No Brasil, prevenção da violência contra a mulher será incluída nos currículos da educação básica. É o que determina a Lei 14.164, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro em meados deste ano Reprodução

São Paulo - O Ministério Público de São Paulo quer ouvir os depoimentos de mais duas mulheres que afirmam ter sido vítimas de violência sexual pelo médico obstetra Renato Kalil. Uma delas trabalhou como babá na casa de Kalil em 2013 e outra é uma ex-paciente. Ambas concederam uma entrevista ao "Fantástico" último domingo, 9. Kalil é investigado pela Polícia Civil e pelo MP-SP.

Após o vazamento de áudios da influenciadora digital Shantal Verdelho em dezembro do ano passado, mais sete pacientes e funcionárias vieram a público e realizaram denúncias contra o obstetra. Os primeiros relatos acusavam Kalil de violência obstétrica durante o parto e consultas e também há relatos de violência sexual.
De acordo com informações de 'O Globo', nem todas as mulheres foram ouvidas pelo MP porque parte da investigação tem sido conduzida pela Polícia Civil e compartilhada com as promotoras do caso. Shantal e o marido, por exemplo, foram ouvidos até agora apenas pelos policiais civis. O Ministério Público vai analisar a coleta de provas e o conteúdo dos depoimentos para verificar se eles são suficientes ou se ainda precisarão de mais complementos.
Relatos de violência sexual
Luciane, que trabalhou como babá na casa de Kalil em 2013 e contou que, por diversas vezes, foi vítima de tentativas de abuso por parte do médico. "Ele falava que me achava bonita, passava a mão no meu cabelo, tentava me agarrar, me beijar, passava mão. Normalmente eu conseguia sair."

Segundo a autônoma, em todos os episódios o médico estava vestido apenas com uma cueca. "Uma vez que ele tentou realmente forçar alguma coisa, eu falei que eu ia gritar porque tinha outras pessoas na casa. Quando eu falei pra ele que eu estava grávida, foi quando eles me demitiram. Mas antes disso ele tentou me agarrar e falava: 'Deixa eu ver se realmente você está grávida', e tentava pôr a mão em mim".

Uma professora que prefere não se identificar também afirma ter sido abusada pelo médico durante uma consulta, quando ela tinha 17 anos. "Na hora que ele começou a me apalpar nos seios, que até então era um procedimento corriqueiro do ginecologista. Ele pegou minha mão e colocou no pênis dele. E eu percebi que aquilo não era normal, óbvio, né? E eu levantei da maca transtornada, me vesti e sai gritando do consultório dele, que ele era um louco. E obviamente nunca mais retornei."
A professora diz que conviveu por anos com a história em sigilo, sem contar a ninguém porque tinha vergonha e medo de ser desacreditada. "Até então, sinceramente, eu achava que tinha sido a única abusada por ele. Eu não imaginava que tinham todos esses casos. Na hora que eu vi o caso da Shantal, eu fiquei com muita raiva dele. Voltou aquela sensação que eu tive por muitos anos."
Entenda o caso

O caso começou em em de dezembro de 2021, quando vazaram um áudio de Shantal Verdelho alegando ter sido vítima de violência obstétrica durante o parto de Domenica. Após a repercussão, a influenciadora registrou um boletim de ocorrência contra Renato Kalil por violência obstétrica. Após Shantal, outras mulheres vieram a público denunciar o médico. A jornalista Samantha Pearson, por exemplo, definiu o contato com o ginecologista como "traumatizante". À época, em comunicado à imprensa, o ginecologista negou as acusações. O caso está sendo investigado pelo 27º Distrito Policial, localizado na zona Sul de São Paulo.