Rio de Janeiro - RJ - 31/07/2019 - Patrulha Maria da Penha Guardiões da Vida - Polícia Militar vai colocar em prática o projeto Patrulha Maria da Penha Guardiões da Vida. O projeto vai contar com policiais treinados para atender casos de violência contra a mulher. Foto: Reginaldo Pimenta/Agência O DiaReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Um evento violento aconteceu a cada 33 minutos em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Ceará, de junho de 2019 a maio de 2021. A constatação é do relatório A Vida Resiste: Além dos Dados da Violência, da Rede de Observatórios de Segurança, lançado nesta quinta-feira, 22. Foram roubos, feminicídios, ataques contra lojas, uso excessivo da força pela Polícia, linchamentos, episódios de racismo e outros.
O trabalho mostrou também, nos cinco Estados, a liderança paulista em números absolutos de casos de violência contra a mulher (1375) e de saques contra o comércio (267). No Rio, só em 2021, houve em média oito operações policiais por dia, apesar das restrições impostas pelo Supremo Tribunal Federal para ações em favelas. O estudo, porém, não separa as incursões em comunidades, que são maioria, das demais.
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O relatório usa dados compilados nos últimos dois anos nos cinco Estados. Segundo os responsáveis pelo estudo, entre junho de 2019 e maio deste ano foram identificados 31.535 eventos violentos no universo pesquisado. Mais da metade - 18.037 registros - ocorreram em ações policiais.
Apenas no Rio, foram 5.617 ações da polícia, com 856 mortes e 727 feridos. Os dados são compilados com base em informações publicadas diariamente em dezenas de veículos de imprensa e nas redes sociais. Segundo a Rede, houve dificuldades para conseguir informações oficiais e transparentes sobre criminalidade e violência.
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"A Rede é exatamente a experiência de não depender dos números públicos", disse a cientista social Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios da Segurança. "Buscamos os números e nosso monitoramento acompanhando diariamente o que é publicado nos meios de comunicação, nas redes sociais, sites e em grupos de WhatsApp e Telegram. A gente não depende dos números oficiais Produzimos números independentes que, junto com os oficiais, podem nos ajudar a entender o que está acontecendo. Em outras pesquisas que fizemos estamos percebendo que acesso a dados públicos pioraram muito", afirma.
O grupo monitora 16 indicadores. Apesar de ações policiais e eventos com armas de fogo ocuparem a maior parte do noticiário policial, outros tipos de violência também são considerados.
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Período registrou 130 assassinatos de policiais, menos da metade em serviço
A Rede apontou ainda que em dois anos 388 policiais no Estado do Rio foram mortos ou feridos - 130 morreram. Mais da metade deles não estava em serviço no momento do crime. No Nordeste, os registros de ações policiais em Pernambuco dobraram do primeiro para o segundo ano.
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Ainda assim, a Bahia foi o Estado que teve o maior número de mortes em operações (461). O Estado também lidera em número de chacinas na região, com 74 casos. Considerando todos os Estados analisados pela Rede, a Bahia fica atrás apenas do Rio, que registrou 92 chacinas.
SP liderou em números de saques contra o comércio; pandemia é possível causa
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Segundo o monitoramento, o período analisado registrou 280 casos de saque contra o comércio - 267 em São Paulo. No Estado, foram 29 casos na capital, 16 no restante da região metropolitana e 222 no interior.Considerando apenas as capitais, São Paulo também lidera. Os pesquisadores incluíram esse indicador no estudo por causa da ´pandemia de covid-19. A crise econômica causada pela doença, que fechou empresas e aumentou a pobreza, é possível causa desses ataques.
"Saques são um tipo de dinâmica criminal muito raro no Brasil", disse Silvia Ramos. "Criamos esse indicador por causa da pandemia, mas o número que observamos foi muito pequeno e basicamente concentrado em São Paulo. São números irrelevantes perto dos nossos números de cerca de 30 mil eventos de violência em dois anos. Essa diferença em relação à expectativa que se teve dentro do pior período da pandemia se deveu às milhares e milhares de ações locais, de grupos comunitários, de doação de cestas básicas e de materiais de higiene, com a participação de grandes empresas ou mesmo de ações de comerciantes locais."
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Os pesquisadores consideram que os números levantados podem ser comparados entre os diferentes estados. A metodologia usada é a mesma, com dezenas de fontes de consulta sendo analisadas todos os dias. A partir de agosto, a Rede vai incorporar mais duas unidades da Federação: Maranhão e Piauí.