Paulo Coelho, 1971 - Reprodução / Arquivo Pessoal
Paulo Coelho, 1971Reprodução / Arquivo Pessoal
Por O Dia

Estados Unidos - Em meio às polêmicas sobre os 55 anos do golpe que instaurou a ditadura militar no Brasil, em 1964, Paulo Coelho contou na edição desta sexta-feira do jornal americano The Washington Post sobre sua experiência com a censura, a tortura e os anos de chumbo. 

Em seu relato, o autor de obras como "O Alquimista" e compositor de músicas cantadas por Raul Seixas e Rita Lee conta como os militares invadiram sua casa para levá-lo para o Departamento de Ordem Pública e Segurança (Dops).

"Um grupo de homens armados invade meu apartamento. Começam a revirar gavetas e armários – não sei o que estão procurando, sou apenas um compositor de rock. Um deles, mais gentil, pede que os acompanhe 'apenas para esclarecer algumas coisas'".

A família do escritor tomou conhecimento do caso por um vizinho que viu a abordagem dos agentes. "Todo mundo sabia o que o Brasil vivia naquele momento, mesmo que nada fosse publicado nos jornais".

O escritor contou que chego ao Dops e após ser fichado e fotografado respondeu a algumas perguntas. Em seguida foi liberado pelo oficial.

"Oficialmente já não sou mais preso: o governo não é mais responsável por mim. Quando saio, o homem que me levara ao Dops sugere que tomemos um café juntos. Em seguida, escolhe um táxi e abre gentilmente a porta. Entro e peço para que vá até a casa de meus pais – espero que não saibam o que aconteceu", ele narra o episódio.

Após seguir por poucos minutos para o destino, o carro do escritor foi interceptado e ele foi sequestrado pelos militares.

Torturas

Em seu depoimento, Paulo Coelho relembra momentos que todo preso político da ditadura tenta esquecer: torturas por tempos intermináveis, perguntas sem resposta, o desejo e a espera pela morte.

Seu desaparecimento mudou a vida dos pais que lhe pediam para não sair na rua e também viviam com medo. Ao longo dos anos vivendo na ditadura, o escritor tentou retomar a vida como artista, mas não conseguia. Era rejeitado por cantores e amigos, que também vivam com o pânico de desagradar o governo. "É arriscado ser visto ao lado de um preso. Saí da prisão mas ela me acompanha", disse o autor. 

As declarações foram dadas em represália à decisão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em determinar que os quartéis do país façam as "devidas comemorações" relacionadas do golpe de 64.

Censura

A ditadura militar no Brasil foi instaurada no dia 1º de abril de 1964 e durou 21 anos. Além das torturas, o período foi marcado pela dura censura de músicas, peças teatrais e todo elemento cultural no Brasil. Artistas como Gilberto Gil e Chico Buarque foram exilados do país.

Paulo Coelho concluiu o artigo dizendo que são essas décadas de chumbo que o "presidente Jair Bolsonaro – depois de mencionar no Congresso um dos piores torturadores como seu ídolo (em menção à homenagem feita ao torturador Ustra durante a votação do impeachment da então presidente Dilma Roussef) – quer festejar nesse dia 31 de março".

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