Por Agência Brasil

Rio -“Vamos lembrar de Talita Silva Martins. Ela foi assassinada em casa pelo namorado. Teve o corpo amassado e incendiado na Samambaia. Talita, presente!”. O relato era uma referência à mulher assassinada pelo companheiro em 14 de maio na região administrativa de Samambaia, região administrativa do Distrito Federal, que fica a 30 quilômetros do centro de Brasília.

A fala foi feita na região central da cidade, em uma caminhada em que dezenas de mulheres protestaram contra 22 casos de feminicídio registrados somente neste ano na capital do país. O ato também teve como objetivo cobrar respostas contra o assassinato da ex-vereadora do PSOL do Rio de Janeiro Marielle Franco, alvejada por diversos tiros em um bairro carioca em março de 2014.

A manifestação foi organizada pelo movimento Plataforma Feminista, criado por diversas organizações e ativistas para pautar o combate à desigualdade de gênero nas eleições deste ano. As militantes se concentraram na rodoviária do Plano Piloto (nome dado à região central de Brasília) e caminharam até a Praça Zumbi dos Palmares, em uma das quadras do Setor Comercial Sul. Lá, acenderam velas para lembrar das mulheres mortas e repudiar a violência de que foram vítimas.

“O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo. Isso não é normal. Chega. Chega de machismo. Direito à vida, queremos viver, sermos felizes”, disse uma das manifestantes. “Que sejamos respeitadas, que venhamos a ocupar os nossos lugares. Por nenhuma a menos. Respeito por todas nós”, afirmou outra participante do ato.

Segundo a integrante do Fórum de Mulheres do Distrito Federal e Entorno, Leonor Costa, os números são assustadores. “Houve aumento do ano passado pra cá e isso mostra a negligência do Estado com o problema da violência contra a mulher. A sociedade continua sendo violenta. Várias das 22 mulheres assassinadas já tinham registrado algum tipo de ocorrência contra o agressor e nada foi feito”.

Leonor defende uma mudança do comportamento de instituições de Estado, como as delegacias de Atendimento à Mulher e as forças de segurança em geral, o Ministério Público e os órgãos governamentais que prestam atendimento de mulheres ameaçadas, para que a proteção seja garantida às mulheres que denunciam.

Segundo Cláudia Macedo, da organização Coturno de Vênus – Associação Lésbica de Brasília, ainda há o problema de casos de feminicídios contra lésbicas, como o assassinato de Anne Mickaelly, jovem esfaqueada pelo pai da namorada em janeiro deste ano depois de um pedido de casamento. Episódios como esse, diz Macedo, não são contados e considerados com essa especificidade.

A ativista, uma das organizadoras do ato, relatou à Agência Brasil que diversas organizações feministas e de lésbicas já cobraram medidas do Poder Público. A Câmara Distrital organizou no ano passado uma audiência pública sobre o tema. O problema também está no Judiciário. Ela cita como exemplo uma das mulheres assassinadas, que teve o pedido de medida protetiva negado pela juíza responsável pelo caso.

“A gente criou um grupo de trabalho sobre feminicídio na secretaria de políticas para mulheres do GDF e nada foi feito. A gente vem, ano após ano, reivindicando, seja no Executivo seja no Legislativo, e as mortes não param porque o Estado não se responsabiliza”, disse a ativista à Agência Brasil.

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