Em um exercício ficcional, Freud explicaria. Para colocar o presidente no divã, O DIA ouviu psicólogos e psicanalistas, que tentam decifrar o que passa na mente de Bolsonaro. Para o psicanalista e professor da USP, Christian Dunker, Bolsonaro se comporta como uma criança mimada com pais que fazem vista grossa para as suas atitudes questionáveis. “Os pais somos nós. Temos uma criança mimada, que tem ao redor de si um monte de gente aplaudindo. Precisamos dessa criança para que a gente possa se divertir e confirmar as nossas fantasias infantis”, explica. Mas há um outro lado. Bem mais preocupante, aponta o psicanalista. “Ele tem uma perversidade compartilhada por aqueles que estão em volta e querem se aproveitar disso. É como se dissessem: ‘Deixa eu governar aqui enquanto ele atrai os olhares para o outro lado’”, argumenta Dunker.
Mas esse mecanismo, segundo ele, gera uma certa frustração, que desencadeia um comportamento explosivo. “Os êxitos do governo não são do Bolsonaro. São do Rodrigo Maia (presidente da Câmara dos Deputados), do Paulo Guedes (ministro da Economia). O que se percebe é a reação de um impotente com raiva. Ele precisa gritar, passar por cima de códigos e de convenções”, teoriza.
O psicanalista Pedro Cattapan, professor da UFF, coloca o Bolsonaro no divã como um sujeito em crise por causa de um vazio existencial, capaz de criar uma espécie de inimigo imaginário, simbolizado pela guerra ao comunismo. Mesmo quando não existem os ‘comunistas’ para confrontá-lo. “Ele funciona de forma reativa. Precisa do inimigo para reagir. Se não há isso, perde força”. Para Claudia Melo, psicóloga e terapeuta cognitivo-comportamental, a agressividade Bolsonaro se agrava por causa do cargo que ocupa. “Não estamos falando de um adolescente. Estamos falando de um homem que está no poder e parece que ainda não compreendeu a sua posição”. A psicóloga Juliana Sato acrescenta um outro elemento à análise: uma aceleração mental capaz de fazer com que a mente entre em colapso por não conseguir equilibrar razão e emoção. “Ele não entra em contato com as próprias emoções e sentimentos. E, por isso, não dá importância
ao sentimento dos outros”.
expressar as suas ideias. Ele sempre falou aquilo que pensa. Faz as declarações dele do jeito que costuma fazer. Vejo uma franqueza. Isso é válido, porque estimula o diálogo e o debate. É um ponto positivo”, argumenta, enquanto o presidente senta no divã de um país em crise existencial.