O governador da Bahia, Rui Costa (PT), disse que uma reunião na semana que vem com a frente de senadores do Norte e do Nordeste deve discutir o tema. "Buscaremos uma reação do Parlamento para proteger a população contra ataques", afirmou Costa. Juntas, as duas regiões têm 48 dos 81 senadores, um número suficiente para aprovar grande parte das propostas legislativas na Casa.
Reportagem do Estadão/Broadcast revelou que a gestão Bolsonaro priorizou Sul e Sudeste na concessão de novos benefícios do Bolsa em janeiro de 2020, em detrimento da Região Nordeste, que concentra 36,8% das famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza na fila de espera do programa.
De acordo com os dados, o Nordeste recebeu 3% dos novos benefícios enquanto Sul e Sudeste responderam por 75% das novas concessões.
Costa se disse "perplexo" com os números e afirmou que qualquer tentativa do governo de cortar ou prejudicar a população nordestina é "inadmissível". A região foi a única em que Fernando Haddad (PT), opositor de Bolsonaro na corrida pela Presidência em 2018, venceu as eleições.
Segundo o governador baiano, o encolhimento do programa Bolsa Família já tem tido reflexos nos municípios nordestinos. Ele disse ter recebido relatos de prefeitos sobre a volta de pessoas pedindo cestas básicas para conseguir sobreviver. "É um quadro preocupante e desolador", disse Costa.
A bancada do PT no Senado ingressou com um pedido para que a Corte de contas dê início a uma auditoria. Na Câmara, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), com o apoio da bancada de seu partido, vai pedir a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as concessões do Bolsa Família no governo Bolsonaro. "Essa reportagem mostra a distorção e perversidade do governo para a região onde ele não teve voto."
Após a divulgação da reportagem, o Ministério da Cidadania, responsável pela gestão do Bolsa Família, disse em nota que o programa "tem sofrido ataques dos mais variados". Mesmo após três pedidos de esclarecimentos específicos sobre a disparidade regional, o Ministério da Cidadania não explicou até agora as razões para o porcentual menor no Nordeste.