Post enganoso: não se pode dizer que morte de menino teve relação com vacinaArte/Comprova

Brasil - É enganosa a publicação que atribui a morte de um jovem à vacinação contra covid-19. A Secretaria de Saúde de São Paulo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a prefeitura de Jundiaí (SP), onde o rapaz foi atendido, informaram que a causa da morte ainda é investigada.*
Conteúdo verificado: Publicação que atribui a morte de um jovem de 20 anos de Jundiaí (SP) à vacinação contra a covid-19.

Onde foi publicado: Twitter

Conclusão do Comprova: A publicação sobre a morte de Guilherme Rian Barbosa Gomes, 20 anos, engana ao afirmar que o jovem faleceu em decorrência da vacina contra o coronavírus. As agências de saúde esclareceram que o caso ainda está sob investigação. A suspeita foi levantada pelo padrasto de Guilherme. O homem compartilhou vídeos em que diz que o enteado teve uma crise epiléptica após a aplicação da primeira dose da Pfizer. O mesmo teria acontecido depois da segunda.

Procurado pelo Comprova, o homem afirmou que não comentaria sobre o caso do enteado, a pedido da mãe do menino.

Ao Comprova, a prefeitura de Jundiaí informou que o caso está sob investigação. O mesmo foi dito pela Secretaria de Saúde de São Paulo. A Anvisa, que também analisa o ocorrido, afirmou que outros eventos adversos foram relatados neste óbito, contudo, o órgão não especificou quais seriam e informou que ainda não concluiu a investigação. O Ministério da Saúde também acompanha o caso. Procurada, a Pfizer disse desconhecer o caso em questão.

Enganoso para o Comprova é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações, confundindo o público, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

O que diz o autor da publicação: A equipe entrou em contato com a autora da postagem por uma conta no Instagram. O perfil no Twitter, onde foi feita publicação, não permite o envio de mensagens. Não houve retorno até a publicação.

Como verificamos: A partir da publicação do Twitter, o Comprova localizou o perfil no Instagram do padrasto de Guilherme, Moises Aparecido Rodrigues, que, desde dezembro de 2021, compartilha na rede social o quadro de saúde do enteado.

A equipe entrou em contato com a Anvisa, Pfizer, Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, Prefeitura de Jundiaí e o Hospital São Vicente de Paulo, onde o jovem foi internado, para entender se o caso está sendo apurado e o que causou a morte de Guilherme.

O padrasto de Guilherme também foi procurado pelo Comprova. No entanto, ele preferiu não dar detalhes sobre o caso.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de março de 2022.

Morte de Guilherme
Fazendo uma busca pelo perfil do padrasto, descobrimos que, após receber a primeira dose da Pfizer em 26 de agosto de 2021, Guilherme sofreu alguns episódios de convulsão, foi internado, mas se recuperou.

Em 30 de novembro do ano passado, cinco dias após receber a segunda dose, o rapaz teve crises de epilepsia e foi internado na UTI do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo, em Jundiaí (SP) no dia 2 de dezembro. Lá, Guilherme faleceu em 10 de março de 2022.

O Comprova não teve acesso ao atestado de óbito do rapaz. Nem a família, nem o hospital repassaram a informação sobre a causa da morte.

Investigação em andamento
Questionado sobre o atendimento e óbito de Guilherme, o Hospital São Vicente de Paulo informou que, em razão da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), não é possível fornecer dados de pacientes ou detalhes de tratamentos ministrados.

Porém, segundo o hospital, não há evidências médicas, no âmbito dos tratamentos ministrados pelo São Vicente de Paulo, de morte causada por efeitos adversos da vacina contra a covid-19.

Ao Comprova, a prefeitura de Jundiaí informou que realiza a investigação epidemiológica do caso de Guilherme por meio da Unidade de Gestão de Promoção da Saúde (UGPS). Posteriormente, a apuração será encaminhada à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, órgão responsável pela conclusão da análise e, caso necessário, ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS).

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) está acompanhando e analisará a ocorrência de Jundiaí. A pasta informou que todos os casos de eventos adversos são analisados por uma comissão de especialistas antes de qualquer confirmação e ressaltou a segurança e eficácia das vacinas.

“É, portanto, precipitado e irresponsável afirmar que o caso do município está associado à vacinação. Na maioria das vezes, os casos de eventos adversos pós-vacinação são coincidentes, sem qualquer relação causal com o imunizante”, afirmou, em nota.

Já a Anvisa foi notificada sobre a morte, mas informou que até o momento não foram divulgadas evidências que comprovem a relação do óbito com a vacinação. O caso segue em investigação, segundo o órgão.

Procurado, o Ministério da Saúde declarou que o caso é investigado pelas secretarias de saúde do município e do Estado.

“Todos os Eventos Adversos Pós-Vacinação (EAPV) graves (deste caso) ainda estão em investigação pelas vigilâncias de EAPV municipais e estaduais e, até o momento, nenhum deles têm relação causal confirmada com as vacinas covid-19 utilizadas”, disse.

Mortes por efeitos adversos
A Pfizer informou que não foi notificada sobre o óbito em Jundiaí e que a empresa realiza o monitoramento dos relatos recebidos de eventos adversos do produto, mantendo sempre informadas as autoridades sanitárias brasileiras.

Conforme a farmacêutica, todas reações adversas observadas em estudos clínicos e pós comercialização estão disponibilizadas na bula do imunizante e não há alertas de gravidade em segurança, de forma que os benefícios da vacinação seguem sobrepondo-se a qualquer potencial risco.

Por que investigamos: O Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagem sobre a pandemia de covid-19, eleições e políticas públicas do governo federal. Conteúdos que associam a vacina a óbitos de forma infundada contribuem para descredibilizar a segurança e efetividade dos imunizantes. Isso pode desestimular o processo de vacinação da população, principal medida para combater a proliferação do vírus.

Alcance da publicação: A publicação verificada teve mais de 2 mil interações até o dia 16 de março.

Outras checagens sobre o tema: Em verificações anteriores, o Comprova mostrou ser enganoso um post que relacionava a morte de uma criança com Coronavac, que não há registro de mortes de crianças causadas por vacinas contra a covid-19 no Brasil e que não há comprovação que a morte de um adolescente em Arujá (SP) tem relação com a vacina. Além disso, no início deste ano, o Comprova também explicou por que eventos adversos graves pós-vacinação contra a covid-19 são raros e os benefícios da imunização superam os riscos.
*Conteúdo ivnestigado por NSC Comunicação, Plural Curitiba e CNN Brasil. E verificado por Estadão, Correio Braziliense, Nexo, O Popular, Metrópoles, SBT e SBT News.