O estudo publicado na revista científica Lancet concluiu que o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina, mesmo quando associados a outros antibióticos, aumenta o risco de morte por arritmia cardíaca em até 45% nos infectados pela covid-19. A cloroquina é defendida pelo governo Jair Bolsonaro como primeira opção de tratamento, inclusive para pacientes sem gravidade.
A Saúde já publica diariamente uma análise do compilado de estudos sobre possíveis tratamentos para a covid-19. Estes documentos têm repetido que a cloroquina, e nenhum outro medicamento, mostra resultados benéficos aos pacientes.
As análises do Ministério da Saúde foram ignoradas pelo governo ao divulgar nesta semana orientação do uso da cloroquina para todos os pacientes, como cobra o presidente Jair Bolsonaro. O documento do ministério tem forte poder político, mas não dita as regras do tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), como faria um protocolo de diretrizes terapêuticas. Apesar disso, autoridades temem que médicos e pacientes sejam estimulados ao uso da cloroquina, mesmo sem evidência de benefícios.
Uma autoridade do SUS, reservadamente, disse que o estudo publicado nesta sexta-feira, 21, na revista Lancet ainda não é o ideal, pois a avaliação foi feita sobre um banco de dados de pacientes, ou seja, tem impacto menor do que avaliações randomizadas e controladas. Ainda assim, traz fortes indícios para reforçar o risco do uso da cloroquina em larga escala, segundo a mesma fonte.
A pesquisa foi realizada com pacientes de 671 hospitais em seis continentes, internados entre 20 de dezembro de 2019 e 14 de abril deste ano. Das 96.032 pessoas analisadas, 14.888 foram tratadas com alguma variação ou combinação da cloroquina nas primeiras 48 horas de internação.
"Nós fomos incapazes de confirmar qualquer benefício da cloroquina ou da hidroxicloroquina em resultados de internação pela covid-19. Ambas as drogas foram associadas à diminuição de sobrevivência dos pacientes internados e a um aumento da frequência de arritmia ventricular quando usadas no tratamento da covid-19", conclui o estudo do professor de Harvard.