Jornalistas saíram no tapa durante o programa - Reprodução / Jovem Pan
Jornalistas saíram no tapa durante o programaReprodução / Jovem Pan
Por O Dia
Rio - O jornalista Augusto Nunes agrediu Glenn Greenwald, do The Intercept, durante participação no programa Pânico, da Jovem Pan, nesta quinta-feira. O desentendimento entre os jornalistas aconteceu após Glenn relembrar uma declaração de Augusto sobre seus filhos adotivos. 
Ao começar a entrevista, Glenn afirmou que não sabia que Augusto Nunes estaria presente, mas que para ele estava tudo bem, pois acredita que é possível dialogar com qualquer um. Entretanto, o americano informou que antes de começar o debate político ele deveria questiona-lo sobre uma declaração que Augusto fez anteriormente. 
Publicidade
"Acredito no diálogo com qualquer um, inclusive com o Augusto Nunes. Mas, tem limites. Nós temos muitas divergências políticas e não tenho problema nenhum em ser criticado pelo meu trabalho. Eu critico ele também. Mas o que ele disse nesse canal Jovem Pan foi a coisa mais feia e suja que já vi em toda minha carreira como jornalista", começou Gleen. 
"Ele disse que um juiz de menores deveria investigar nossos filhos e decidir se nós vamos perder a guarda. Com base nenhuma. Acusando que nós estamos os abandonando, fazendo negligência. A coisa mais nojenta que eu vi na minha vida", complementou. 
Publicidade
Em seguida, Glenn questionou Augusto se ele realmente acreditava que juízes deveriam tirar a guarda dos filhos adotivos dele e do deputado federal David Miranda (PSOL), com quem o jornalista é casado. Ao que Augusto respondeu: "Essa é a prova que o Brasil criou um faroeste a brasileira. É que quem tem que se explicar e que comete crimes é quem fica cobrando quem age honestamente. Ouçam o que eu disse. Primeiro vocês vão perceber que ele não sabe identificar ironias. Não sabe identificar um ataque bem humorado. E eu convido ele a provar em que momento eu pedi que algum juizado fizesse isso. Disse apenas que o companheiro dele passa o tempo em Brasília e ele passa o tempo todo lidando com material roubado e questionei quem é que vai cuidar dos filhos? Era isso".   
Visivelmente irritado, Glenn interrompe Augusto e o chama de covarde. Augusto revida com um tapa no jornalista e produtores do programa entram em cena para intervir na briga. Por fim, Emílio Surita, apresentador do programa, pede para a transmissão ao vivo ser cortada. 
Publicidade
Assista ao vídeo: 
O Grupo Jovem Pan emitiu uma nota, na tarde desta quinta-feira, lamentando e repudiando o ocorrido. "A Jovem Pan pede desculpas aos ouvintes, espectadores e convidados desta edição do Pânico, inclusive Glenn Greenwald", escreveu a emissora. 
Publicidade
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) também emitiu uma nota, condenando também a posição de incitação à violência de membros e pessoas influentes no atual governo a partir deste episódio, como Carlos Bolsonaro e Olavo de Carvalho. 
Seguem as notas completas:
Publicidade
Jovem Pan
"A Jovem Pan lamenta o episódio ocorrido ao vivo no programa Pânico desta quinta-feira (7) entre os jornalistas Augusto Nunes e Glenn Greenwald.

Defensora vigilante dos princípios democráticos, do pluralismo de ideias e da liberdade de expressão, a Jovem Pan sempre abriu suas portas para convidados de diferentes campos ideológicos e com opiniões dissonantes, para que cada brasileiro forme seu juízo tendo acesso a visões variadas sobre os temas mais relevantes do momento.

Uma das principais marcas do Pânico é receber personalidades para o debate aberto e franco, bem-humorado e eventualmente ácido. Glenn Greenwald já participou da bancada em diversas outras oportunidades.

A liberdade de expressão e crítica concedida pela Jovem Pan a seus comentaristas e convidados, contudo, não se estende a nenhum tipo de ofensa e agressão. A empresa repudia com veemência esses comportamentos.
Publicidade
A Jovem Pan pede desculpas aos ouvintes, espectadores e convidados desta edição do Pânico, inclusive Glenn Greenwald.

Grupo Jovem Pan"
Abraji
Publicidade
"A agressão física de Augusto Nunes contra Glenn Greenwald, após uma discussão acalorada, deu início a uma onda de ataques à imprensa, na internet, como poucas vezes vimos nos últimos anos no Brasil.

A cena de violência, difundida exponencialmente nas redes sociais nesta quinta-feira, 7.nov.2019, passou a ser usada a seguir como exemplo de comportamento a ser adotado pelos descontentes com a imprensa em geral – a despeito do episódio em si envolver desavenças e comentários de cunho pessoal entre Nunes e Greenwald.

Como em outras ocasiões, membros do governo e pessoas influentes no poder difundiram mensagens de incitação direta à violência, como no caso de Olavo de Carvalho, ou de aprovação velada, como no caso de um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro.

A Abraji emite notas sobre ameaças a jornalistas no exercício da profissão. O debate ocorrido na emissora não corresponde a esse parâmetro. Entretanto, a onda de reações que se seguiu ao episódio dispara um alerta que não pode ser ignorado a respeito do estágio que a hostilidade aos jornalistas e aos veículos de imprensa atingiu no Brasil. Quem atiça esse clima de hostilidade tem intenção de calar vozes críticas e sufocar a liberdade de expressão - sem ela, as outras liberdades também morrerão.

Diretoria da Abraji, 7 de novembro de 2019."