Oposição protocola novo pedido de impeachment e pede saída urgente de Bolsonaro - AFP
Oposição protocola novo pedido de impeachment e pede saída urgente de BolsonaroAFP
Por Fernando Faria
O Brasil fecha o triste ano da pandemia com números lamentáveis: mais de 190 mil mortos e quase 7,5 milhões de casos. Somos o segundo país do mundo nesse ranking de dor e lágrimas causadas pelos óbitos, atrás somente dos EUA. Os números são assustadores e refletem os muitos equívocos nas várias esferas de poder no combate à covid-19. Se houvesse uma cartilha de erros a ser seguida, sem dúvida, o redator seria o presidente Jair Bolsonaro. Sem máscara, provocou aglomerações, trabalhou contra o isolamento social, desinformou e defendeu o uso da cloroquina, medicamento que jamais teve a eficácia comprovada na luta contra a doença.
O país trocou duas vezes o ministro da Saúde em plena pandemia. O ortopedista Luiz Henrique Mandetta foi demitido pela alta popularidade, o que incomodava muito o presidente da República, que também resistia ferozmente a aceitar o isolamento social como uma das principais armas no combate à doença. O oncologista Nelson Teich foi nomeado no mesmo dia: "Desejo êxito a meu sucessor", escreveu Mandetta. Em vão.
Publicidade
Teich pediu demissão depois de apenas 29 dias no ministério, por não resistir à enorme pressão de Bolsonaro para que mudasse o protocolo sobre o uso da cloroquina e flexibilizasse o isolamento social: "Tenho um nome a zelar", desabafou Teich com amigos. A Saúde passou então às mãos do general Eduardo Pazuello, que, depois, publicamente, admitiu desconhecer até o que era o SUS (Sistema Único de Saúde).
Bolsonaro se contaminou pela covid e, claro, aproveitou o período de tratamento para fazer propaganda da cloroquina. Chegou ao cúmulo de exibir uma caixa do medicamento para as emas que vivem no Palácio da Alvorada.
Publicidade
E agora, como uma espécie de último ato num ano tão trágico, o presidente questiona a eficácia das vacinas, algo aguardado ansiosamente pela população do mundo inteiro. Renega a Ciência e alimenta o fogo com gasolina, quando deveria ser o primeiro a agir como bombeiro e a mostrar o melhor caminho para que os brasileiros fugissem do inferno da covid. Não à toa, foi chamado em artigo da revista britânica 'The Economist' de BolsoNero, numa referência ao imperador que entrou para a história por incendiar Roma. Mas e daí? Bolsonaro já disse que não é coveiro. Talvez ache que os mortos não sejam problema dele...
CONFIRA ALGUMAS DAS FRASES DO PRESIDENTE:
Publicidade
9 de março (o país tinha 25 casos da covid-19)
"Tem a questão do coronavírus também que, no meu entender, está superdimensionado o poder destruidor desse vírus"
Em evento em Miami, nos Estados Unidos

24 de março (2.201 casos, 46 mortos)
"Pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria acometido, quando muito, de uma gripezinha ou resfriadinho"
Em pronunciamento na TV

26 de março (2.915 casos, 77 mortos)
"O brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê cara pulando em esgoto ali, sai, mergulha, tá certo? E não acontece nada com ele" 
Ao ser questionado se o Brasil não chegaria à situação dos EUA

27 de março (3.417 casos, 92 mortos)
"Alguns vão morrer? Vão morrer, lamento, essa é a vida. Não podemos parar fábricas de automóveis porque tem 60 mil mortos no trânsito por ano"
Em entrevista na Band

29 de março (4.269 casos, 136 mortos)
"Essa é uma realidade, o vírus tá aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, porra. Não como um moleque. É a vida. Tomos nós iremos morrer um dia"
Ao justificar caminhada que provocou aglomeração

1º de abril (6.840 casos, 242 mortos)
"O vírus é igual a uma chuva. Ele vem e você vai se molhar, mas não vai morrer afogado",
Em entrevista na Band

12 de abril (22.206 casos, 1.225 mortos)
"Quarenta dias depois parece que está começando a ir embora essa questão do vírus"
Em live com líderes religiosos no Domingo de Páscoa

20 de abril (40.616 casos, 2.584 mortos)
"Eu não sou coveiro, tá certo?"
Em resposta sobre o salto no número de mortes

28 de abril (72.149 casos, 5.050 mortos)
"E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre"
Em reposta sobre o país ter alcançado 5 mil óbitos

19 de maio (271.628 casos, 17.971 mortos)
"Você não é obrigado a tomar cloroquina. Quem é de direita toma cloroquina. Quem é de esquerda toma Tubaína”
Em live com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello

10 de junho (772.416 casos, 39.680 mortos)
"Cobre do seu governador, saia daqui'
Em resposta a uma apoiadora sobre o combate à covid

31 de julho (2.662.485 casos, 92.475 mortos)
"Eu estou no grupo de risco. Agora, eu nunca negligenciei. Eu sabia que um dia ia pegar. Infelizmente, acho que quase todos vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em visita a Bagé, no Rio Grande do Sul

24 de outubro (5.380.635 casos, 156.903 mortos)
"Vacina obrigatória só aqui no Faísca"
Em selfie com seu cachorro nas redes sociais

10 de novembro (5.700.044 casos, 162.829 mortos)
"O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha"
Ao se referir à morte de voluntário da vacina Coronavac (depois, soube-se que foi suicídio)

10 de novembro
"Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas. Temos que enfrentar de peito aberto, lutar. Que geração é essa nossa?"
Em lançamento de programa federal de turismo
15 de dezembro (6.970.034 casos, 182.700 mortos)
"Eu não vou tomar a vacina e ponto final. Minha vida está em risco? O problema é meu. E ponto final"
Em entrevista na Band
Publicidade
18 de dezembro (7.162.978 casos, 185.650 mortos)
"Se você virar um jacaré, é problema de você"
Sobre a vacina da Pfizer