CPI da Covid ouve Raimundo Nonato Brasil, sócio da VTCLog Reprodução / Agência Senado

Brasília - A CPI da Covid ouve, nesta terça-feira, 5, o sócio da empresa de logística VTCLog, Raimundo Nonato Brasil. Durante o depoimento, o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), questionou Nonato sobre a prática de saques em dinheiros pela VTCLog e o destino do dinheiro. Em resposta, o empresário afirmou que a empresa é “familiar” e que os valores eram destinados a pagamentos da empresa e de sócios.

Calheiros também apresentou à CPI uma planilha com os valores de retiradas realizadas pela empresa. Os valores que, muitas vezes, passavam dos R$ 100 mil, eram sacados pelo motoboy da empresa, Ivanildo Gonçalves, que depôs à CPI no início de setembro. Veja:
Em seguida, Nonato também apontou que não havia saque com destino à tesouraria, mas o que sobrava de pagamentos servia como "fundo de caixa". Ele confirmou, conforme apontado pelo motoboy, que a tesoureira Zenaide ordenava ps saques que funcionários faziam e a forma de utilização dos valores, mas avaliou que "não há nada de ilegal".

O presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM) também chamou atenção para o fato de "uma empresa familiar" ter contratos de mais de R$ 400 milhões com o Ministério da Saúde.

Calheiros disse ainda que a VTCLog encaminhou uma perícia técnica sobre os saques a partir de janeiro de 2021, mas que nem todos os saques foram analisados pelo perito. Em resposta, Nonato afirmou que entregará à CPI os dados sobre os demais saques, mas não justificou a disparidade na perícia.
Relação com Roberto Ferreira Dias
Nonato disse que se reuniu poucas vezes com o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias. E nessas poucas vezes, as reuniões foram previamente agendadas e com pauta definida.

Indagado pelo relator sobre o porquê Dias tinha autorizado reajuste num contrato com a VTCLog, mesmo contrariando pareceres jurídicos da pasta, o empresário explicou que, em 1º de janeiro de 2021, o governo devia à empresa R$ 57 milhões e foi feita uma "contraproposta de um meio-termo", que acabou sendo aceita. Nonato não soube dizer por que o jurídico do Ministério da Saúde inicialmente mostrou-se contrário ao reajuste.

O sócio da VTCLog também negou ter pago qualquer tipo de vantagem ao ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias. O relator Renan Calheiros (MDB-AL), no entanto, disse que a CPI tem provas de que boletos foram pagos a favor de Dias. O parlamentar lembrou ainda que, no dia 24 de junho de 2021, o ministério pagou R$ 62,4 milhões à VTCLog e na mesma data foram pagos boletos de R$ 13 mil ao ex-diretor.

Como justificativa para os depósitos, Nonato alegou que Roberto Dias era cliente da Voetur, outra empresa do grupo. Assista:
“O processo é o inverso, ele teve pago um compromisso dele pela empresa. É diferente, na prática, ele recebeu”, afirmou o relator.
Nonato também negou à comissão manter relação pessoal com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).
Foi Barros, durante seu tempo como ministro da Saúde no governo Michel Temer, quem decidiu contratar a VTCLog. O contrato foi fechado a partir de 2018, após ter fechado, no Rio de Janeiro, a Central Nacional de Armazenagem e Distribuição de Imunobiológicos (Cenadi), responsável pela logística do Ministério da Saúde.

VTCLog e Voetur Cargas

Durante a fala sobre os pagamentos feitos à Ferreira Dias, Nonato foi questionado pelo vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), sobre a composição da empresa. Segundo Nonato, VTCLog já se chamou Voetur Cargas, e por isso as duas têm o mesmo CNPJ. A mudança de nome ocorreu para não haver confusão com a Voetur Turismo, outra empresa do mesmo grupo, que possui CNPJ diferente, disse o depoente.
Nonato disse ser sócio apenas da VTCLog, não tendo nenhuma relação com a empresa de turismo, que faz parte do grupo.
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