A fala incomodou gestores da saúde e técnicos do ministério ouvidos pela reportagem. Reservadamente, eles dizem que a comparação é incorreta, pois a falta de testes não permite afirmar quantos casos e mortes o País tem de fato - ou seja, não considera a subnotificação.
Os dados apresentados por Teich de mortos por milhão são, ainda, distintos de números usados como base pelo próprio ministério. A Alemanha tem 63 mortos por milhão pela covid. A Itália, 415, e o Brasil, 14.
Os dados de Estados brasileiros são discrepantes. Amazonas (45 por milhão), Pernambuco (24), Rio (23), São Paulo (23) e Ceará (22) têm coeficiente de mortalidade muito alta, de acordo com dados de anteontem do próprio ministério. Procurada pela reportagem, a pasta não informou qual foi a fonte usada por Teich.
Internações
Conforme boletim da Saúde de anteontem, o Brasil já registrou 366% mais hospitalizações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em 2020 do que em 2019. O dado sugere um largo número de pacientes da covid-19 sem diagnóstico.
Na semana epidemiológica 13, que acaba no fim de março, foram 11 797 internações em 2020, ante 1.123 no ano passado. Cerca de 9 mil casos desta semana ainda estavam em investigação até segunda "Nossos números são um dos melhores. Qual o problema da covid? Assusta porque acomete muito rápido o sistema. E os sistemas de saúde não são feitos para ter ociosidade. Têm de trabalhar com eficiência máxima. Os hospitais trabalham no limite. Quando tem algo que sobrecarrega o sistema, é quase impossível conseguir se adaptar na velocidade necessária", disse Teich.
Para Julival Ribeiro, da Sociedade Brasileira de Infectologia, comparar o Brasil com outros países exige mais testes e mais dados. O ministério promete ter 46,2 milhões de exames na crise, mas só entregou 2,5 milhões até agora a Estados. Países que tiveram êxito no combate à doença, como a Coreia do Sul, fizeram a testagem em massa. "Nos Estados com isolamento social, postergamos um pouco (o aumento de casos). Não vêm ocorrendo ao mesmo tempo. Mas nunca vimos tanta pneumonia", diz Ribeiro.