Bolsonaro efetiva Pazuello no Ministério da Saúde - Agência Brasil
Bolsonaro efetiva Pazuello no Ministério da SaúdeAgência Brasil
Por Letícia Moura e Maria Clara Matturo*

Próximo de chegar a 100 mil mortes por covid-19 no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu que as pessoas "toquem a vida". "A gente lamenta todas as mortes, vamos chegar a 100 mil, mas vamos tocar a vida e se safar desse problema", disse Bolsonaro em sua live semanal, na última quinta-feira, ao lado do ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello. Segundo o Ministério da Saúde, até ontem, o país registrou 99.572 mortes, sendo 1.079 óbitos nas últimas 24 horas. Ainda segundo a pasta, o Brasil contabilizou 2.962.442 casos confirmados e 50.230 ocorrências novas no último dia.

Para Marcos Valim, de 35 anos, que perdeu o pai, Sergio Gomes, de 68, em maio por causa do coronavírus, "se fosse qualquer outra pessoa dizendo isso, realmente, temos que tocar a vida, não podemos parar no que ocorreu. Mas nós não temos ação direta de responsabilidade". "Um chefe de Estado, que durante essa pandemia não deu a devida importância e credibilidade para a doença, acaba sendo uma irresponsabilidade dizer isso. Se tivesse acontecido, ao menos, uma demonstração de empatia em todo esse período de pandemia, seria compreensível essa fala", ponderou.

Hidroxicloroquina

Ainda durante a live, o Bolsonaro voltou a defender o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19, mesmo sem nenhuma comprovação científica da sua eficácia contra a infecção. "Quem não quer tomar cloroquina, não tente proibir, impedir quem queira tomar, afinal de contas, ainda não temos uma vacina e não temos um remédio comprovado cientificamente", afirmou. "A negação de um medicamento a quem está doente não pode ser de um prefeito ou governador. Quem decide é o médico", acrescentou o chefe do Executivo federal.

Também na transmissão ao vivo, o ministro interino Pazuello comparou a pandemia do coronavírus com a Aids na década de 1980. "Essa história do HIV é interessante fazer comparativo. Nós vivemos essa pandemia e os hábitos mudaram. As pessoas usam preservativo, diminuem convivência social em alguns casos, trocam gilete no barbeiro. Isso tudo não existia. O HIV continua existindo, a maioria dos contaminados se tratam e vida que segue. E assim que vai ser com o coronavírus", afirmou.

 

Especialistas reprovam a fala do presidente Bolsonaro
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Entre os profissionais de saúde, a fala de Bolsonaro deu o que falar. Segundo a médica geriatra Roberta França, a posição do governante não é surpreendente.
"A previsão é de que teremos 200 milhões de infectados até outubro, segundo dados da Fiocruz e a fala do presidente não me espanta, visto que essa sempre foi a postura dele. Essa fala nada mais é do que ele fez até agora, segue tocando a vida independente do número de mortos".
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Para o biomédico virologista Raphael Rangel, o número é consequência de atitudes como essa: "Se estamos nesse patamar lamentável de vidas perdidas, a responsabilidade é dos governantes, que negligenciaram algo tão importante e continuam fazendo isso. Isso só enfraquece o nosso discurso científico e o cuidado que as pessoas devem ter uma com as outras nesse momento tão delicado".
Em nota, a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) afirmou que "deseja - e se coloca a disposição em cooperar - que os governos federal e estaduais sigam critérios científicos para que a sociedade brasileira possa superar essa pandemia da covid-19 da forma mais rápida e eficiente possível".
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*Estagiárias sob supervisão de Martha Imenes 
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