Rio - Em uma demonstração pública de desagrado da ala militar do governo com o escritor Olavo de Carvalho, o ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, disse que o guru da família é desequilibrado. A declaração, dada em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, vem após uma série de ataques da liderança intelectual do grupo bolsonarista ao vice-presidente General Hamilton Mourão e a outros militares do governo.
O militar disse ao jornal que nunca teve interesse em Olavo de Carvalho. Ele destacou as suas últimas colocações, o "linguajar chulo" e os palavrões para chamá-lo de desequilibrado.
Na viagem da comitiva do presidente Bolsonaro aos Estados Unidos, o escritor ganhou destaque, tendo participado das agendas do chefe do executivo. Em recepção no Estado de Virgínia, Olavo chamou Mourão de um "cara idiota", "um estúpido", e de uma figura "que não tem ideia do que é a Vice-Presidência". "Não o critico, eu o desprezo", finalizou. O escritor disse ainda que os militares do governo têm "mentalidade golpista" e "são um bando de cagões".
O ataque faz parte de uma ofensiva do escritor e seus seguidores contra o general da reserva - que assumiu a Presidência interinamente com a viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos. Dos 287 posts de Olavo no Twitter nas duas primeiras semanas deste mês, 77 (27%) são críticos a Mourão e a militares de forma geral Nas mensagens, o escritor alimenta a especulação de que o vice atua para derrubar o presidente.
Olavo e Malafaia também estão em pé de guerra
Além da crise interna entre a ala militar e os seguidores de Olavo de Carvalho, outro importante líder do bolsonarista se volta contra o escritor. Tudo começou quando o evangélico criticou, no dia 18, uma declaração do deputado Eduardo Bolsonaro sobre Olavo ter sido responsável pela vitória do pai na eleição. Para Silas, foram os evangélicos os responsáveis pela eleição de Bolsonaro. "Deixe de bajular guru", escreveu Malafaia ao deputado.
No último dia 22, Olavo publicou uma mensagem no Facebook direcionada ao "bispo" dizendo que as igrejas evangélicas demoraram para começar a atuar na luta contra o petismo. "Pelo menos até 2009 ainda se davam muito bem com o partido governante", escreveu sobre os evangélicos.
Malafaia reagiu no dia 23, chamando Olavo de "astrólogo". Disse que votou em Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998, reconheceu apoio a Lula em 2002 "pela crença de que ele poderia resgatar o Brasil da miséria", mas afirmou que não se posicionou a favor de petistas desde então. "Olavo estava em um rancho nos EUA, eu e Bolsonaro tomando pancada do ativismo gay. Ficar dando peruada escondido nos EUA, é mole". Ele ainda disse que "a influência de Olavo na eleição de Bolsonaro é quase zero".
Medidor
Olavo tem contestado apoiadores de Bolsonaro. Antes dos comentários de Malafaia, sugeriu a criação de um "medidor de bolsonarismo" para identificar quem realmente está comprometido com o governo. "O presidente disse que o grande objetivo da sua vida e do seu governo é eliminar e ideologia esquerdista. Quantos dos seus pretensos aliados têm a mesma prioridade? Não está na hora de fazermos um medidor de bolsonarismo para separar as ovelhas dos bodes?", escreveu Olavo.
*Com Estadão Conteúdo