Nomes que devem concorrer em 2022 para presidência - Reprodução
Nomes que devem concorrer em 2022 para presidênciaReprodução
Por Luiz Franco
Brasil - Com a derrota de Donald Trump nos Estados Unidos e algumas surpresas nas eleições municipais deste ano - como a desidratação de candidatos apoiados por Bolsonaro e a provável ida de Guilherme Boulos (PSOL) para o segundo turno em São Paulo - candidatos de todos os espectros políticos se articulam para formar uma chapa mirando as eleições presidenciais de 2022.
No dia seguinte da vitória de Biden, o apresentador de televisão Luciano Huck e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, se anunciaram como uma "terceira via" e foram comparados ao líder democrata. Já no campo da esquerda, um encontro entre Lula e Ciro Gomes em São Paulo também sugere uma articulação de olho na corrida presidencial. Mas, afinal, para qual direção essas movimentações apontam? Faz sentido falar em um "Biden brasileiro"?
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"Biden brasileiro"
"EUA e Brasil são muito diferentes", explica o cientista político e professor da UERJ, João Feres Junior. "Os EUA têm uma tendência centrista muito forte no sistema político deles, representada pelo bipartidarismo. Não é bem assim no Brasil".
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O filósofo e pesquisador Moysés Pinto Neto também destaca a diferença entre o contexto político dos dois países. "Lá, só há dois partidos fortes. Se a gente olha para o espectro político, os EUA tem um partido de centro-direita (mas que também engloba a esquerda) e um de extrema-direita. É como se a polarização fosse entre PSDB e PSL. Não tem muito como comparar", atesta.
"Huck e Moro não são opções de centro", continua o filósofo. "Huck é uma opção de centro-direita - um social liberalismo com tendências culturalmente progressistas e economicamente pró-austeridade. Já Moro é direita, no limite da direita democrática, isto é: ele está mais à direita possível dentro do que é aceitável em uma democracia", afirma.
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Bolsonaro enfraquecido
Para João Feres, a possível chapa encabeçada pelo apresentador disputa justamente uma boa parte dos votos de Bolsonaro em 2018, que se tornam mais incertos diante do enfraquecimento de candidaturas ditas "bolsonaristas" nas eleições municipais deste ano. "É uma articulação para competir com a extrema-direita", ele diz.
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"Vamos analisar 2018: Bolsonaro ganhou sem estrutura partidária, mas se apresentando como um candidato novo, um outsider. Esse tipo de capital eleitoral é muito mais fácil de ser mobilizado numa primeira eleição do que numa campanha de reeleição. Agora, há vários elementos que vão contra a possibilidade de Bolsonaro se apresentar como um outsider. Ao mesmo tempo em que ele se negou a formar uma estrutura partidária, costurou uma aliança com o Centrão e é um presidente "sem partido". Mesmo que ele tenha carisma e base eleitoral, uma boa base dos votos que o elegeram não é "bolsonarista", mas sim de pessoas que simplesmente estavam descontentes com a política e queriam algo novo - e isso ele não vai poder mais entregar. Haverá muita disputa por esses votos", conclui.
Apesar disso, o professor pontua que "não é garantido que as eleições municipais venham a sinalizar tendências". "Partidos com grandes vitórias nas eleições municipais não necessariamente vão ser competitivos nas eleições federais, como mostrou o PSDB nas últimas eleições", disse.
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Articulações
"O que está em disputa é se os campos da direita e da esquerda vão conseguir se organizar em apenas dois blocos, ou se serão mais blocos", afirma Moysés Pinto Neto. "Por exemplo, no campo da direita temos uma disputa envolvendo Moro, Mandetta, Luciano Huck e Doria. São quatro nomes, mas apenas dois cargos (presidente e vice), então, não é certo de que eles vão conseguir fechar uma candidatura só".
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"Já no campo da esquerda", continua. "Estamos nessa divisão entre o petismo e Ciro Gomes, com Ciro forçando candidaturas para construir um campo ao redor dele. É realmente ambicioso, no sentido de achar que, diante da crise do PT, há espaço para que o PDT construa um movimento político ali, uma espécie de neobrizolismo, que recupera raízes trabalhistas e esse projeto nacional. Ciro está engajado nisso. E o PT, com a sua trajetória incontestavelmente hegemonista - até por realmente ser o partido mais forte e mais capilarizado da esquerda - vive uma clara diminuição e uma dificuldade de renovação de seus quadros, além da própria dependência do Lula".
"Tem também o PSOL, que é uma força emergente, mas mais a longo prazo. Ele tem a sua limitação estrutural por ser um partido muito ligado à classe média, mas que está se renovando, com lideranças do movimento negro, do movimento feminista, do movimento trans. Vamos ver o que vai acontecer", conclui.