CPI da Covid pretende ouvir 'negacionistas' e Osmar Terra pode ser o primeiro
O objetivo é investigar um possível aconselhamento paralelo ao presidente Jair Bolsonaro na condução da pandemia
Rio - O senador Randolfe Rodrigues (Rede Sustentabilidade), vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, sinalizou que pretende chamar o deputado Osmar Terra (MDB) para falar na Comissão sobre suas falas e atitudes negacionistas em relação ao novo coronavírus e à crise sanitária instalada no Brasil.
Terra foi ministro da Cidadania do governo Bolsonaro e repetiu em várias oportunidades que a pandemia de covid-19 não seria grave, e que a vacina não seria necessária.
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A CPI pretende obter informações sobre um possível "aconselhamento paralelo" ao presidente Jair Bolsonaro, que veio à torna no depoimento do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, o primeiro a depor na CPI, no dia 4 de maio. Ele afirmou que Jair Bolsonaro (sem partido) era aconselhado por outras pessoas em detrimento do que era recomendado pela pasta.
Em diversos momentos, Osmar Terra minimizou a pandemia. Em março de 2020, ele declarou acreditar que "o número de falidos vai ser muito maior que o de pessoas que vão morrer por causa da epidemia. Aliás, vai ser um número pequeno [de mortos]. Eu acho que vai ser muito menor do que o número do H1N1".
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No mesmo mês, em entrevista ao apresentador José Luiz Datena (Rede Bandeirantes), por telefone, Bolsonaro deixa claro a influência exercida por Terra sobre ele. "Eu tenho conversado com o Osmar Terra, que já enfrentou o H1N1 em 2009 e 2010 e entende bastante do assunto. Ele fala que tem um fantasma da curva. Não é isso tudo. De qualquer maneira, o número de infectados será o mesmo", disse.
No mês seguinte, ainda no início da pandemia no Brasil, quando já havia 14.049 casos confirmados do novo coronavírus (Sars-Cov-2) e 688 mortes, Terra também concedeu entrevista a Datena por telefone.
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Na ocasião, ele disse que "a mortalidade que vai ter dessa epidemia não vai ser de um milhão [de pessoas], como estão dizendo alguns seguidores do Imperial College. Não vai ser 500 mil e nem 140 mil, como eu ouvi de um técnico do Ministério da Saúde. Vai morrer menos gente dessa epidemia do que morre, todos os anos, de gripe sazonal".
Em maio de 2020, com números mais altos de infectados e mortos (414.661 e 25.697 respectivamente) pela covid-19, ele chegou a dizer que não haveria possibilidade de uma segunda onda, que era algo divulgado apenas "para assustar".
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No final de setembro, quando já havia mais de 143 mil mortos da pandemia no Brasil, Osmar Terra negou a importância da vacina. "Vacina, esqueçam. A vacina não é coisa para agora. Estão inventando várias mentiras", declarou.
Em dezembro, quando o país registrou um total de mais de 178 mil óbitos, vítimas do novo coronavírus, Terra disse, em entrevista à rádio Jovem Pan, que “o vírus termina a epidemia sozinha, ele faz uma vacinação natural da população”. Em fevereiro de 2021, Terra afirmou que o Brasil estava chegando ao fim da pandemia e, por isso, a vacina não seria necessária.
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Além de Osmar Terra, outros políticos negacionistas pode ser chamados a depor, como Carla Zambeli (PSL) - que, dentre outras ações e falas, desrespeitou as regras de proteção contra a Covid-19, aglomerando em um protesto em Brasília no último domingo, 16, sem usar máscara - e Bia Kicis (PSL), que, em janeiro deste ano, fez um vídeo ensinando um suposto “truque” para não usar máscara nas ruas e estabelecimentos.
Outros apoiadores do governo Bolsonaro, como o comentarista da Globo News Alexandre Garcia, que recentemente apagou diversos vídeos de seu canal do Youtube em que defendia o uso da cloroquina, também podem ser intimidados a depor na CPI da Covid-19.
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Os próximos depoimentos marcados são os de Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores; Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde; e Mayra Pinheiro, conhecida como "capitã cloroquina", secretária de gestão do Trabalho e da educação na saúde do Ministério da Saúde.
Até o momento, seis pessoas já foram ouvidas: os ex-ministros da saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich; o atual ministro Marcelo Queiroga; o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres; o ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten; e o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo.