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Brasília - Na semana que o escândalo de que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi orientado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) a priorizar municípios indicados por dois pastores para o repasse de verbas públicas, o chefe do Executivo decidiu lançar a sua campanha para pré-candidatura à presidência do país. No próximo domingo, 27, o mandatário participará de um evento de filiação em massa em Brasília, que inicialmente foi divulgado como um encontro para o lançamento da sua pré-candidatura à presidência da República.
Na noite de segunda-feira, 21, o senador e filho do chefe de Estado, Flávio Bolsonaro (PL), utilizou seu perfil no Twitter para convocar os apoiadores do mandatário a comparecerem para a “grande festa de lançamento da pré-candidatura à presidência da República de Jair Messias Bolsonaro", que teria “um grande recado à nação”. No vídeo, o parlamentar chega a pedir que as pessoas utilizem camisas do Brasil ou coloquem bandeiras do país nas janelas e varandas, caso não possam ir ao evento.
O Partido Liberal (PL) seguiu a mesma mensagem de Flávio e enviou, nesta terça-feira, 22, um convite à imprensa com o título "Lançamento da pré-candidatura do presidente Bolsonaro". No entanto, depois da divulgação em diferentes meios de comunicação, a legenda precisou reestruturar o ato, pois a lei proíbe campanhas eleitorais antes de 16 de agosto. Para evitar acusações de campanha antecipada, a sigla resolveu transformar o evento em uma filiação em massa, que passou a se chamar "Movimento Filia Brasil - É com ele que eu vou".
"A lei eleitoral não fala de pré-lançamento de campanhas, não existe nenhuma norma sobre isso. O evento do PL tinha sido pensado para ser algo desse jeito, mas, por não ter previsão legal, eles preferiram mudar o escopo do evento para atender o que já existe na lei, que é o evento de filiação partidária, que é permitido", afirmou a advogada Caroline Lacerda, sócia do escritório de Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, que atende à campanha de Bolsonaro.
"Por isso fizeram a modificação. Poderia dar algum problema jurídico. É uma cautela para que fiquem totalmente amparados pela lei", acrescentou a defensora.
Se seguir o mesmo modelo que já vem utilizando em compromissos, o encontro terá atividades com forte viés eleitoral e críticas aos outros pré-candidatos.
O PL tem apostado em filiações em massa de aliados de Bolsonaro para dar volume à entrada de novos quadros ao partido. No último sábado, o filho "Zero Três" do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP), assinou sua ficha de filiação junto à colega de Câmara Federal Bia Kicis (DF). Na quarta-feira anterior, quem entrou no PL foi Carla Zambelli, da tropa de choque do governo no Congresso.

Municípios priorizados
A pré-candidatura de Bolsonaro acontece em um momento conturbado. Nesta segunda-feira, 21, a Folha de São Paulo revelou áudios do ministro da Educação, Milton Ribeiro, em que ele afirmava que teria sido orientado por Bolsonaro a priorizar municípios indicados por dois pastores da Assembleia de Deus, Gilmar Santos e Arilton Moura, para o repasse de verbas públicas.
“A minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar", afirmou Ribeiro, que seguiu: "Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar".
A gravação foi feita durante uma reunião com prefeitos em que Gilmar e Arilton estavam presentes. Apesar de não terem cargos no governo, os dois participaram de várias reuniões com autoridades nos últimos anos.
O ministro chega a falar que há contrapartidas para o repasse, mas não detalha quais.
"Então, o apoio que a gente pede não é segredo. Isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas", afirmou Ribeiro.
Na semana passada, o Estadão já havia noticiado a existência de um gabinete paralelo de pastores que serviria para controlar as verbas e agenda do ministério da Educação. Segundo o jornal, desde 2021, a pasta empenhou ou executou pagamentos de R$ 9,7 milhões nos dias seguintes aos encontros com os pastores.
Desde a sua campanha eleitoral em 2018, Bolsonaro não esconde seu objetivo de montar um governo com forte presença de evangélicos, grupo essencial para a candidatura do mandatário.