Oi se junta às rivais Claro e Vivo, que começaram a ativar o 5G em São Paulo, Rio e mais algumas capitais desde julho - Pixabay
Oi se junta às rivais Claro e Vivo, que começaram a ativar o 5G em São Paulo, Rio e mais algumas capitais desde julhoPixabay
Por Julia Noia*

Realizar o download de filmes em questão de segundos e conectar dispositivos domésticos para entender o cotidiano humano parece um cenário de produção futurística, mas o grande símbolo do 'futuro' faz parte do presente. A tecnologia 5G deu seus primeiros passos em 2013 e já foi implementada em países como Coreia do Sul, China e Estados Unidos. No Brasil, entretanto, a corrida pelo 5G avança com lentidão. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) anunciou, no final de junho, que o leilão da tecnologia deverá acontecer no primeiro semestre de 2021, e especialistas estimam que, em 2023, fará parte do cotidiano brasileiro com significativas transformações socioeconômicas. 

O 5G é um conjunto de tecnologias que sucede o 4G na garantia do aumento do fluxo de dados pela internet. Mas vai além da conectividade e representa um novo marco no mundo em rede. Com o aumento de banda, a difusão de dispositivos com experiências em realidade aumentada e controle a distância de objetos vai facilitar a implementação da principal revolução do 5G: a Internet das Coisas. A partir da conectividade entre aparelhos como eletrodomésticos e dispositivos móveis, os dados passam a ser criados pelo ambiente no qual seres humanos estão inseridos, e não propriamente pelas pessoas. 

"O dispositivo sabe que você sempre toma café quando está voltando para casa e, quando seu relógio avisa que está chegando em casa pela geolocalização, a cafeteira inteligente começa a funcionar. A tecnologia também torna cidades inteligentes porque podem ser mapeadas por meio dos dados pessoais", explica Claudio Miceli, professor do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Coppe/UFRJ e especialista em Internet das Coisas.

Como demanda baixo investimento, Miceli destaca que o acesso à internet veloz poderá ser democratizado, mesmo em áreas remotas. Mas com as novas tecnologias, a sociedade terá que enfrentar impactos negativos, como a geração de grandes quantidades de lixo eletrônico, já que o 5G ainda não é compatível com a maioria dos dispositivos - há, no Brasil, apenas um celular que comporta a tecnologia, lançado em julho pela Motorola.

"Como ficará a lei de proteção geral de dados quando o sensor de dados fizer parte dessas ferramentas de internet das coisas? Poucos têm noção do que está por trás de ver filme no celular e falar com os amigos pelo celular", pondera.

LEILÃO ADIADO

Em fevereiro, saiu o edital para o leilão do 5G, que a Anatel chamou de "a maior licitação de frequências da história". Mas já foi adiado para 2021.

Para o economista Mauro Rochlin, não há mais como postergar a licitação e, uma vez implementada, o Brasil terá que lidar com as consequências econômicas.

"A questão deve ser avaliada com cuidado porque tem o desdobramento de como a indústria tecnológica vai se desenvolver no país".

A mitologia do leilão do 5G
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O aporte da tecnologia 5G no Brasil é estudada desde 2019 e, em fevereiro deste ano, saiu do papel o edital para o leilão da tecnologia, marco que a Anatel avalia como "a maior licitação de frequências da história" do órgão. Entretanto, em junho deste ano, o presidente da agência, Leonardo Euler, anunciou que foi adiado para 2021.
Para o economista Mauro Rochlin, não há mais como postergar a licitação e, uma vez implementada, o Brasil terá que lidar com as consequências econômicas.
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"Temos que entender o que isso vai representar no que tange à transferência ou dependência tecnológica do Brasil. Quando o leilão for realizado, a questão deve ser avaliada com cuidado porque tem todo um desdobramento em como a indústria tecnológica vai se desenvolver no país", alerta. Segundo ele, o leilão vai representar um salto enorme em termos de produtibilidade tecnológica.
Claudio Miceli espera que, assim que houver o leilão, operadoras de telefonia tomem a dianteira para a produção da tecnologia - na vanguarda, a Claro lançou, no mês passado, o 5G DSS, uma transição entre 4G e 5G. Segundo o professor da Coppe, vai haver aumento do valor de franquias quando a infraestrutura estiver incipiente, mas estima que a tecnologia 5G vai ser popularizada cerca de um a dois anos após o leilão, ou seja, em 2023.  
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Tecnologia no cenário geopolítico: China lidera
A expansão de tecnologias do 5G transcende interesses de telecomunicações, e a disputa passa para o plano geopolítico. Isso porque uma das principais empresas que fornece a infraestrutura da nova conectividade é a Huawei, influente empresa chinesa de aparelhos celulares, e a principal concorrente dela é a Qualcomm, empresa estadunidense de chips. Portanto, a liderança pelo 5G é mais uma batalha na incessante guerra comercial entre Estados Unidos e China, travada com sanções e poderio tecnológico desde 2018.
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Para o professor da Fundação Getúlio Vargas, Mauro Rochlin, é prematuro definir para onde o Brasil vai pender, e essa será uma decisão capciosa, dado que China e Estados Unidos são os nossos principais parceiros econômicos.
"Ambos estão fazendo pressão muito forte para instalar suas empresas aqui. O cenário ainda é muito confuso e envolve a guerra comercial com a China e a imposição de barreiras à entrada da Huawei pelos Estados Unidos", destaca. Segundo ele, diante do contexto geopolítico, o Brasil representa um grande e, portanto, importante mercado consumidor.
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Do ponto de vista tecnológico, entretanto, não há dúvidas. Miceli bate o martelo: a China tem o produto mais bem desenvolvido. O especialista reforça que, apesar de outras gigantes como Qualcomm e Samsung terem o 5G, a tecnologia chinesa foi vanguardista e, portanto, está mais bem preparada para o mercado.
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Novos horizontes econômicos
A corrida pela tecnologia 5G deixou o Brasil bem atrás de grandes potências, como China, Estados Unidos e diversos países da Europa, mas o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas Mauro Rochlin adianta que é um movimento inevitável nos setores industrial e de serviços.
"A indústria representa de 15% a 17% do PIB brasileiro, mas o impacto do 5G nos serviços vai ser tremendo nos desdobramentos. Certamente vão surgir novos ofícios e formas de se introduzir no mercado, e parece que vai demandar um trabalho qualificado", afirma.
O especialista aponta que, no médio e longo prazo, haverá a criação de novos postos de trabalho qualificado, sobretudo em áreas técnicas como engenharia, medicina e física, que vão demandar profissionais adaptados ao 5G. Entretanto, no curto prazo, o economista alerta para a redução de empregos não qualificados por conta do ganho em produtividade e eficiência nos setores industrial e de serviços.
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