A pesquisa mostra a forma com que Bolsonaro usou todos os poderes constitucionais para fazer valer a sua agenda, minimizar a pandemia e boicotar ações de estados. O estudo lembra que o presidente iniciou, em abril do ano passado, uma "campanha agressiva" em apoio ao uso da cloroquina, remédio ineficaz para a Covid. Essa posição acabou derrubando dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, e colocando o general Eduardo Pazuello no cargo. O texto aponta que Pazuello trocou técnicos por militares em cargos gerenciais importantes no Ministério da Saúde, "decisão duramente criticada pela comunidade da saúde pública".
Elize destaca que o presidente tem o poder de indicar e exonerar ministros, mas que não é comum uma intervenção tão forte. "Bolsonaro interferiu no Ministério da Saúde como nunca antes visto no período democrático. Ele interveio em protocolos de tratamento e até no modo de divulgação dos dados da pandemia."
Outras ações de Bolsonaro que dificultaram o enfrentamento da pandemia são mencionadas no estudo. Uma delas foi a demora no fechamento das fronteiras terrestres e aéreas, que estão sob a jurisdição federal. O presidente também editou medidas provisórias para atrapalhar as ações de governadores, como a que incluiu dezenas de serviços na lista de essenciais - de igrejas a salões de beleza. Essa foi uma clara tentativa de impedir o fechamento de atividades, ação importante para garantir o isolamento social e diminuir a disseminação do vírus.
O estudo também diz que Bolsonaro defendeu políticas de saúde que refletem a "pseudociência" e o "negacionismo" e contribuiu para a desinformação sobre a pandemia. Ele decidiu ignorar as orientações da OMS e as políticas de saúde baseadas em evidência temendo que isso pudesse gerar consequências econômicas negativas, diz a pesquisa. O chefe do executivo também relutou em liberar o auxílio emergencial.
"Houve pouca coordenação entre os ministérios da Economia e da Saúde. Para combater a pandemia deve haver políticas sociais que protejam os trabalhadores e permitam às pessoas ficarem em casa", diz Elize. A pesquisadora fala que a falta de alinhamento entre as políticas sociais e de saúde também aconteceu em alguns países, enquanto outros souberam manejá-las de forma adequada. Um dos países que conseguiu fazer isso foi a Alemanha, criando pacotes econômicos com objetivo de estimular a economia, apoiar empresas, proteger empregos e mitigar o impacto da crise em pessoas menos privilegiadas.
Em relação ao Brasil, a pesquisa diz que o auxílio emergencial foi a política social mais importante durante a pandemia, garantindo a sobrevivência de muitos cidadãos durante o período em que foi disponibilizado. Por outro lado, o texto lembra que o Ministério da Economia atrasou o início do programa e que houve uma disputa na Câmara dos Deputados para que o valor fosse fixado em R$ 600 - o governo federal queria um auxílio de R$ 200
O estudo conclui que Bolsonaro fez de tudo para negar o conhecimento científico e atrapalhar o combate à pandemia. O estrago causado pelo coronavírus no Brasil só não foi maior, segundo a pesquisa, porque o País tem uma infraestrutura de vigilância sanitária bem desenvolvida para lidar com pandemias. A rede de atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS) também foi apontada como essencial para mitigar o impacto da covid-19.
A atuação dos Estados e prefeituras foi destacada como outro fator que ajudou a controlar o caos no País. O estudo diz que os governadores lideraram a resposta do Brasil à pandemia e ganharam popularidade porque seguiram as orientações da ciência, o que parece ter "enfurecido" o presidente e seus apoiadores.
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