A procura por imunizantes já vinha em declínio nos últimos anos, mas a pandemia fez com que essa busca caísse ainda mais. "Nos últimos 5 anos essa queda na imunização vinha se acentuando de ano a ano. Com a pandemia, em 2020, ela foi muito maior. Os dados baixam de 60% a 70% da cobertura vacinal, sendo a maior parte nas vacinas do primeiro ano de vida ", explica o médico infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBI).
Além do risco pessoal de adiar a vacinação e contrair essas doenças, o infectologista explica que há também o coletivo. "Muitas pessoas adoecendo, a doença voltando a ocorrer com mais frequência na comunidade e o cenário favorável para a reintrodução dessas que já estavam controladas, esses são alguns dos riscos. Tem a questão individual e a de saúde pública também, que essas comorbidades podem voltar e figurar entre as causas principais de mortalidade infantil, hospitalização e todas as consequências delas".
Rosana Camargo, mãe do Guilherme, seu filho mais novo, preferiu não arriscar. O menino de 2 anos e meio está com algumas vacinas em atraso devido à pandemia de Covid-19. Além do receio de contaminação, a autônoma e dona de casa disse que a demora no cadastro do filho no posto de saúde também fez com que a vacinação fosse adiada.
"Quando o Guilherme nasceu, ele teve uns probleminhas respiratórios, então ficou na UTI. Ele começou a passar no pediatra e fazia fisioterapia no hospital e, quando recebeu alta, me falaram 'olha, aqui com a gente terminou, agora você pode fazer a carteirinha dele e começar a passar com ele no postinho'. Aí nessa correria de tentar fazer a matrícula, eu chegava no posto e não tinha data, outra hora não tinha a documentação necessária para fazer o registro…. Foi passando, passando e em seguida veio a pandemia", conta a mulher.
Rosana não encontrou a carteira de vacinação de Guilherme, mas disse que o filho só deixou de tomar os imunizantes depois que a quarentena foi decretada no Estado de São Paulo, em março de 2020. "Não consigo fazer ideia da última vacina, mas ele tomou todas certas, as que ele deixou de tomar foi a partir do início da pandemia, e eu deixei de dar por medo mesmo".
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em caso de sintomas, a pessoa deve seguir em isolamento social por pelo menos 13 dias, sendo que os últimos três devem ser livres de sinais de contaminação.
"A Autarquia Municipal de Saúde esclarece que todas as unidades de saúde do município disponibilizam testes para Covid-19 aos municípios e também para qualquer funcionário que apresente sintoma da doença. Conforme determina o protocolo, a partir da coleta do teste, o paciente se mantém isolado até o resultado do exame. No caso de resultado positivo, o afastamento é de até 14 dias, a contar da data dos primeiros sintomas e não da data do resultado do exame", escreveu a Prefeitura.
A campanha de vacinação contra a gripe teve início no último dia 12, e o Ministério da Saúde estima que sejam vacinadas 79,7 milhões de pessoas. Em 2021, as crianças de 6 meses a menores de 6 anos, que antes estavam no fim da fila, tiveram a ordem invertida e também foram incluídas no grupo prioritário de imunização contra a influenza .
Essa inversão foi feita para que a vacinação da gripe não coincida com a da Covid-19, mas também para evitar a contaminação pelo vírus da influenza de maneira geral, explica Kfouri. "Entre as crianças, 20% a 30% são acometidas pelo vírus da influenza todo ano. Diferente da Covid-19, a criança é a entrada do vírus da gripe na família, é ela que mais transmite, mais se hospitaliza, tem mais entrada em consultas para doenças em prontos-socorros, usa antibióticos, tem complicação, infecção de ouvido… Então, a carga da gripe na criança é enorme".
O ministério alerta que a vacinação contra a influenza é importante para prevenir o surgimento de complicações decorrentes da doença, óbitos, internações e a sobrecarga nos serviços de saúde, além de reduzir os sintomas que podem ser confundidos com os da Covid-19.
Quem pode ser imunizado nessa campanha?
A vacinação está sendo feita de forma escalonada, dividindo os grupos prioritários em três etapas. Cidades e estados podem fazer ajustes nas datas dependendo da situação de cada região. Além disso, também haverá um chamado "Dia D", um sábado em que unidades de saúde e outros locais, como parques e shoppings, aplicarão a vacina para aumentar a escala de imunização. Os municípios terão autonomia para definir os dias dessa mobilização.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.