31/07/2018 - AGÊNCIA DE NOTîCIAS - PARCEIRO - Pré-candidato à presidênca da República, Guilherme Boulos (PSOL), participa da série de encontros
31/07/2018 - AGÊNCIA DE NOTîCIAS - PARCEIRO - Pré-candidato à presidênca da República, Guilherme Boulos (PSOL), participa da série de encontros "Brasil em Debate", sabatina com presidenciáveis realizada pela Associação Comercial do Rio de Janeiro, na Casa do Empresário, no Centro do Rio, nesta terça-feira (31) - Foto: Paulo Carneiro/Parceiro/Agência O DiaPaulo Carneiro/Parceiro/Agência O Dia
Por ESTADÃO CONTEÚDO
São Paulo - Candidato derrotado na corrida presidencial de 2018, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, reafirmou nesta segunda-feira, 25, suas críticas à Operação Lava Jato, mas acrescentou não ter dúvidas de que houve práticas corruptas no governo petista.

Filiado ao PSOL, Boulos participa do seminário "Impactos Jurídicos da Lava Jato" organizado pela Trevisan Escola de Negócios e pelo Instituto para Reformas das Relações entre Estado e Empresas (IREE), em São Paulo.

"Um dos poucos consensos que temos hoje na política brasileira é o de que a Lava Jato foi decisiva, do ponto de vista político, para o resultado da eleição do ano passado. O presidente Bolsonaro, aliás, reconheceu isso recentemente, ao dizer que não teria sido eleito se não fosse a Lava Jato e o trabalho do juiz Sérgio Moro. E nós da esquerda temos exatamente esta mesma leitura", disse Boulos a uma plateia de juízes, desembargadores, advogados e estudantes de direito da Trevisan.

Para Boulos, a Lava Jato, enquanto fenômeno político, não foi criada pelo agora ministro Sérgio Moro, nem em 2014. A operação, segundo Boulos, é herdeira de um fenômeno político e midiático no Brasil que, se tiver um pai, não é o ex-juiz Moro, nem mesmo os procuradores.

"Se a Operação Lava Jato tiver um pai é Carlos Lacerda, porque o impacto político da Lava Jato é a reedição do organismo que traz, nos vários momentos da história brasileira, um tema de combate à corrupção como um enfrentamento político", disse Boulos, lembrando que no segundo mandato de Getúlio Vargas, em 1953, Carlos Lacerda, a partir de escândalos corriqueiros à política brasileira, entre os quais a irregularidade em concessões de casas lotéricas, cunhou a expressão "mar de lama"

"É um tema que se usa até hoje e serviu para dizer que o governo de Getúlio Vargas era uma corrupção só", criticou Boulos. Isso, acrescentou, reapareceu no governo de Juscelino que, coincidentemente, foi acusado por ter recebido um tríplex em Ipanema, no Rio, supostamente pago por empreiteiras e por palestras que teria feito no exterior e não declarado ao fisco.

Mas, de acordo com Boulos, está claro que o sistema político brasileiro chegou ao limite. "É evidente que é um sistema que reproduz estruturalmente práticas corruptas. É evidente que nos governos do PT, apesar das importantes políticas sociais que fizeram e que, na minha opinião, foi justamente por elas que o PT foi alvo de devassa, houve sim casos de corrupção. É evidente que houve casos de corrupção na Petrobras, gente que cometeu erros importantes", disse o líder do MTST.

Ele citou as leis que foram aprovadas no início de 2013 "que permitiram uma violação grave do direito de defesa, de garantias constitucionais, a Lei das Organizações Criminosas, a própria abstração em torno de como praticar a delação premiada a ponto de poder ser uma chantagem, como foi praticada frequentemente pela Operação Lava Jato".

Boulos reconhece que o Brasil tem problemas e a Lava Jato não surgiu apenas como operação com objetivos políticos. "Do meu ponto de vista, a solução para esse problema não é uma operação espetacular, não é uma operação que personalize o tema da corrupção através de um politivismo estreito que só atende às fogueiras de uma certa opinião pública estimulada. Opinião pública, vamos combinar, não é um termo neutro", disse, parafraseando Millôr Fernandes, segundo o qual "opinião pública é a opinião publicada".