Postagem distorce declaração de diretora da Pfizer para enganar sobre segurança das vacinasArte/Comprova
Onde foi publicado: TikTok.
Conclusão do Comprova: É enganosa a fala do político e advogado croata Mislav Kolakusic, que sugere ineficácia da vacinação contra a covid-19 na redução do número de mortes em decorrência da doença, chamando as vacinas de “fake”. A declaração é repercutida em uma postagem que circula no TikTok, que insere sobre o vídeo os dizeres: “Pfizer admite crime mundial”.
Kolakusic distorce uma declaração dada pela executiva da farmacêutica Pfizer Janine Small ao Parlamento Europeu, no dia 10 de outubro. Na ocasião, Janine declarou que a empresa só não fez testes, antes de a vacina ser disponibilizada, no que dizia respeito ao impacto sobre a transmissão do coronavírus entre humanos.
Em relação às mortes, Janine cita o oposto do que sugere o croata, e menciona estudo do Imperial College of London, publicado em junho de 2022, que estimou uma redução de 19,8 milhões de mortes por covid-19 em todo o mundo devido à vacinação. O trecho não aparece na postagem verificada.
Além desses dados, o Comprova buscou informações em sites da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e da Office for National Statistics (ONS), do Reino Unido, que reforçam a eficácia das vacinas contra mortes por covid-19.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: Até o dia 11 de novembro, a publicação tinha 40,4 mil curtidas, além de 2.118 comentários e 22,2 mil compartilhamentos.
O que diz o responsável pela publicação: Não foi possível fazer contato com o autor da publicação, pois o TikTok não permite troca de mensagens entre contas que não se seguem mutuamente. Buscas por perfil semelhante foram feitas em outras plataformas, como Twitter e Facebook, mas sem sucesso. No Instagram, um perfil com a mesma descrição foi identificado, no entanto, a conta não permite envio direto de mensagem. Apesar da semelhança na descrição do usuário, as contas possuem conteúdos diferenciados e não há elementos que permitam inferir que ambas pertencem à mesma pessoa.
Como verificamos: A postagem verificada é um vídeo em que um homem cita uma declaração de uma executiva da Pfizer, que foi feita ao político holandês e membro do Parlamento Europeu Rob Roos. Busca no Google com os termos “rob roos interview pfizer director vaccine” levou a um vídeo na página de Roos no Facebook em que ele repercute a declaração. A partir do material, foi possível localizar a íntegra da audiência no site do Parlamento Europeu, compreender seu contexto, além de identificar os principais envolvidos.
A postagem verificada traz a inscrição do canal do Telegram do qual o vídeo foi retirado. No Twitter do mesmo canal, foi possível localizar uma publicação com o mesmo vídeo em um formato que permitiu a leitura do nome do homem que faz a afirmação enganosa: Mislav Kolakusic, representante da Croácia no Parlamento Europeu.
Além da declaração da executiva da Pfizer, ele cita, superficialmente, dados do National Health Service (NHS), na Inglaterra. O Comprova fez contato com o NHS, mas não obteve retorno até o fechamento desta verificação. No entanto, pesquisas nos sites da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), do Imperial College of London e da Office for National Statistics (ONS), do Reino Unido, confirmam a efetividade da vacina na prevenção de mortes por covid-19, contrariando o que sugere Mislav Kolakusic na postagem enganosa.
Fala de executiva da Pfizer não tem relação com eficácia da vacina contra covid-19
À Rob Roos, Janine Small afirma (a partir de 15:31:44) que não foram feitos testes em relação a uma eventual quebra da cadeia de transmissão do coronavírus antes de a vacina da Pfizer ser disponibilizada ao mercado. Em sua página no Facebook, Roos utiliza apenas um trecho da resposta para criticar o passaporte vacinal, implementado em diversos países sob a justificativa de que, ao se vacinar, a proteção era conferida também ao próximo.
À resposta de Janine Small, Mislav Kolakusic acrescenta, em outra ocasião e sem maiores detalhes, que dados da NHS England mostram não haver diferença entre infecções e mortes por covid-19 entre quem foi vacinado com até quatro doses e não vacinados. A afirmação foi compartilhada por Kolakusic no Twitter. Com isso, o croata chama as vacinas de “fake” e pede a interrupção da compra de mais doses, reembolso do que já foi pago e que as farmacêuticas e laboratórios sejam processados.
Dados mostram que vacinados morrem menos
Outro dado que se contrapõe à afirmação do político croata é o do Office for National Statistics (ONS), órgão oficial do Reino Unido. A análise das mortes entre 1 de janeiro de 2021 e 31 de maio de 2022 na Inglaterra por covid-19, de acordo com status vacinal, mostra duas principais conclusões:
- Redução consistente de mortes a cada mês após a introdução da terceira dose em setembro de 2021, na comparação entre vacinados com a terceira ou quarta dose e não vacinados ou vacinados com uma ou duas doses.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. O vídeo verificado nega a eficácia empiricamente comprovada da utilização dos imunizantes contra a covid-19, inclusive na redução do número de óbitos e de manifestações mais graves da doença, reforçando discurso negacionista disseminado de diferentes formas em diversas partes do mundo. Em casos assim, a desinformação pode colocar a vida das pessoas em risco.
Outras checagens sobre o tema: Também investigada pelo UOL Verifica, a declaração do croata Mislav Kolakusic foi apontada como distorcida.
Sobre a pandemia, o Projeto Comprova também investigou que é enganoso que vacinação em crianças no Reino Unido foi interrompida devido a aumento de mortes; que órgão de saúde dos EUA não incluiu ivermectina entre terapias contra covid-19; que a morte de seis médicos canadenses não tem relação com o imunizante e que são falsas as alegações de médica que trata vacinação da covid em crianças como “assassinato em massa”.
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