Manifestação de caminhoneiros na BR040, na altura da reducReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Caminhoneiros realizam desde o fim da tarde da quarta-feira, 8, paralisações em estradas de ao menos 14 estados, com interdições em cinco deles: Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. De acordo com o novo boletim divulgado pelo Ministério da Infraestrutura às 11h desta quinta-feira, 9, nos estados de Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Rondônia, Pará e Roraima o trânsito está liberado, mas ainda há abordagem a veículos de cargas. Em nota divulgada às 8h, a pasta afirmou que registrou 10% de redução de ocorrência desde o último boletim da madrugada.
Agora, o Rio de Janeiro e Pernambuco saíram da lista de estados afetados, mas o Mato Grosso do Sul aparece na nova relação. Ainda segundo o ministério, novos corredores logísticos essenciais foram liberados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) entre 8h e 11h desta manhã. São eles: BR-116/Bahia (Feira de Santana); BR-101/Bahia; BR-101/Sergipe ; BR-101/Pernambuco (Igarassu) ; BR-116/Rio Grande do Sul (Vacaria); e BR-392/Rio Grande do Sul (Pelotas).
A Polícia Militar de São Paulo, por intermédio do Comando de Policiamento Rodoviário (CPRv), informou que, até as 12h, 18 manifestações em rodovias paulistas foram encerradas. Segundo a corporação, neste momento, não há nenhum bloqueio ou interrupção total na malha viária estadual. Nos municípios de Bebedouro, Caraguatatuba, Franca e Teodoro Sampaio há pontos com fluxo parcial de veículos. "As forças de segurança seguem monitorando toda malha viária estadual a fim de garantir a fluidez no trânsito, a segurança e o direito de ir e vir de todos", disse a PM em nota.
Em boletim anterior, às 17h30, o ministério afirmou que a PRF negociava para liberar o fluxo nas rodovias até a meia-noite. No comunicado divulgado às 20h40, no entanto, não havia mais essa previsão. "Agentes encontram-se nos locais identificados e iniciaram o procedimento de desobstrução com a orientação de liberar todos que quiserem seguir viagem", afirmava o segundo boletim. Às 22h30, a PRF informou que havia pontos de concentração em rodovias de 16 Estados. O número foi reduzido para 15 no último informe, às 0h30.

Os bloqueios começaram durante as manifestações do 7 de Setembro convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro e seguiram durante o dia. "Ao todo, já foram debeladas 117 ocorrências com concentração de populares e tentativas de bloqueio total ou parcial de rodovias durante as últimas horas", afirmou o ministério. "A disseminação de vídeos e fotos por meio de redes sociais não necessariamente reflete o estado atual da malha rodoviária".

Em boletim, o ministério destacou que a composição das mobilizações é heterogênea, "não se limitando a demandas ligadas à categoria" e chegou a afirmar não haver previsão de que os bloqueios nas rodovias afetem o abastecimento de produtos no país. No último informe, porém, ao anunciar a liberação dos trechos na região norte de Santa Catarina disse que a mobilização no local "chegou a ameaçar" as condições de abastecimento.

As concentrações já preocupam distribuidoras de combustíveis, que temem desabastecimento de produtos como gasolina e óleo diesel. A situação mais crítica é nos Estados de Santa Catarina e Mato Grosso.

Veja os pontos onde há protesto e bloqueio por caminhoneiros nas rodovias:

RJ: Às 7h11 desta quinta-feira, 9, no Rio de Janeiro, há três pontos com registro de protestos: Campos dos Goytacazes (km 75 da BR 101, sentido Rio); Itaboraí (km 1 da BR 493, em ambos os sentidos); e na capital fluminense (km 113 da BR 040), segundo a PRF, que está presente nesses pontos. Nos locais, a Polícia Rodoviária Federal está realizando tratativas para liberação das estradas. Nesses pontos, o trânsito está fluindo mesmo com a interdição, informa a PRF.

RO: Às 7h12 desta quinta-feira, 9, em Rondônia, há seis pontos de interdição de veículos, de acordo com a última atualização da PRF-RO, sem bloqueio total de vias. São eles: em Vilhena (BR 364, km 13 ao km 14, caminhoneiros ocupando a faixa da direita, com fluxo mantido na da esquerda); Porto Velho (BR 364, km 691, bloqueio no sentido crescente, com trânsito liberado para carros de pequeno porte); Cacoal (BR 364, km 234, bloqueio no sentido crescente da via); Ji-Paraná (BR 364, próximo ao km 337, com interdição prevista para ter início às 6h); Jaci Paraná (BR 364, próximo ao km 800, com interdição prevista para ter início às 6h); Cujubim (BR 364, km 563, com interdição prevista para ter início às 6h).

RR: Até às 20h30, de quarta-feira, 8, no km 482 da BR 174, que passa pela capital de Roraima, Boa Vista, havia interdição da rodovia por manifestantes, de acordo com a PRF-RR. A corporação informa que veículos de carga perecível, carga viva, de passeio e ônibus podem transitar nos dois sentidos. A PRF está no local. Desde as 17h de quarta, ao menos 20 caminhões estavam estacionados neste ponto em protesto contra o aumento no preço dos combustíveis, em especial o diesel, e a favor do governo Bolsonaro. A ação faz parte do pacote de mobilização dos caminhoneiros pós 7 de Setembro.

A rodovia federal é a única via de acesso do Estado roraimense à Manaus (AM), e é utilizada para o envio de alimentos, combustível e outras mercadorias, de forma mais barata e por terra.

SC: Às 6h13 desta quinta-feira, 9, cinco rodovias catarinenses tinham pontos de bloqueio em diversos trechos: BR 101 (km 72 Araquari; km 353 Jaguaruna; km 375 Içara; km 402 Maracajá; km 419 Araranguá; km 451 São João do Sul); BR 208 (km 1,4 São F. do Sul; km 11 São F. do Sul; km 55 Guaramirim ; km 121 São B. Sul; km 230 Canoinhas); BR 116 (km 07 Mafra e km 138 S. Cecília); BR 470 (km 4 Navegantes; km 45 Gaspar; e km 89 Ascurra); BR 282 (km 606 Maravilha e km 646 São M. Oeste).

PR: Às 8h31 desta quinta-feira, 9, a PRF do Paraná informou que não há pontos de interdição nas rodovias do Estado, apenas "pontos de concentração de manifestantes". São eles: BR 369 (km 37, Andirá; km 79, Sta. Mariana; e km 157, Londrina); BR 373 (km 254, Guamiranga); BR 376 (km 109, Paranavaí; km 158, Mandaguaçu; km 188, Marialva; e km 504, Ponta Grossa); e BR 476 (km 285, S. Mateus do Sul).

ES: Às 8h30 desta quinta-feira, 9, a PRF do Espírito Santo informou não haver ponto de bloqueio das rodovias no Estado. Estão mantidos, no entanto, pelo menos 15 pontos de manifestação, em cinco rodovias. São eles: BR 101 (km 137, Linhares; km 181, Aracruz; km 204, João Neiva; km 214, Ibiraçu; km 247, Serra; km 306, Viana; km 372, Iconha; km 414, Itapemirim; km 426, Atílio Vivácqua; km 451, Mimoso do Sul); BR 259 (km 100, Baixo Guandu, a confirmar, segundo a PRF); BR 262 (km 17, Viana; e km 157, Ibatiba); BR 447 (km 12, Capuaba, Vila Velha); BR 482 (km 75 Alegre); e BR 482 (km 104, Guaçuí).
O que diz a categoria

Um dos líderes do movimento intitulado de Caminhoneiros Patriotas, Francisco Burgardt, conhecido como Chicão Caminhoneiro, disse que entregará um documento ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), pedindo a destituição de ministros do STF. "O povo brasileiro não aguenta mais esse momento que o país está atravessando através da forma impositiva que STF vem se posicionando. O povo brasileiro está aqui (na Esplanada dos Ministérios) buscando solução e só vamos sair daqui com solução na mão", disse Chicão, que preside União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC), em vídeo que circula pelas redes sociais.

Segundo ele, o documento também será entregue ao presidente Jair Bolsonaro. Em outro vídeo, Burgardt fala em um prazo de 24 horas para a resposta das autoridades ao pedido. Ele não foi localizado na quarta.

Diante dos protestos, a Frente Parlamentar Mista do Caminhoneiro Autônomo e Celetista enviou na quarta ofícios ao diretor-geral da PRF, ao Ministério da Infraestrutura, à Presidência da República e outros órgãos, em que pede ação imediata das forças de segurança pública para garantir o trânsito nas rodovias. A frente afirma que, em decorrência dos atos iniciados no 7 de Setembro, ainda ocorrem obstruções de trânsito em estradas federais "com madeiras, pedras e pneus".

Presidente da frente, o deputado Nereu Crispim (PSL-RS) afirmou haver "ameaça à integridade física e danos ao patrimônio com lançamento de pedras contra caminhões de caminhoneiros e transportadores e contra a nossa Constituição, no que se refere ao livre direito de ir e vir".

O fato de o ofício ter sido enviado pela Frente reforça a falta de unanimidade da categoria sobre as paralisações. Entidades que representam caminhoneiros autônomos e que chamam mobilizações a favor de demandas específicas da categoria não aderiram aos atos. Na semana passada, representantes da categoria consideravam que poderia haver presença pontual de transportadores nos atos, mas de forma isolada, sem organização associativa.

Ao menos nove entidades, entre associações, confederações e sindicatos ligados à categoria informaram ontem que não apoiam a paralisação e não estão participando dos atos.

A Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), que diz congregar cerca de 4.000 empresas de transporte e mais de 50 entidades patronais, manifestou repúdio aos bloqueios. Em nota, a entidade afirma que as paralisações poderão causar graves consequências para o abastecimento, que poderão atingir o consumidor final e o comércio de produtos de todas as naturezas, incluindo essenciais, como alimentos, medicamentos e combustíveis.

O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão, avalia que o movimento é de cunho político com participação de empresários de transporte e seus funcionários celetistas, e não de transportadores autônomos. "Os caminhoneiros estão sendo usados como massa de manobra", disse Chorão, que foi um dos principais líderes da categoria na greve de 2018. "Está claro que a pauta não é da categoria".

O diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), Carlos Dahmer, relatou ter visto alguns pontos de manifestações de caminhoneiros, "conforme era esperado" diante de manifestações de Bolsonaro. "Vimos veículos do agronegócio, como tratores e máquinas agrícolas, e a ala de patriotas apoiadores do presidente Bolsonaro. O transportador autônomo vai continuar tentando trabalhar", disse.

A CNTTL enviou recentemente ofício ao presidente do STF, Luiz Fux, repudiando atos "extremistas", as declarações do cantor Sérgio Reis e do que chamou de "pseudo lideranças" de caminhoneiros, dizendo que não compactua com atos antidemocráticos.
*Com Estadão Conteúdo