Rio - Eva Luana da Silva, 21 anos, usou as redes sociais nesta terça-feira para publicar um longo relato das torturas e abusos sofridos por ela durante oito anos pelo padrasto em Camaçari, na Bahia. Na sequência de cinco posts, a estudante de Direito conta com detalhes sobre as agressões físicas, psicológicas e verbais. De acordo com a jovem, ela era forçada a comer o próprio vômito e a abortar diversas vezes. A universitária também denuncia as agressões que o homem praticava contra sua mãe.
"Meu caos teve início quando eu tinha 12 anos, minha mãe era agredida, abusada, violada e torturada quase todos os dias. Meu padrasto era obsessivo e ciumento com ela. Resumindo de uma maneira geral, ela era agredida com chutes, joelhadas, objetos... Era abusada sexualmente de todas as formas possíveis. Era obrigada a tomar bebidas até vomitar e quando vomitava tinha que tomar o próprio vômito como castigo. Ele começou a me abusar sexualmente", escreve Eva.
A estudante só tornou a história pública após a prisão do padrasto, identificado como Thiago Oliveira Alves, na quarta-feira passada (13). O caso foi registrado na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), de Camaçari e é conduzido pela delegada Florisbela Rodrigues.
Eva contou que denunciou o padrasto quando tinha 13 anos por estupro de vulnerável. No entanto, a então adolescente foi forçada a retirar a queixa. "Nessa denúncia eu tinha certeza que seria salva por todos. Mas não foi isso que aconteceu. O Estado falhou a tal ponto que o meu caso não chegou nem ao Ministério público. Fui obrigada a retirar a queixa por ameaças do meu padrasto. Ele utilizou o poder financeiro pra comprar a liberdade e comprar a minha alma", diz.
A segunda denúncia aconteceu no dia 30 de janeiro, quando a universitária procurou a Deam e prestou depoimento, além de pedir medidas protetivas para ela e sua mãe, que também sofria violência doméstica.
"Eu vomitei e comi meu próprio vômito. Meu gato comeu um pedaço e lambeu outro, ele me obrigou a comer o que ele havia lambido. Eu apanhei a noite toda e no outro dia eu tinha que fingir que nada havia acontecido", relata Eva. "Já abortei diversas vezes. Nunca pude ir ao médico pra fazer curetagem. Todas as vezes sangrava e passava mal a noite inteira. Já vi os bebês inteiros no vaso sanitário. Eu era chamada de burra, anta, doente, demente todos os dias e era obrigada a repetir isso pra mim mesma", completa.
"Minha mãe apanhou tanto que teve um parto prematuro, meu irmão morreu depois de 6 dias de nascido. Quando ela estava grávida dele levou diversos chutes e joelhadas na barriga. Ele não queria mais um filho. Ela pulou um muro pra se salvar, mais de 2 metros de muro com as unhas", narra.
Natural de São Paulo, Thiago atuava como assessor técnico da Secretaria Municipal de Habitação de Camaçari, mas foi exonerado no dia 1º de fevereiro. Segundo a Polícia Civil, o suspeito nega todas as acusações.
O namorado de Eva, Mateus Casais, diz que a estudante está bem e a rede de apoio está sendo ótima para ela. "Palavras de fortalecimento e encorajamento revigoram a alma e renova as forças, então, isso está sendo bom pra ela", afirma. "As coisas tomaram uma proporção muito grande e ninguém imaginava chegar a tal ponto", completa.
#SomosTodasEva: relato causa revolta e rede de solidariedade na web
O relato de Eva Luana chocou internautas e uma rede de solidariedade se formou na web. O perfil da estudante já contabilizava 620 mil seguidores até às 16h30 desta quinta-feira. A hashtag #SomosTodosEva, sendo usada inclusive por famosos, está em redes sociais como o Instagram e o Twitter repercutindo a história.
"Sem palavras para descrever o que sinto agora depois de ler o seu relato. Sinta-se abraçada por todas nós aqui. Você não está só! Vai ter justiça sim!", comentou a atriz Tainá Muller.
Denúncias de violência contra a mulher podem ser feitas na Central de Atendimento à Mulher, através do telefone 180, ou na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam).