Queiroga promete mais testesWalterson Rosa

Brasília - O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou nesta segunda-feira, 3, que as doses para vacinação das crianças entre 5 e 11 anos contra a covid-19 só irão chegar a partir da segunda quinzena deste mês. Com isso, o responsável pela pasta mudou a previsão, já que, no último dia do ano de 2021, ele disse que a imunização dessa faixa etária estava confirmada para começar na primeira quinzena. 
Com a chegada dos imunizantes, as doses precisam passar por um processo de segurança. Por isso, ainda não há um cronograma definido.
"Na segunda quinzena de janeiro, as vacinas (para crianças) começam a chegar e serão distribuídas, como nós temos distribuído", disse ele.
O ministro também afirmou que o Brasil será "um dos primeiros países a distribuir vacinas para crianças". "Em relação a essa questão das crianças, ao contrário da narrativa, que é dissolvida pelos fatos, nós vamos ser um dos primeiros países a distribuir vacinas para as crianças", afirmou.
No entanto, pelo menos 31 países já tiveram início na imunização dessa faixa etária. Entre eles estão Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, França, Estados Unidos e Israel.
Vacinação das crianças
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a vacina da Pfizer para a faixa etária de 5 a 11 anos desde o dia 16 de dezembro. No entanto, o governo criou barreiras para iniciar a imunização, afirmando que não há urgência. Queiroga afirmou que seria necessário ouvir a sociedade civil e especialistas sobre a aplicação do imunizante, mesmo tendo sido aprovado no órgão regulador brasileiro.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) já fez várias críticas sobre a vacinação das crianças. Ele acredita haver uma "desconfiança" e "interrogação enorme" em relação aos supostos efeitos colaterais na aplicação dos imunizantes nessa faixa etária. Em um episódio, ele afirmou que iria divulgar os nomes dos técnicos da Anvisa que aprovaram o uso da vacina da Pfizer para crianças. Ele disse que pediu a lista de forma "extra-oficial" para que "todos tomem conhecimento" dos responsáveis pela aprovação. 
"Anvisa diz que os pais sejam orientados a procurar médico se a criança apresentar dores repentinas, falta de ar. Vocês têm o direito de saber o nome das pessoas que aprovaram a vacina a partir de 5 anos para seus filhos. Você decide se compensa ou não", disse Bolsonaro. O presidente disse também que não irá vacinar a filha, Laura, que tem 11 anos. 
Diante dos impasses, o ministro da Saúde disse que a pasta iria realizar uma consulta pública sobre o tema, que durou do dia 23 de dezembro até este domingo, sobre a imunização da faixa etária. Queiroga também disse que as crianças precisariam de prescrição médica para a aplicação do imunizante. Especialistas fizeram várias críticas sobre a consulta pública e a necessidade de documento para a vacinação, além da autorização dos pais.
Nesta segunda-feira, o ministro da Saúde ressaltou que a consulta pública não foi um "plebiscito" e "referendo", mas sim tinha o objetivo de "oferecer aos pais as informações necessárias".
"Nem é referendo, nem plebiscito. É uma consulta pública, seguida de uma audiência pública onde os especialistas das diversas correntes vão poder discutir para a sociedade tomar conhecimento. O objetivo disso, qual é? Oferecer aos pais as informações necessárias para que eles possam tomar as melhores decisões para os seus filhos", disse ele.
No fim do mês passado, uma nota técnica da secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19, Rosana Leite de Melo, enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), afirma que a vacina contra o vírus para crianças de 5 a 11 anos é segura.
"Antes de recomendar a vacinação [contra a] Covid-19 para crianças, os cientistas realizaram testes clínicos com milhares de crianças e nenhuma preocupação séria de segurança foi identificada", afirmou Rosana, em nota técnica.
Rosana afirmou ainda que a análise técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi feita de "forma rigorosa e com toda a cautela necessária". "As vacinas [contra a] Covid-19 estão sendo monitoradas quanto à segurança com o programa de monitoramento de segurança mais abrangente e intenso da história do Brasil", disse no documento.
Na sexta-feira, 31, a pasta afirmou em nota que sua recomendação é "pela inclusão da vacinação em crianças de 5 a 11 anos no Plano Nacional de Operacionalização das Vacinas Contra a covid-19". "No dia 5 de janeiro, após ouvir a sociedade, a pasta formalizará sua decisão e, mantida a recomendação, a imunização desta faixa etária deve iniciar ainda em janeiro", informou o ministério.
O ministro do STF, Ricardo Lewandowski, ampliou o prazo para o governo federal se manifestar sobre a atualização do Programa Nacional de Imunização (PNI) para vacinar crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19 antes da volta às aulas no primeiro semestre de 2022. A resposta poderá ser enviada até quarta-feira, 5 - o período inicial era de 48 horas.