos de intolerância às diferenças", defende Michael Mohallem, professor de Direitos Humanos da FGV Direito Rio. Segundo ele, o episódio deve servir para uma reflexão sobre o mal que toda forma de violência pode causar à democracia.

Para Paulo Baía, cientista político da UFRJ, o atentado pode comprometer a racionalidade do voto em outubro. "Acredito que essa polarização Bolsonaro X PT vai se afirmar a partir da vitimização. Ora Bolsonaro é vítima de seu discurso violento, ora o Lula é o inocente que está preso", avaliou. de toda forma, Paulo Cesar Ribeiro (UERJ) acha que Bolsonaro pode se beneficiar com a afastamento de atos de campanha. "Ele vai ser menos cobrado", diz.

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