A professora foi liberada, após assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência - boletim usado para tipificar infrações de menor potencial ofensivo ou crimes de menor relevância - Reprodução/ Facebook
A professora foi liberada, após assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência - boletim usado para tipificar infrações de menor potencial ofensivo ou crimes de menor relevânciaReprodução/ Facebook
Por Beatriz Perez e Ana Mello*

Goiás - A coordenadora geral do Instituto Federal de Goiás (IFG) Camila Marques foi presa em seu local de trabalho, no campus Águas Lindas, a 50 km de Brasília, na manhã desta segunda-feira. Ela foi encaminhada à delegacia e, segundo o sindicato que representa a categoria, o Sinasefe, foi liberada às 13h10. 

A Polícia Civil do Goiás estava no campus desde o início do dia apurando denúncias de ameaças de um atentado, como o que houve em Suzano, na Grande São Paulo. Por meio de sua assessoria de imprensa, a corporação informou que no dia anterior o diretor do instituto esteve na delegacia para registrar ocorrência e pedir apoio na investigação. 

A polícia disse que os agentes pediram à professora  para que acompanhasse as buscas nos armários e a revista dos alunos. Ela começou a filmar a ação. Os agentes pediram para que ela parasse de gravar, alegando que os alunos, menores de idade, não poderiam ser filmados. Ela não cumpriu a ordem, e recebeu voz de prisão por desobediência, segundo a corporação. A Polícia acrescentou que Camila se recusou a entrar na viatura e, por isso, foi preciso o uso de força e algemamento da professora.

Em vídeo divulgado pela página do sindicato no Facebook, a Camila disse que começou a filmar a ação depois que perguntou aos  policiais o que eles estavam fazendo. Eles responderam apenas que era sigiloso, segundo ela. A professora alega que não filmava os alunos, mas os agentes, que a censuraram dizendo que eram agentes públicos e não poderiam ser filmados. Camila também disse que foi informada de que iria à delegacia como testemunha e não havia recebido voz de prisão. Ela disse que se recusou a entrar na viatura porque o veículo estava descaracterizado.

Um dos diretores do Sinasefe, Isaías dos Santos disse que a escola de Águas Lindas estava sofrendo ameaças e a comunidade escolar pressionou para que a polícia fosse acionada. "Não se sabe o caráter dessas ameças. O diretor evitava qualquer tipo de comentário para evitar pânico. Acabou vazando e a comunidade, se sentindo ameaçada, pressionou o diretor para que fosse à delegacia e tomasse providências", disse.

Isaías disse que os policiais se sentiram incomodados quando a professora passou a gravar a ação. "Eles se sentiram incomodados, pediram para parar, mas ela se achou no direito de gravar. Pediram para ela acompanhá-los na delegacia e disseram que o celular seria apreendido. Quando ela chegou na delegacia, deram voz de prisão por desacato", acrescentou.

Polícia apura ameaça de atentado no Instituto Federal de Goiás

Na ação, os policiais civis apreenderam três alunos do IFG que compartilharam ameaças de um atentado na escola. O delegado Danilo Victor Nunes, responsável pela Delegacia da Criança e do Adolescente de Águas Lindas de Goiás (GO), disse à Agência Brasil que ao que parece tudo não passou de um “brincadeira de péssimo gosto”, que acabou alarmando funcionários do campus do IFG na cidade.

“Coletamos prints [imagens] das mensagens veiculadas por estes jovens ameaçando outros estudantes. Diligenciamos o estabelecimento com cautela, incluindo alojamentos, e não encontramos nenhum material suspeito”, informou o delegado, explicando que os pais dos jovens foram chamados para acompanhar os filhos à Delegacia da Criança e do Adolescente, onde, até as 14h, os três estavam sendo ouvidos.

“Eles já disseram que se tratava de uma brincadeira, e os pais estão colaborando. Ainda estamos verificando tudo. Não há indícios de que se tratasse de algo sério, mas, por cautela, os domicílios desses adolescentes possivelmente serão alvo de buscas”, disse o delegado, lembrando que, mesmo que fique comprovado que tudo não passou de uma brincadeira infantil de mau gosto, uma história para tentar chamar a atenção, fatos como esse são “muito sérios” e têm consequências.

A Reitoria do IFG disse em nota que está apurando os fatos relacionados à condução de integrantes da comunidade acadêmica à delegacia, seguida de liberação, e tomará as providências cabíveis no âmbito da administração pública. A Reitoria reafirma sua posição em defesa da integridade física, da liberdade, da pluralidade de pensamento dos professores, dos técnico-administrativos e dos estudantes. A instituição confirmou que a presença de policiais está relacionada à investigação de suposta articulação para realização de 'grave atentado' contra o Câmpus Águas Lindas, no decorrer desta semana, durante as comemorações do aniversário do Câmpus.

*Estagiária sob a supervisão de Thiago Antunes

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